Pedro Pascoinho
Res
(…) O orifício da camara obscura, conhecida desde a Antiguidade e desenvolvida no Renascimento, e depois da máquina fotográfica, marcou o começo do olhar o mundo de modo intimista, quer dizer, fraccionado e solitário. O local por onde o artista espreita assinala um posicionamento da relação privada com o que deseja ver.
E continuamos, portanto, na matriz do fotográfico. Os desenhos de Pedro Pascoinho incorporam esta matriz. Num lance rápido de vista, poderíamos estar a ver fotografias de um álbum perdido no tempo. Mas surge um novo problema.
As fotografias do século XIX procuraram formalmente e no seu rigor de enquadramento, composição e equilíbrio, imitar a pintura, ou seja, o referente imagético mais antigo, na crença de uma certa legitimação artística. As magníficas fotografias, logo em meados do século XIX, de William Fox Talbot, Gustave Le Gray, Félix Nadar, Étienne Carjat, Mathew Brady ou Margaret Cameron, materializam esta procura. Mas os desenhos rigorosos de Pedro Pascoinho apresentam, todavia, uma figuração desenquadrada, visível em objectos cortados, pormenores ampliados, corpos com cabeças omissas ou animais pela metade.
Este aspecto é absolutamente inquietante e disruptivo, precisamente porque aborta qualquer hipótese de uma figuração classicista, para cuja possibilidade uma visão inicial podia pender.
Assim, resta-nos o intimismo do olhar, a perplexidadade do silêncio, a dificuldade de circunscrever, até porque tudo abre ainda para um fora de campo ao prolongar os objectos indefinidamente no espaço. Fica a beleza poética da imagem no seu mistério, complexidade e virtuosismo.
Isabel Nogueira
A imagem como intimidade e mistério / texto de exposição (excerto)
Terça a sábado, das 14h às 19h
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