Fausto
Teatro da Garagem
Johann Wolfgang Von Goethe trabalhou 60 anos da sua vida na obra Fausto. O que é que leva uma pessoa a dedicar 60 anos da sua vida a uma tarefa? Que queria Goethe com este projecto desmesurado? Salvar a humanidade do seu destino inexorável, trágico, fatídico; repleto de interjeições, mistérios, sobressaltos? Que absoluto busca Goethe? Que podemos aprender com ele?
Muita coisa: o deslumbramento do mundo, da sua multiplicidade, da sua riqueza; de macro a micro e vice-versa; da inelutável fertilidade que contrapõe ao fim o início, como se a morte estivesse colada à acção e ao desejo; como se (re)nascêssemos dessa guerra de Tróia revisitada: matar o adversário é possuí-lo , é amá-lo e conhecê-lo, é comê-lo para o homenagear e para garantir a posse das suas qualidades.
Viveremos sempre da aniquilação, subjugação, colonização de um outro?
É uma ideia insuportável e ainda assim, continuamos; Goethe continuaria mais 60 anos se o pudesse.
E por fim, a revelação.
A de não restar outra possibilidade que a do progresso nos explodir nas mãos, como dispositivos armadilhados: pagers, telemóveis, walkie-talkies, painéis solares; crashes vários, num complô de explosões simultâneas, que nos reduz à ínfima condição de gente nua e assustada, tal e qual a serie televisiva de grande sucesso, só que sem espectadores, nem cenário exótico, já que estamos todos nus e assustados.
Carlos J. Pessoa
Ficha técnica:
Teatro da Garagem. Johann Wolfgang Von Goethe, texto; Carlos J. Pessoa, encenação; André Pardal, Ana Lúcia Palminha e Nidia Cardoso, interpretação.
Local: