Sandra Baía
Wild urbanity
Se há uma coisa que nos seduz nas obras de Sandra Baía, é como em muitas ocasiões consegue apelar a todos os sentidos ao mesmo tempo. O seu domínio da escala, o seu sentido de orientação e equilíbrio, a sua relação com o contexto que acolhe a obra, a procura do deslocamento do espectador e a dimensão do tempo, a cuidadosa iluminação, as suas deceções visuais a partir do plástico, o envolvimento do som ou a eloquência dos seus silêncios e como é capaz de fundir a perceção com a memória e a imaginação, permitem que cada uma das suas exposições seja uma experiência atmosférica que necessita de pouco mais indução intelectual do que a nossa própria sensibilidade emocional.
Sandra Baía conseguiu nos últimos anos proporcionar com as suas obras o que Constantin Brancusi associou ao impacto da vida: a sensação de respirar. Por outras palavras, consegue imaginar situações e espaços, objetos ou pinturas, capazes de evocar uma realidade imaginativa semelhante a uma experiência real.
Na exposição Wild Urbanity, na Galeria Filomena Soares, a artista introduz-nos a uma ficção arqueológica e urbanística, ligando-nos à arquitetura do espaço expositivo, mas também à arquitetura e à paisagem urbana em geral, com a sua memória, quando se torna um enigma do que foi e assume uma condição especular, entre o que é revelado e o que está escondido. Esta ideia do vestígio, de resto performativo, tão presente ao longo da carreira da artista, está sempre associada ao desconhecido e aparentemente insignificante, como no caso dos seus objetos reciclados, apreendendo o seu passado anónimo, aquilo a que Boltanski denominava de “pequena história”, referindo-se ao passado que permanece escondido, às ruínas ou descobertas do que habita em segundo plano.
As obras de Sandra Baía assumem estas fricções ou marcas do passado como parte do processo; a realidade esbate-se quando a outra realidade – a pictórica – emerge e se consolida, embora nunca desapareça, apenas se transforma.(…)
David Barro
Terça a sábado, das 10h às 19h
Ficha técnica:
Curadoria de David Barro
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