Netos de Gungunhana

A partir das mais de 1200 páginas da “trilogia moçambicana” de Mia Couto As Areias do Imperador, o Teatro O Bando e um elenco de atores portugueses, brasileiros e africanos uniram-se para “uma reflexão sobre o mundo de hoje” a partir da “figura mitológica” do último imperador do então denominado Estado de Gaza, Gungunhana, conforme ficou conhecido pelos portugueses.

À sombra da copa de uma árvore que extravasa do palco para a plateia, vários netos do imperador (e presume-se que ele tenha tido mais de 300) reúnem-se numa conferência conduzida em inglês (língua franca ou forma de imperialismo?). Porém, cada neto depressa se liberta do protocolo linguístico e passa a expressar-se no “português colonial”. Mas, com ele, surge o sotaque e formas idiomáticas, traços de riqueza identitária de cada individuo que nenhuma forma de colonização pode liquidar.

Dessa riqueza da palavra e, consequentemente, da expressão do pensar e do sentir, contam-se as histórias do derrotado senhor da guerra Gungunhana, da jovem e sofrida Imani e do sargento português Germano Melo que por ela se enamorou.

[texto de Frederico Bernardino-ACL]

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