Quem Matou o Meu Pai

No retorno a casa, na região da Picardia, na França rural, empobrecida e cinzenta, Édouard Louis, o autor e narrador, reencontra o pai, um operário com pouco mais de 50 anos, precocemente envelhecido e “a quem a política reserva uma morte precoce”. Aquele homem, símbolo de uma virilidade cruel e violenta que durante anos se abatera sobre o filho “diferente”, ou que hoje adjetivaríamos como “não normativo”, mostra-se agora vulnerável, reflexo de uma vida marcada pelo trabalho árduo, pela privação social e pelo álcool. A partir deste reencontro, Louis, uma das vozes mais relevantes das letras francesas, combina magistralmente os sentimentos e as emoções com a crítica feroz ao sistema capitalista e à elite política francesa que trai recorrentemente as expetativas dos mais pobres.

O dramaturgo, encenador e ator Luís Mestre, diretor da companhia portuense Teatro Nova Europa, revisita agora este poderoso texto, um par de anos depois de Ivo van Hove o ter levado a cena num espetáculo marcante que passou pelo Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito do Festival de Almada. [texto: Frederico Bernardino/Agenda Cultural de Lisboa, janeiro 2025]

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