Pedro Paiva

Na peça [Em Frente da Porta do Lado de Fora], Beckmann, o homem-espantalho que «regressa à Alemanha» depois da guerra, é o centro, afirmativo e paradoxal, que absorve todas as outras figuras (porque é nos fundos mais fundos da sua consciência onírica que tudo acontece), das mais quotidianas às mais transcendentes.

Entre estas contam-se o «Varredor» que representa a Morte, que também já foi o «General», e é agora a inseparável e inevitável companheira de quem não vê sentido naquele mundo de escombros das ruas e da alma, e encontra refúgio nas águas do rio Elba, a que se entrega e de onde renasce para continuar um diálogo de surdos post mortem; ou o «Velho» que dá corpo a um Deus que para nada serve nem a nada responde, porque, como já desde Nietzsche se sabia, «está morto».

João Barrento

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