Miguel Marquês
Echoes of a distant time

É difícil encontrar vestígios de vida humana nestas fotografias de Miguel Marquês e, contudo, a atracção que o cenário pós-apocalíptico do edifício inacabado no Prior Velho inspirou no fotógrafo assinala precisamente que o betão armado que vemos nas imagens, o namoro do lugar lúgubre, a repetição, dão conta de um género de fixação a que apenas a nossa espécie está sujeita.
Miguel Marquês anda por ali (enquanto humano) e parece à procura, parece à beira de encontrar alguma coisa. Dir-se-ia que procura alguém, um sinal de vida, uma inscrição. Parecendo-se, por vezes, com fotografia de arquitectura, as imagens das fundações do edifício são anti-arquitectura, porque Miguel se deixou prender por aquilo que é prévio à nossa ocupação.
Talvez aquilo que move o fotógrafo seja menos a história do que a promessa da história. Para que serviria aquele lugar? Qual viria a ser o aspecto da sua ocupação — e as caras e vozes dos seus ocupantes?
É o inacabamento da estrutura que prende o fotógrafo, ocasionais derrames, vislumbres de espécies botânicas infestantes, que brotam espontaneamente devido ao contacto do edifício com a natureza, que o vai deteriorando e naturalizando. Mesmo que diante do colosso fôssemos levados a pensar que aquelas paredes estarão erguidas no Prior Velho ao longo de séculos, e que apenas virão abaixo por intervenção humana, as imagens de Miguel Marquês dão conta do modo como a natureza toma conta de todos os nossos despojos.
Por estranho que pareça, o edifício abandonado é, hoje, porventura, um albergue de animais de rua e de pessoas sem casa: a sua aridez não impede que o tomemos como uma estalagem de porta aberta. Quem ali se acoitará da chuva? (…)
Djaimilia Pereira de Almeida
Terça a sábado, das 14h às 19h
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