Noite Fechada

Nos últimos anos, o singular percurso de Mónica Calle no teatro português fica marcado por um paulatino abandono do texto, num processo que ganhou forma em Ensaio para uma cartografia e se acentuou em Carta (estreado na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II em janeiro deste ano, mas subitamente interrompido pelo segundo confinamento).

Noite Fechada, primeiro espetáculo do díptico Caminho Para a Meia-Noite, é o regresso à palavra dita e ao ambiente intimista que caracterizava a antiga Casa Conveniente, tomando como ponto de partida Poe e o Corvo, peça pouco divulgada de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007), e a experiência de uma peregrinação de 26 dias a Santiago de Compostela, empreendida por Calle, Mónica Garnel e Inês Vaz, coautoras e intérpretes deste projeto.

Naquilo que a autora define como um Caminho “de fé” (ou de recuperação da fé, se atendermos aos trabalhos desenvolvidos na última década), já ensaiado em setembro passado numa criação site-specific para a bienal BoCA numa praia naturista da Costa da Caparica, Calle reflete “sobre identidade e representação” feminina, povoando-ode referências à história do Teatro e a “personagens arquetípicas transmutantes e personagens reais”.

Noite Fechada marca também o regresso de Mónica Calle ao Teatro do Bairro Alto, palco onde se estreou num pequeno papel, em 1988, na encenação de Rui Mendes para a Cornucópia de As Três Irmãs, de Anton Tchekov. FB

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