Juventude Inquieta

Era já um cidadão empenhado e crítico, com um passado de opositor antifascista em vários movimentos estudantis, quando, em 1959, e depois de se ver recusado por todas as editoras, Augusto Abelaira (1926-2003) colocou no prelo, em edição de autor, o seu primeiro romance, A Cidade das Flores. Protagonizando esse romance de estreia, passado em Florença durante o regime de Mussolini, está um grupo de jovens idealistas confrontando-se com a terrível marcha desses tempos sombrios. Evidentemente, ao falar da juventude dos anos 30 em Itália, Abelaira apontava o dedo ao salazarismo e falava de uma juventude que era a sua (embora, à data, tivesse já 33 anos), e que se debateu com as inevitáveis contradições entre a impulsividade juvenil e os alicerces políticos, sociais e consuetudinários do regime.

Mais de seis décadas depois, este livro inspira o novo trabalho de Joana Craveiro, concebido em cocriação com os intérpretes de várias gerações que aqui reúne, recusando a previsão de Abelaira que, em 1961, confessava ter a “esperança de que, dentro de 50 anos, A Cidade das Flores já não [seria] lida”.

Afinal, as questões colocadas pelos jovens do romance são aquelas que, quando se recusa o conformismo, continuam a tornar inquieta a juventude de todas as gerações: “como se avança daqui para a frente? Como se combate a ascensão dos velhos e novos fascismos? Haverá uma cidade das flores que nos espera?” FB

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