O ano passado apresentaste, na Casa Independente, um projeto multidisciplinar que incluiu música, rádio, dança, artes visuais e plásticas. A esta distância temporal, como avalias essa experiência?

Este ano que passou mudou a forma como avaliamos tudo. Aprendi e experimentei muita coisa. No futuro, gostaria de poder ter mais oportunidades como a que tive na Casa. Não é fácil juntar sampling de museu com peças próprias, ter uma frequência de rádio no ar, mexer na temperatura de uma casa tão bonita quanto a Independente, trabalhar um palco e uma sala que funciona tanto para baile, como para teatro e competir com o grande artista que é o álcool. Senti como muito trabalhoso, mas essencial de ser feito. Gostava de ocupar o Cristo Rei.

Um dos objetivos desse projeto era “quebrar fronteiras formais”, que as pessoas olhassem para as várias formas de arte como um todo. De forma geral, existe essa mente aberta?

Não. Acho que essencialmente queremos beber uns copos, conversar, seduzir, comer, pensar qb sobre a vida e demasiado sobre futebol (não por esta ordem). O meu objetivo era dar essa possibilidade. Um artista abre possibilidades apenas. Com sorte e muito trabalho, cria-se e partilha-se um mundo onde podemos mergulhar e viver por um tempo. Nesse sentido, essa quebra foi feita. As pessoas que se envolveram naquele mês são um bom exemplo disso. Da Joana Cardoso da EGEAC, ao Museu de Lisboa da Joana Monteiro e sua equipa, ao desenhador de luz Paulo Sabino, aos incríveis bailarinos Piny, André Cabral, à performer Sani, ao pintor Lorenzo Innocenti, à residência com o próprio Luaty e a todos os técnicos e produtores assistentes envolvidos, com a apaixonada abertura e proximidade da Inês Valdez e da sua Casa.

Em março, IKOQWE (projeto a meias com Luaty Beirão) lança o seu disco de estreia. Trata-se de um encontro entre dois cúmplices, dois irmãos. Qual o conceito deste projeto a dois?

IKOQWE é um encontro entre dois personagens e a tradução das suas conversas para música, neste caso. Os temas vão desde a História ficcionada, a Iniquidade Social, o Ambiente, Saúde Mental. E a base instrumental assenta muito em máquinas e sons ancestrais. Ao vivo transforma-se num teatro musical. E em vídeo, numa curta tão grande quanto o disco.

O disco chama-se The Beginning, the Medium, the End and the Infinite. Qual a ideia deste título?

É assumir tudo o que isso significa. O início de uma história, mas também o seu princípio base de procura por ela, os meios utilizados e como eles nos afetam a perceção de realidade, mais do que os factos, o fim que se tenta atingir e o assumir do imperfeito e da falha mas depois o Infinito, que nos deixa tudo em aberto e nos coloca no lugar certo: um pontinho muito pequenino numa história maior.

Algumas das faixas incluem sons dos arquivos da Biblioteca Internacional de Música Africana. Foi uma escolha difícil?

Nada. Inevitável, desejada, intencional. A maior parte dos instrumentos e sons ainda existem mas não deixa de ser mágico poder utilizar amostras de registos de outros tempos. Certamente conseguidos durante a violência colonial, mas anteriores à Guerra. A escolha dos sons, mais do que pelas melodias, foi feita pelas texturas e pelos assuntos abordados. O arquivo está muito bem organizado e tive acesso a toda a informação que precisei. A escolha foi muito fácil. Tudo muito inspirador.

O disco conta com a participação de nomes relevantes da cena afro-portuguesa (Celeste Mariposa, Octa Push ou Spoek Mathambo). Foi fácil conciliar ideias de mentes diferentes?

O Spoek é sul africano e, tal como o Bodhi Satva, tem relações fortes com Portugal. O Celeste Mariposa e os Octa Push são pessoas por quem tenho uma empatia pessoal e em quem revejo valores que vão para além da estética e, mesmo aí, têm coisas únicas para partilhar. Não são nada ‘chapa 4’ ou alinhados. Aprecio muito o contributo pessoal de cada um.

A ideia era organizar o evento de lançamento do disco no Padrão dos Descobrimentos. Tendo em conta que este mês ainda estaremos em confinamento, podemos esperar este momento memorável num futuro breve?

Gosto de acreditar que sim. Mais até para o visionamento de uma curta que tem o disco como banda sonora. O lugar chama por mim há muito tempo e eu quero muito contribuir para aquele espaço. Há muitas conversas a serem tidas e coisas a serem reparadas. Gostei muito da abertura e da equipa do equipamento. Acho que vai acontecer.

Alguns artistas aproveitaram o confinamento para compor. Que impacto tem tido em ti esta situação?

Tem tido um impacto essencialmente financeiro mas não tenho parado, na realidade.  Não me adaptei aos lives nem aproveitei para melhorar o meu reconhecimento online. Não sei fazer isso. Deu-me para criar e tentar fazer as coisas de uma outra maneira. Saiu o #videodoano (Vaivai de IKOQWE) que acabou por ganhar o prémio no Curtas de Vila do Conde. Fiz outras curtas longas que vão ficar como registo de memória (Rádio Normal para o Parlamento Europeu, Fake Staff para o Village Undergound e RTP2, o Algorithm is not African para os The Roots e para o palco do São Luiz, e The Beginning, the Medium, the End and the Infinite, que há de ser apresentada assim que possível). Fiz parte da peça Hip: A Pussy Point of View, da Piny. Colaborei com o Demarcação Já no Brasil, numa música com o Criolo, a Elza Soares e o meu amigo Dolores, entre outros, participei no projeto Bandé Gamboa, acabei de lançar um single com o lendário João Morgado, e no final do ano passado lancei o disco UM, uma coleção de coisas que tinham de ser colocadas em disco antes de avançar para um próximo. Tenho procurado estar atento, ocupado e a contribuir. Votei e olhei para a abstenção.

Para além do disco de estreia de IKOQWE, estás a trabalhar em mais algum projeto?

Estou a preparar a tradução do disco para palco mal seja possível apresentá-lo presencialmente. Estou também a terminar outro novo disco em nome próprio, dedicado à Coisofonia e que deve ser editado logo no início de 2022. O grande desafio este ano é cuidarmos de nós, dos que nos rodeiam e tentar contribuir com o nosso melhor, sermos assertivos, para que a distância, o vazio, a ignorância e a desonestidade não continuem a desenvolver-se como até aqui. A facilidade com que se falou da comunidade cigana nesta campanha foi abjeta, por exemplo. Terrível. Criminosa. Qual a vacina para isso?

Agnés Varda

A realizadora belga, que fez carreira no cinema francês, foi uma mulher de grande curiosidade, uma vanguardista que construiu uma obra ímpar. A sua estreia cinematográfica aconteceu em 1954, com Le Pointe Courte, um filme com montagem de Alain Resnais que anunciava o que viria a ser o movimento artístico da Nouvelle Vague. O filme Cléo de 5 a 7 (1962) é exemplo da audácia deste novo movimento e de uma cineasta cujo estilo experimental está presente nas muitas longas e curtas-metragens que realizou. O seu trabalho, onde documentário e ficção se confundem, inclui constantemente crítica social e feminismo. Em 1985, com Sem Eira Nem Beira, conquista o Leão de Ouro no Festival de Veneza. A cineasta, que faleceu em 2019 aos 91 anos, presenteou o público com um último e imperdível documentário: Varda por Agnés.

Sugestão: Varda por Agnés, a última longa-metragem da realizadora, é um autorretrato e uma viagem fascinante pela sua obra, enquanto cineasta, fotógrafa e artista. Um documentário que revela o ícone feminista e a excelente contadora de histórias que foi Agnés Varda.

Alice Rohrwacher

Figura notável do cinema de autor italiano, Alice Rohrwacher estudou Literatura e Filosofia, em Turim. O seu primeiro filme, Corpo Celeste (2011), um drama realista sobre a educação católica de uma jovem rapariga, estreou na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes, onde foi galardoado com o Nastro d’ Argento. Cannes recebeu-a de braços abertos e os dois filmes que se seguiram também passaram pelo festival. O País das Maravilhas (2014) ganhou o Grande Prémio do Júri, transformando Rohrwacher numa das mais importantes realizadoras de uma nova geração de cineastas. Feliz como Lázaro (2018), obra internacionalmente aclamada pela crítica e pelo público, venceu o prémio de Melhor Argumento. Realizar filmes humanos sem perder a ligação à realidade é o desejo da cineasta, para quem o poder da imaginação pode ser viciante.

Sugestão: O País das Maravilhas desenrola-se na beleza rural da Toscânia, local onde a realizadora cresceu. Aí, uma família de apicultores, que tem como figura central a mais velha de três irmãs, vê a sua vida alterada pela chegada de um reallity show. Um filme sobre a juventude e a emancipação, onde a força das personagens femininas é hipnotizante.

Lucrecia Martel

©Henny Garfunkel

Lucrecia Martel, uma das mais proeminentes cineastas contemporâneas, é referência na produção audiovisual da América Latina e nome fundamental do novo cinema argentino. O reconhecimento internacional aconteceu com a primeira longa-metragem O Pântano (2001), uma reflexão visceral sobre classe, natureza, sexualidade e política, que lhe valeu o Prémio Alfred Bauer para Melhor Primeira Obra, no Festival de Berlim. Em 2004 estreia A Menina Santa, onde a sexualidade é abordada do ponto de vista de uma adolescente extremamente religiosa e, em 2008, A Mulher Sem Cabeça, onde mais uma vez as relações de família e de classe têm um papel preponderante. Depois de quase uma década de interrupção, regressa às longas com Zama (2017), uma coprodução portuguesa com direção de fotografia de Rui Poças, considerado melhor filme de 2017 por um conjunto de 135 programadores, críticos e cineastas de todo o mundo.

Sugestão: A Menina Santa, baseado nas memórias de infância da realizadora e produzido por Pedro Almodóvar, conta a história de uma adolescente católica que se encontra dividida entre o desejo sexual e a sua devoção religiosa. Ao ser assediada por um médico que está de passagem, assume a missão sagrada de salvar a alma deste homem do pecado.

Cláudia Varejão

©Humberto Mouco/CML-ACL

Fotógrafa, realizadora e argumentista, Cláudia Varejão estudou cinema no Programa de Criatividade e Criação Artística da Fundação Calouste Gulbenkian em parceria com a German Film und Fernsehakademie Berlin e na Academia Internacional de Cinema de São Paulo. O seu trabalho resulta da estreita relação que constrói com aqueles que retrata. A primeira obra Falta-me, surge em 2005, seguindo-se a trilogia de curtas-metragens Fim-de-semana, Um dia Frio e Luz da Manhã. Em 2016 estreia a primeira longa-metragem Ama-San, que acompanha a vida de três mergulhadoras japonesas e que lhe valeu uma série de prémios em vários festivais de cinema, Amor Fati (2020), o seu filme mais recente, retrata pares que se completam. Na sua obra, a realizadora, procura esbater a fronteira entre documentário e ficção, revelando através do seu olhar pessoas e vivências reais.

Sugestão: Ama-San acompanha a vida de três mulheres japonesas que perpetuam uma atividade milenar, mergulhando sem auxílio de qualquer tipo de equipamento para apanhar marisco. Num país onde a figura feminina é a gueixa, subalterna, submissa, as Ama-San ganharam um poder, subvertendo a posição da mulher.

Sally Potter

©Nacho Gallego, EFE, Alamy Live News

A cineasta inglesa Sally Potter é uma mulher das artes. Realizou curtas experimentais, foi dançarina e coreógrafa, trabalhou como atriz, diretora teatral, participou em várias bandas musicais como cantora e compositora. A carreira cinematográfica começou a ganhar força com a curta Thriller (1979), que fez furor no circuito dos festivais de cinema da época. Seguiu-se The Gold Diggers (1983), uma obra feminista e vanguardista. Em 1992 a estreia de Orlando, uma adaptação do romance homónimo de Virgínia Wolf protagonizada por Tilda Swinton, é aclamada pela crítica, dando a conhecer a obra de Potter a um público mais vasto. Posteriormente continua a trabalhar com elencos de luxo, abordando nos seus filmes temáticas controversas e atuais. A Festa (2017), comédia mordaz, é um excelente exemplo desse percurso. Potter regressou aos filmes em 2020 com The Roads Not Taken.

Sugestão: Orlando, uma viagem através dos séculos onde a personagem, Orlando, vive durante 400 anos, entre o início do século XVI e o século XX, atravessando a História de Inglaterra. Orlando, homem durante parte do filme, muda de sexo e transforma-se numa mulher mantendo intacto o seu caráter. Género, identidade sexual e a posição da mulher numa sociedade patriarcal são questões centrais no filme, baseado no romance homónimo de Virginia Woolf.

Teresa Villaverde

©Mario Cruz, LUSA

Teresa Villaverde é um dos nomes mais importantes da geração de realizadores portugueses da década de 90, motivo pelo qual, em 2019, o Centro Pompidou em Paris lhe dedicou uma retrospetiva que apresentava a visão de “uma artista global”. Realizadora, argumentista e produtora, criou uma obra muito pessoal onde as temáticas da infância e adolescência, do crescimento e inadaptação são frequentemente abordadas. O primeiro filme aconteceu em 1991, A Idade Maior, um retrato de Portugal assombrado pela Guerra Colonial. Com o segundo trabalho, Três Irmãos, uma crónica sobre o cruel sofrimento de uma jovem mulher, a protagonista Maria de Medeiros vence o prémio de Melhor Atriz no Festival de Veneza. Seguem-se, entre outros, Os Mutantes (1998) e Transe (2006). No Festival de Berlim estreou Colo (2017), onde regressa à família, à adolescência e a Portugal, país que retrata com grande autenticidade.

Sugestão: Transe segue uma jovem mulher que abandona a família na Rússia, em busca de uma vida melhor. Uma viagem que a leva à República Checa, à Alemanha, a Itália e que termina em Portugal. Uma descida ao inferno, onde medo e violência são uma constante. Um retrato da imigração oriunda dos países de leste, personificada por uma mulher que, apesar de tudo, mantém a coragem para encontrar dignidade.

Noami Kawase

©KUMIE Inc.

A cineasta Noami Kawase tem uma longa carreira no Japão e é igualmente reconhecida no estrangeiro pelos seus documentários e filmes de ficção. Já integrou o júri no Festival de Cannes e em 2010 fundou o Nara International Film Festival. A sua filmografia assenta recorrentemente nas relações familiares e na maternidade, tema que lhe é pessoalmente próximo, enquanto filha adotiva. O seu mais recente filme, As Verdadeiras Mães (2020), centra-se precisamente no tema da adoção. A carreira de Kawase teve início nos anos de 1990 com uma série de documentários autobiográficos. A primeira ficção, Moe no suzaku (1997), valeu-lhe a Câmara de Ouro no Festival de Cannes e o título de cineasta mais jovem a receber este prémio. Mogari (2007), uma obra sobre o luto, onde a natureza é a protagonista de um formidável trabalho de som e fotografia, arrecadou o Grande Prémio do Júri, também em Cannes.

Sugestão: As Verdadeiras Mães, a mais recente obra da cineasta retrata a adoção de uma criança, revelando a posição da mãe adotiva e da mãe biológica e o conflito que daí resulta. À semelhança de outros filmes, as personagens principais desta história comovente são femininas e as escolhas que fazem são também o espelho da sua condição enquanto mulheres.

Rita Azevedo Gomes

©Humberto Mouco/CML-ACL

O percurso de Rita Azevedo Gomes está ligado de diferentes formas às artes visuais. Estudou Belas Artes, esteve envolvida em projetos de teatro, ópera, artes plásticas e cinema, e desenvolveu, com grande reconhecimento, trabalhos gráficos em diversas edições de cinema da Cinemateca e da Fundação Calouste Gulbenkian. Na área do Cinema colaborou, entre outros, com Manoel de Oliveira, João Bénard da Costa, Noronha da Costa e Valeria Sarmiento. Realizou o primeiro filme em 1990, O Som da Terra a Tremer, centrado na personagem de um escritor que não escreve, interpretado pelo músico José Mário Branco (que 28 anos depois compôs a banda sonora de A Portuguesa). As obras literárias são para a realizadora o ponto de partida para muitos dos seus filmes, que não deixam, no entanto, de transmitir uma visão pessoal e independente. A Vingança de Uma Mulher (2011), Correspondências (2016) e A Portuguesa (2018) são alguns dos exemplos dessa individualidade.

Sugestão: A Portuguesa baseado numa novela de Robert Musil, tem adaptação cinematográfica de Agustina Bessa-Luís. A narrativa decorre durante o séc. XVI, no Norte de Itália, rente à assinatura de paz do Concílio de Trento, e retrata a estranha união entre uma enigmática Portuguesa e o seu marido, von Ketten, um nobre de ascendência germânica. A mulher, estrangeira na sua nova terra, é a figura central: uma personagem perspicaz e progressista.

P de Porquê

Nem sempre as conversas dos adultos são compreensíveis para as crianças. Por isso, o podcast P de Porquê, uma parceria do Público e da Rádio Miúdos, pretende descomplicar o dia a dia e a atualidade e responder a todas as perguntas que ficam por fazer. Entre os mais recentes disponíveis, encontram-se os episódios ‘Cada um deve ser livre para amar quem quiser’, onde os mini repórteres da Rádio Miúdos foram tentar descobrir mais sobre os desafios que a sociedade coloca às pessoas LGBTI; e ‘O Orçamento do Estado explicado aos miúdos (por miúdos)’, onde se pode ficar a saber mais sobre as contas que os políticos andam a fazer.

Só para Curiosos

Se a criançada aí de casa anda sempre de lupa ou de caderno na mão, se gosta de tudo o que é bicharoco e se passa a vida a fazer perguntas sobre tudo o que a rodeia, este é o programa ideal! Neste podcast, também promovido pela Rádio Miúdos, podem descobrir-se muitas curiosidades sobre o património animal e natural que nos rodeia. Os episódios disponíveis abordam várias temáticas, desde o lince ibérico às cegonhas, passando pelo pão, danças tradicionais e pinturas rupestres, entre muitos outros.

Filosofia é coisa para miúdos

Sabe o que é que os filósofos e as crianças têm em comum? A capacidade de maravilhar-se com o mundo! E porque a filosofia desenvolve o espírito crítico e a capacidade de verbalização de ideias e reforça a estrutura lógica do pensamento, nunca é tarde para começar. E não é preciso ser Aristóteles, Sócrates ou Platão para ouvir este podcast! Filosofia é coisa para miúdos é um espaço para perguntas e respostas, que pretende cultivar o espanto e o porquê. Em episódios como ‘Ajudar, o que é isso?’, ‘Novos começos’, ‘Perguntas para as quais já temos respostas’ ou ‘Ser crescido’, a filosofia é trocada por e para miúdos!

ZigZagZoo

Truz, truz! Há por aí amantes de animais? Então este podcast da Rádio ZigZag vai deixar os miúdos nas suas sete quintas. Aqui, é possível ficar a saber mais sobre os animais que vivem no Jardim Zoológico, tudo explicado por biólogos e tratadores. Em episódios com pouco mais de um minuto, descobre-se e aprofunda-se este maravilhoso mundo das espécies, respondendo a perguntas como ‘Só existem leões em África?’, ‘Todos os lagartos são iguais?’ ou ‘Quantas bossas tem um camelo?’.

Grandes Fitas

Ai o cinema, esse universo fantástico que faz viajar sem sair do lugar! Com o podcast Grandes Fitas, a Rádio ZigZag permite ir ao cinema sem sair de casa. Aqui, são contadas histórias sobre os filmes favoritos da pequenada, fala-se com atores e atribuem-se muitas pipocas aos filmes de que se gosta mais e menos pipocas aos filmes de que se não gosta assim tanto. Ah, e ainda há tempo para saber curiosidades sobre longas metragens de animação como Bora Lá, Divertidamente ou Madagáscar.

WWQuê???

Este é um podcast que aborda a temática da tecnologia, dos jogos, dos Youtubers e das apps, oferecendo sugestões para descobrir o mundo da internet de forma segura. Os episódios mais recentes sugerem aplicações como O Corpo Humano por Tinybop, onde é possível explorar um modelo funcional do corpo humano de forma animada e interativa e onde o coração bate, o estômago ronca, a pele sente e os olhos veem, e Skyview, onde não é preciso ser astronauta para encontrar estrelas e constelações no céu.

Celebra uma década de carreira. Qual é o maior desafio em trabalhar para miúdos?

Foram dez anos que parecem uma vida inteira, tal foi a intensidade com que vivi estes anos e todos os lugares maravilhosos que visitei e as pessoas incríveis que conheci à boleia deste projeto! Eu já tinha trabalhado bastante com e para crianças e esse foi o público que escolhi quando o criei. É um público que eu amo de coração, as crianças são puras, verdadeiras e muito exigentes! O constante desafio é conseguir captar a sua atenção, a sua concentração e o seu amor. Estou muito feliz com a forma como a Xana Toc Toc fez (e faz) parte da vida de tantos meninos e meninas, em Portugal e por esse mundo afora.

Qual é o segredo para ter sucesso junto dos mais novos durante tanto tempo?

Essa pergunta talvez lhes deva ser dirigida a eles, mas o que eu posso garantir é que este projeto sempre recebeu todo o meu amor e sempre foi feito com muita verdade, honestidade, trabalho árduo e paixão. A Xana Toc Toc é uma caricatura de mim mesma, curiosa, gosta de cantar, de pintar, palhacinha de vez em quando, enfim, a Xana Toc Toc não foi criada do zero, foi apenas uma interpretação de quem eu sou, de uma forma exagerada, obviamente, mas ao mesmo tempo muito verdadeira. Talvez as crianças saibam reconhecer essa verdade.

No seu percurso como Xana Toc Toc houve algum momento que a tenha marcado particularmente?

Foram muitos os momentos marcantes, mas posso falar de momentos que me emocionaram de uma forma difícil de descrever. Quando uma mãe vem ter contigo e te diz que ajudaste o seu filho ou a sua filha a ultrapassar fases de doenças graves, que contribuíste para a salvação dessa criança, são partilhas muitos fortes que te deixam sem palavras. Foram muitas as vezes que chorei ao conversar com famílias que sentem realmente que fiz parte das suas vidas.

Com dez anos de carreira, tem, com certeza, muitas recordações. Qual foi a coisa mais inusitada que uma criança lhe disse?

O que as crianças dizem pode não fazer muito sentido para os adultos, mas para mim sempre fizeram sentido e eu sinto que as compreendo como se eu própria fosse uma criança. Perguntas do género “Como saíste da televisão?” ou “O que está dentro da Mala Cor de Rosa?” fazem todo o sentido, porque eu própria, às vezes, sinto que vivo mais no mundo das crianças do que no mundo dos adultos; parece que me identifico mais com a sua forma de ver a vida, com mais alegria e magia. Para mim a vida só faz sentido se puder ser vivida com uma dose extra de alegria, fantasia e amor. Recuso-me a crescer!

Ao longo destes dez anos lançou dez DVDs, sete CDs, três livros, deu imensos concertos e participou em vários programas de TV. O que podemos esperar da Xana Toc Toc no futuro?

Em relação ao futuro eu não sei… mas sei que mesmo que não acontecesse mais nada, todas as experiências e aventuras que vivi, todo o carinho e amor que recebo diariamente do grande público e todos os amigos e amigas que fiz ao longo destes 10 anos, valem mais que qualquer tesouro na vida. Sou grata por ter vivido tudo isto até hoje e ter feito parte de tantas famílias. Os vídeos, as histórias, os concertos, as músicas e todos os registos da Xana Toc Toc perdurarão por muito tempo ainda e vão continuar a fazer parte da infância de muitas crianças, nascidas e por nascer. Sou uma privilegiada e estou imensamente grata ao Universo.

Patricia Reis

Da Meia-noite às Seis

Como o próprio título indica, Da Meia-noite às Seis, o mais recente romance de Patrícia Reis é uma viagem pela noite dentro. Pelo mundo, em tempos de pandemia, mergulhado na escuridão, “com todas as certezas da civilização a morrer em agonia, a esmorecer”. A narrativa desenvolve-se entre duas mortes: a do marido e a da mãe da protagonista, Susana Ribeiro de Andrade, animadora de rádio. Perdas que ocorrem num tempo que estragou “todos os rituais de consolo que os homens inventaram para enfrentar a morte”. A história de Susana cruza-se com a de Rui Vieira, jornalista que, na sequência dos traumas causados por um violento acidente de viação, perdeu a voz. Porém, Da Meia-noite às Seis, é também o título do programa de rádio que juntos vão criar, abraçando o trabalho como forma de sobrevivência. Através desta experiência vão redescobrir, madrugada após madrugada, a amizade e a importância de se ligarem a um mundo ainda “cheio de gente”. Num tempo em que a subsistência se fazia com muito pouco, os ouvintes do programa “entravam numa ilusão, da meia -noite às seis sonhavam e era gratuito.” Dom Quixote

Louise Glück

A Íris Selvagem

Louise Glück era uma ilustre desconhecida dos leitores portugueses quando, no passado mês de outubro, foi anunciado o Prémio Nobel de Literatura 2020. Porém, a poeta já havia já recebido o Prémio Pulitzer, o National Book Award e o National Book Critics Circle Award, entre outros. A Íris Selvagem é o seu primeiro livro de poesia editado em Portugal. A questão de “deus” surge com o tema central desta extraordinária obra. Nalguns poemas, a autora interpela diretamente o criador sobre o seu silêncio, a sua ausência, sobre o “vazio do céu” (“Pai inacessível”, “Deixei de me perguntar onde estás”, “Nesta tua longa e prolongada ausência”). Noutros, “deus” assume a voz e contempla, ora com desdém, ora com compaixão, a sua criação (“Minha pobre e inspirada / criação, não passais / de distracção, de meros / epígonos: sois afinal / demasiado diferentes de mim / para me agradar”). Neste contexto, Glück canta o “terror dos filhos de deus”, o desespero da existência (“ser algo é ser quase nada”), a trágica consciência da finitude (“é árduo ser o animal descartável”), o sofrimento de viver neste mundo “exilado do céu”. Contudo, uma luminosa metáfora percorre o livro; o jardim. A paz momentânea através da comunhão com a natureza: árvores, flores, vegetais que se plantam na terra. Talvez a humanidade, como aponta um destes poemas, gaste “demasiado tempo / a olhar adiante” e o exemplo possa estar na flor que pode, simplesmente “florir, sem esperança de viver depois”. Tradução de Margarida Vale de Gato. Relógio D’Água

William Melvin Kelley

Um Tambor Diferente

Em junho de 1957, todos os habitantes negros de Sutton – cidade criada pelo autor – pegam nos seus haveres e abandonam o local com destino incerto. O êxodo é iniciado por Tucker Caliban, último membro de antigos escravos pertencentes à família Wilson, descendente do fundador da cidade. Esta notável parábola sobre as tensões raciais na América é escrita com um requinte técnico formal que lembra As I Lay Dying de William Faulkner – nonólogos interiores e uma narrativa polifónica em que várias testemunhas (os brancos que permanecem na cidade) contam a sua visão do acontecimento central. Contrariamente ao habitual na literatura afro-americana, Kelley não pretende narrar na primeira pessoa a experiência traumática de vida no ambiente de segregação, racismo e violência da sociedade norte-americana. Ao autor interessa “saber como é ser branco” ou como é, “para os americanos em geral, viver sob as condições de supremacia branca e o racismo do quotidiano”. O mais extraordinário é que o tenha conseguido sem quaisquer vestígios de maniqueísmo. Celebrada como “obra-prima esquecida da literatura afro-americana”, esta é uma “história daquelas que [lamentavelmente] continua depois do fim.” Tradução e prefácio de Salvato Teles de Menezes. Quetzal

Maurice Blanchot

Thomas o Obscuro

Maurice Blanchot (1907-2003) é considerado um dos mais inovadores e prestigiados escritores, críticos e filósofos do século XX francês. Publicado em 1941, Thomas o Obscuro foi reescrito e republicado em 1950. A obra, que cruza filosofia e literatura, promove a seguinte reflexão: é possível existir um sujeito neutro? E, nesse caso, se é possível existir uma narrativa conduzida por um personagem neutro? Thomas (“Eu penso, logo não sou”) é a personificação do conceito de neutro que Blanchot explorou na sua literatura, figura sem personalidade que permite uma análise única do ser humano e simultaneamente do ser literário. A propósito do título, alguns pensam tratar-se de uma referência ao filósofo pré-socrático Heráclito, dito “o obscuro”, devido às sentenças oraculares da obra Sobre a Natureza. Porém, há quem veja também neste livro de Blanchot uma alusão a Jude the obscure, romance de Thomas Hardy, enquanto outros ainda dizem que estas pistas se destinam a confundir o leitor-intérprete. Segundo Michel Foucault: “Nada em Blanchot é previsível e isso faz dele um autor único no panorama das letras modernas. Este é um antirromance com um personagem neutro, vogando entre a leitura e a perda.” E.Primatur

Craig Adams

Os Seis Segredos da Inteligência

O que significa “como pensar”? Para o linguista Craig Adams, significa saber distinguir factos de opiniões, saber distinguir quando a linguagem é utilizada como retórica para nos afastar do que é importante. Há mais de 2000 anos, na Grécia antiga, Aristóteles tinha já descoberto o modelo da mente humana. As mais recentes descobertas da ciência cognitiva demonstram que o modelo de Aristóteles se aplica à subtileza de pensamento, à capacidade de pensar bem. No entanto, até hoje temos usado um modelo educativo demasiado simplista. Usando o modelo de Aristóteles condensado em seis segredos, os três princípios fundadores da escola aristotélica – dedução, indução e analogia – combinados com os três princípios da verdade – realidade, significado e evidência -,o autor revela-nos os padrões para todos os debates e discussões e ensina-nos a não nos deixarmos manipular, independentemente do tópico em debate. Uma obra que reflete sobre os tempos em que vivemos, promovendo também a capacidade individual para contornar os social media e as fake news. Temas e Debates / Círculo de Leitores

Thomas Hardy

Longe da Multidão

Poucos escritores se distinguiram igualmente na poesia e na prosa, Thomas Hardy foi um dos mais brilhantes. Os seus poemas, longe de preciosismos, escritos numa linguagem próxima do discurso falado, prepararam o caminho para a poesia inglesa moderna. Os seus romances realistas, profundamente pessimistas, recebidos com a maior severidade pela sociedade vitoriana, perspetivavam o Homem como refém das duas maiores influências da civilização ocidental: a tragédia grega clássica e a noção de destino, o cristianismo e o conceito de culpa. As suas magistrais descrições da natureza, mesmo sem humanidade à vista, surgem sempre impregnadas das negras desolações humanas. O sucesso de Longe da Multidão, romance publicado em 1874, levou o autor a abandonar a carreira de arquitecto par se dedicar inteiramente à literatura. A história do amor do lavrador Oak pela bela e orgulhosa Bathsheba é uma das suas narrativas menos trágicas, levando uma personagem a concluir: “Mas, sendo as coisas como são, poderia ter sido pior, e dou graças a Deus por isso”. Presença

Oliver Jeffers

O Destino de Fausto

O mito de Fausto configura, na literatura universal, o símbolo do homem condenado a ser um eterno insatisfeito, destruído pela sede de saber, pela necessidade de tocar o eterno e compreender o misterioso. A Oliver Jeffers, premiado artista multidisciplinar, cujo trabalho se estende por diversos meios, da pintura à instalação, passando pela ilustração e a escrita para crianças, não é alheio o mito fáustico quando cria o presente livro. Contudo, Fausto, o protagonista desta história, é um produto perfeito dos tempos em que vivemos, alheio às questões éticas, filosóficas e metafísicas do seu ilustre antecessor. Numa sociedade marcada pela obsessão do consumo, este homem reduz-se à necessidade de ser dono de tudo. Primeiro de uma flor. Depois avança, reclamando para si uma árvore, um lago, uma montanha. Porém, insatisfeito, Fausto prossegue em direção ao mar. Mas a sede de poder revela-se fatal. Esta brilhante parábola política recria o destino de pequenos e grandes tiranos de todos os dias, mostrando a escala insignificante do homem face à natureza, e promovendo a reflexão sobre a importância da liberdade e o poder da resistência. Orfeu Negro

A última vez que falámos foi quando lançaste Mão Verde, o teu disco para crianças. Entretanto foste mãe. De que forma é que a maternidade influenciou a tua forma de olhar o mundo e, consequentemente, a forma como fazes música?

É uma transformação muito profunda que acaba sempre por mudar a nossa forma de estar na vida e, por consequência, o nosso trabalho. No meu caso, isso notou-se sobretudo no Madrepérola, o disco que saiu o ano passado, que foi escrito e gravado maioritariamente durante a gravidez, e aí já se começa a perceber esse impacto, de certa forma mais com o que tem a ver com a gravidez e com o parto, e não tanto com a maternidade em si. Esse processo de me tornar mãe ainda está em curso, é uma coisa que vai acontecendo e em cada fase há novas descobertas. Acho que vou sentir mais isso num próximo disco, porque quem o vai escrever vou ser eu nesta fase, com as dores de crescimento já mais digeridas e pensadas. Nesse sentido, a minha vida mudou muito. O eixo no qual a minha vida gira, bem como o meu tempo e as minhas prioridades, mudaram. Emocionalmente também mudou muita coisa, mesmo em termos do que gostamos de fazer, com que amigos nos identificamos mais, que filmes, discos e livros queremos consumir com o pouco tempo que temos… Há muitas coisas que mudam que são muito subtis, mesmo no nosso ser individual, para além do que tem a ver com a maternidade em si, mas isso é uma descoberta que está em curso e que só terá eco num próximo disco, ou nos próximos trabalhos, não necessariamente discos. Também tenho escrito sobre isto nas crónicas que faço para a Visão. É um assunto sobre o qual gostava de escrever num futuro próximo, de forma mais alongada, porque me interessa enquanto tema, mais em forma de escrita do que propriamente de música, embora na música também tenha tido impacto. No caso destes últimos dois anos, a pandemia foi tão forte, o ano passado mudou tudo tão de repente, que ainda há muitas coisas para digerir.

Consideras Madrepérola um trabalho ‘mais solar’ do que os anteriores. Classifica-lo assim por ter sido gravado em plena fase de estado de graça?

Tem a ver com a proposta de disco que fiz a mim própria. Queria fazer um disco que tivesse uma abordagem mais solar, mais irónica, mais dançável, mesmo que os temas fossem sérios. Senti que já tinha explorado um lado mais sério e mais político-social e emocional da minha escrita e menos o lado mais airoso, mais luminoso, mais irónico, e gostava de equilibrar um bocado essa balança mesmo falando de temas sérios e de emoção, e fazer um disco mais aberto ao mundo, com cruzamentos com outras músicas, com outras vozes, e daí ter muitos convidados, com instrumentais mais dançáveis. Tentei fazer esse exercício criativo para também não repetir fórmulas e evoluir enquanto artista. É um disco muito inspirado no Brasil, um disco de língua franca com a Missiva, o Rael e produtores brasileiros. Fiquei fascinada pela forma brasileira de criar, mais intuitiva, mais espontânea, menos cerebral, menos filtrada, como eu tinha mais tendência para escrever. Por essa quantidade de fatores o disco já seria mais solar de qualquer forma, mas o facto de o ter escrito maioritariamente grávida (só uma música é que foi escrita depois) fez com que a felicidade daqueles meses de otimismo e esperança em relação ao futuro também ficasse muito marcada no disco, com uma certa falta de filtro, com as hormonas e as emoções à flor da pele.

Como foi dar a conhecer um álbum em plena pandemia?

Fiquei muito frustrada, na verdade. Foi difícil para todos os artistas, e para os músicos, que dependem das atuações ao vivo para viver, mas foi especialmente ingrato porque tinha acabado de lançar um disco novo depois de um ano em que tinha abrandado porque tinha tido um bebé e estive de licença de maternidade, por isso para mim foi um segundo ano de confinamento [risos]. Fiz um grande esforço pessoal para terminar o disco com um bebé muito pequeno, para voltar à minha própria individualidade, voltar ao trabalho, voltar à vida para além das paredes de casa e acabou por ser tudo ao contrário. Ao princípio fiquei um bocado frustrada, mas depois percebi que aquele disco falava precisamente sobre isso, de fazer das dificuldades as nossas pérolas. O disco chama-se Madrepérola por causa dessa ideia de que as ostras só fazem pérola quando têm um grão de areia a incomodar e vão criando uma espécie de baba que remexe no grão de areia e acabam por, inadvertidamente, criar uma pérola. Acho que essa metáfora é muito eficaz para descrever aquilo que é o meu processo criativo e da maioria dos artistas, e também a própria ideia de uma atividade que também precisa de muita superação e espírito de sacrifício. Depois percebi que o disco fala sobre isso e que me estava a dar os mantras para eu sobreviver a esta frustração e a esta fase difícil. É um disco muito aberto, muito positivo e que fala sobre essa capacidade de tornar o desconforto em beleza, em sublimação, em renascimento… Acabei por perceber que tinha feito o disco certo para o momento certo, mas claro que essa frustração não desapareceu totalmente, porque tinha muita vontade de tocar o disco ao vivo. Acredito mesmo que os discos só se consumam no palco e só se terminam quando chegam ao público, e a meia dúzia de concertos que demos em 2020 não chegou para matar essa fome. Foi isso que me motivou a gravar o tal EP que comemora o aniversário do Madrepérola e que se chama Encore.

Portanto, Encore, que inclui canções gravadas ao vivo em concertos no Porto e Aveiro, é um prolongamento de Madrepérola?

Vejo-o como um prolongamento da experiência de estar em palco. A pandemia fez com que valorizasse muito essa experiência, porque cada concerto foi uma oportunidade vivida com muita gratidão, com muita alegria. Nunca sorri tanto num palco como nesta meia dúzia de concertos que dei o ano passado. Estes dois concertos que estão gravados no EP foram realizados com seis meses de atraso, e um deles teve dois reagendamentos. As pessoas tinham o bilhete comprado há meses e esperaram, foram de máscara e sem poder dançar livremente, mas foram. Este EP é também para imortalizar as palmas que recebemos naqueles dias. O Encore acaba por não ser só o prolongamento do próprio Madrepérola, porque tem duas músicas do disco que foram regravadas ao vivo por terem crescido tanto em palco. Tem uma música nova, o Encore, cuja letra fala sobre as transformações emocionais destes últimos meses e que tem um poema no refrão que fala sobre a necessidade de, a partir dos escombros, construirmos os reencontros, portanto muito apropriada para falar destes tempos. Também se chama Encore porque as outras duas músicas de discos anteriores eram o encore dos concertos de apresentação. Por um lado, o EP celebra o palco no momento em que estamos privados dele, por outro, pretende agradecer às pessoas que fizeram questão de estar presentes naqueles concertos de 2020 que foram tão especiais, e ainda celebra o aniversário de um disco que foi muito desejado e que eu acho – mesmo que mais ninguém ache – que é o meu melhor disco, e que não teve a vida na estrada que merecia ter tido. Este EP veio resolver um bocadinho todas estas pendências.

“Este EP celebra o palco no momento em que estamos privados dele, e pretende agradecer às pessoas que fizeram questão de estar presentes nos concertos de 2020, que foram tão especiais”

 

Como viveste a primeira fase do confinamento? Foi uma altura proativa, de inspiração, ou foi precisamente o oposto?

Tinha acabado de lançar um disco, o confinamento começou praticamente um mês depois do Madrepérola sair. Estava muito envolvida nessa etapa de apresentar o novo disco quando ela foi completamente boicotada pela pandemia. Naqueles meses iniciais de confinamento, além do que toda a gente fez, que foi organizar coisas em casa e tentar manter a saúde mental à tona, o que fiz foi refletir acerca daquilo que eu queria para a minha carreira para não ser tão dependente dos concertos e da música em particular. Isso foi importante para tentar diversificar as minhas formas de sustento, mas sobretudo para perceber as possibilidades de desdobramento da minha escrita noutras coisas. Foi muito interessante para mim porque tenho vários projetos – dos quais ainda não posso falar – ligados à escrita, mas noutras áreas que não têm a ver com a música e que me estão a estimular muito. Estou também a fazer alguns cursos de escrita para diversos formatos e tenho aprendido muito. Os meses de confinamento deram-me para perceber que não preciso – e não devo – ficar limitada a apenas uma coisa, mesmo que ela me faça muito feliz. Nem quando era adolescente sonhei algum dia viver da música e acho que é um bocadinho imprudente, é pouco sensato, no mundo em que vivemos, depender de uma coisa só. Pôr o peso de pagar as contas em cima de algo que se ama tanto é como depender de alguém que amamos muito. Nunca me passou pela cabeça ser sustentada por um marido, da mesma forma que não quero ser sustentada única e exclusivamente pela minha música. Deu para fazer essa reflexão e pensar também que temos de, cada vez mais, valorizar o que fazemos. No caso da música, com todo este cenário do streaming mal pago, da banalização dos downloads gratuitos, da banalização dos concertos online durante a pandemia, há uma tendência para banalizarmos o que fazemos e as pessoas habituaram-se a ter música sem dar nada em troca. Isso é uma coisa perversa, porque quem acaba por ser prejudicado são os artistas e, por consequência, a própria música, no sentido em que, se as pessoas não puderem fazer a sua música e ser pagos por isso, acabam por ir fazer outras coisas. Há todo um pensamento que temos de fazer enquanto classe. Enquanto trabalhadores da Cultura também há toda uma reflexão que tem sido feita, de exigências e de luta que temos de continuar a fazer cada vez mais.

Essa fórmula que adotaste para ti, de te reinventares, de alargares os teus horizontes para além da música, pensas que outros artistas deveriam adotar também?

O que devia acontecer era as pessoas fazerem o que gostam e viverem condignamente com isso. O Carlos Paredes dizia que gostava demasiado da música para viver dela, o Sam the Kid fez um refrão célebre em que dizia o contrário, em que gostava demasiado da música para não viver dela. Cada artista tem uma posição muito individual, pessoal e intransmissível em relação à forma como quer viver com – e da – sua música. Acho que os artistas têm o direito – até porque a Cultura é um bem constitucional e essencial à nossa vida coletiva e individual – de poder fazer o seu trabalho com dignidade. Claro que as escolhas estratégicas de carreira de cada um dependem muito da sua forma de estar. No meu caso, como sempre gostei de fazer coisas diferentes e nunca ambicionei viver da música, isso faz sentido. Diversificar é algo que me entusiasma bastante, mas se calhar para outra pessoa pode ser uma pressão desnecessária. As pessoas deviam poder viver do seu ofício exclusivamente. O que acho que esta experiência trouxe, não só aos músicos ou a trabalhadores da Cultura, foi o repensar de uma série de coisas que têm a ver com o nosso estilo de vida e com a nossa vida coletiva e com a forma como organizamos as nossas sociedades. Desde o ponto de vista ecológico até ao ponto de vista laboral, repensaram-se imensas coisas que deviam ser trabalhadas para não repetirmos os mesmos erros. Há uma ideia de regresso à normalidade, mas eu acho que devíamos construir uma nova etapa em vez de voltarmos à normalidade, porque ela estava cheia de coisas insustentáveis que ficaram muito óbvias nesta experiência.

És a grande referência feminina no universo do hip hop nacional. Por que motivo é o hip hop um meio maioritariamente masculino?

Ultimamente têm aparecido mais mulheres a competir pela visibilidade mediática e pelos streamings taco a taco com muitos homens, portanto acho que isso é uma coisa que tem tendência a transformar-se e ainda bem. O hip hop sempre foi um boys club e durante muitos anos foi um meio um bocado hostil para as mulheres na perspetiva de que, para fazer rap, é preciso um conjunto de características, ferramentas e qualidades que não são estimuladas culturalmente na socialização das mulheres, como por exemplo, ser competitiva, ter espírito de liderança, dar opiniões de forma mais assertiva, muitas vezes de forma desbocada, um conjunto de coisas que é habitual ver nos rappers homens mas que nas mulheres não é muito cultivado. Depois também não é um meio muito atrativo para as mulheres no sentido em que é preciso romper várias barreiras simbólicas ou alguns entraves um bocado subtis que dificilmente se ultrapassam sem uma grande determinação. Comecei a fazer rap com uma amiga, a M7, e  também tive a sorte de encontrar produtores, nomeadamente o Mundo, dos Dealema, e o D-One, que trabalha comigo até hoje, que sempre me trataram de igual para igual. Também tive a sorte de colaborar com outras mulheres, como por exemplo a Eva Rap Diva. Fui encontrando pessoas que, de certa forma, me fadaram o caminho. Eu também tinha algumas características pessoais que ajudaram. Já era uma feminista, já tinha alguma capacidade de pensar nas questões de igualdade de género, do que é preciso em termos de espírito crítico para ir desmontando e desconstruindo essas barreiras simbólicas, e acabei por estudar Sociologia, o que também me ajudou. A cultura hip hop vem, originalmente, da comunidade afro-americana de Nova Iorque, e nasceu em Portugal também da comunidade afro-portuguesa. Houve muitas mulheres que começaram por ser as pioneiras do rap nacional, mas que foram desistindo. O facto de ser uma mulher branca, do Porto, de certa forma mais privilegiada, e que conseguiu ser a primeira a construir uma carreira longeva no rap também diz muito acerca da falta de oportunidades das mulheres negras de bairros mais periféricos da zona de Lisboa, que sempre estiveram em desvantagem competitiva e comparativa. Se calhar se vivêssemos num país um bocadinho mais justo e menos racista, teria sido uma mulher negra a primeira a conseguir uma carreira longeva no rap nacional.

Tens alguma ideia de quando poderás voltar à estrada?

Tinha concertos marcados para janeiro e março. Neste momento estão todos suspensos e creio que até acabar o confinamento que estamos a viver não haverá possibilidade disso. Creio que só a partir de maio/junho é que vamos começar a ver um reacender da vida cultural com todas as restrições que havia até aqui e que funcionaram bem. As pessoas não estavam minimamente em risco e fomos viabilizando algumas coisas. Outras não foi possível realizar, como os festivais, ou eventos que deixaram de ser financeiramente viáveis com metade da lotação. Houve muitas contingências e encontrou-se uma solução de compromisso, mas foi melhor do que nada, no sentido em que não só os trabalhadores da Cultura precisam de trabalhar, como as pessoas precisam muito de ir ver espetáculos a bem da sua saúde mental. Se não houver espetáculos e Cultura acessível a todos, as pessoas vão sempre ter mais tendência a fazer festas ilegais e aglomerações em casa.

Até lá, onde podemos saber novidades tuas?

Podem-me ir lendo na Visão, podem-me ir ouvindo nas plataformas digitais, e podem sempre comprar os discos online. Tenho sentido muito apoio por parte das pessoas ao longo dos últimos meses de pandemia. Fizeram questão de comprar CDs, T-shirts, de ir aos concertos, de encher as salas dentro da sua lotação autorizada para mostrar que estavam de facto a apoiar os artistas e, no meu caso, que tinham gostado muito do Madrepérola e queriam retribuir. Sinto-me muito abençoada por, no meio deste caos todo, ter conseguido, pelo menos, passar a mensagem de que o disco estava lá e ter conseguido dar concertos muito especiais que ficaram registados para sempre neste EP.

A chamada Época do Ouro em Hollywood foi a que produziu maior número de duplas românticas no cinema. Estes casais permanecem, ainda hoje, no imaginário do público. Atualmente na indústria cinematográfica dificilmente se encontram atores que contracenem de forma regular como par romântico. Ainda assim, encontrámos alguns.

Groucho Marx e Margaret Dumont

A loucura anárquica que os Irmãos Marx (Groucho, Chico, Harpo) personificaram na sétima arte era dirigida contra todas as convenções e formas de poder instituído, da política aos militares, dos meios universitários aos financeiros, do domínio do desporto profissional ao da música clássica. Margaret Dumont, uma viúva multimilionária e conservadora, corporizava (e que grande corpo tinha!) o universo das elites socias e económicas e constituiu um dos alvos preferidos das investidas demolidoras do impagável Groucho. Ele tentava seduzi-la, interessado nos seus milhões, enquanto flirtava com outras mulheres mais jovens e belas. Ela, ora se deixava aliciar, ora se indignava com as atitudes e piadas depreciativas de Groucho. Da dinâmica deste par improvável, ao longo de sete filmes, nasceram algumas das cenas e dos gags mais geniais e divertidos da história do cinema. No final de Um Dia nas Corridas (1937), Margaret aceita o pedido de casamento de Groucho. Em contrapartida, ele promete não voltar “a olhar para outro cavalo”.

Sugestão: Uma das hilariantes comédias dos famosos Irmãos Marx, que reuniu a dupla Groucho e Margaret pela quinta vez, Um Dia nas Corridas, de Sam Wood.

Olivia de Havilland e Errol Flynn

Os fantásticos filmes de aventura produzidos em Hollywood marcaram o encontro entre Olivia de Havilland e Errol Flynn. A dupla conheceu-se na produção de O Capitão Blood (1935), onde a muito jovem Havilland foi escolhida para contracenar com Flynn. Este filme é o primeiro de oito onde os dois atores são o par protagonista. Ele é o herói perfeito, ela a eterna donzela que se deixa conquistar. Embora tenham vivido na tela belas histórias de amor, nunca se envolveram na vida real. Para Errol Flynn esta foi uma época áurea e o ponto alto da sua carreira.Não voltou a encontrar uma atriz que com ele formasse um par amoroso tão perfeito. Já Havilland, embora estivesse à vontade em filmes de ação e aventura, queria mais… Posteriormente a sua carreira foi marcada por outros sucessos e dois Óscares. A verdade é que nunca mais houve um par como este, nem se voltou a celebrar o espírito de aventura com tamanha pureza.

Sugestão: Um clássico do cinema de aventura em que Errol Flynn interpreta o lendário herói inglês e Havilland a sua apaixonada Marian,  As Aventuras de Robin dos Bosques, de Michael Curtiz e William Keighley.

Ginger Rogers e Fred Astaire

A dupla que animou a América durante a Grande Depressão é uma das mais conhecidas mundialmente e o par de dança mais famoso da história do cinema. Ginger Rogers e Fred Astair revolucionaram o género musical e criaram com os seus passos de dança magia na grande tela. Personificavam um ideal que espelhava glamour, graciosidade e romance e com os seus prodigiosos números de dança, aliados a canções intemporais fizeram, quem os via esquecer as agruras de uma época. Formaram pela primeira vez par em 1933, em Voando para o Rio de Janeiro (1933), onde tinham apenas um número de dança que acabou por ser o ponto alto do filme. Seguiu-se o primeiro musical, A Alegre Divorciada (1934), que marcou também a estreia de ambos como protagonistas. No total dançaram juntos em 10 filmes, reunindo-se pela última vez na tela, depois de uma década afastados, em 1949. Quem os conhecia afirma que se completavam na perfeição.

Sugestão: Considerado um dos melhores musicais de todos os tempos, inclui uma das mais perfeitas cenas de dança, Ritmo Louco, de George Stevens.

Elizabeth Taylor e Richard Burton

Uma apaixonada e conturbada dupla é formada por dois grandes nomes do cinema: Elizabeth Taylor e Richard Burton. O casal contracenou em Cleópatra (1963) e a paixão que viviam nas filmagens foi catapultada para a vida real. Na época os dois eram casados e o affair foi um escândalo. Casaram e divorciaram-se duas vezes, viveram uma vida de excesso e extravagância. No grande ecrã formaram par 11 vezes, muitas delas em filmes inspirados em obras literárias reconhecidas, cujo sucesso cinematográfico não estava à altura do livro. Interpretavam fortes paixões, mas também casais que se odiavam como Quem tem medo de Virgínia Woolf? (1966), sobre um casal em conflito, que valeu a Elizabeth Taylor o Óscar de Melhor Atriz. Apesar dos muitos sobressaltos mantiveram sempre o contacto e quando Burton morreu, a atriz confessou que nunca o deixou de amar.

Sugestão: Épico histórico que juntou a dupla pela primeira vez e que transformou definitivamente Elizabeth Taylor numa grande estrela e na mais bem paga atriz da época, Cléopatra, de Joseph L. Mankiewicz.

Sophia Loren e Marcello Mastroianni

Ao longo de 30 anos os atores italianos Sophia Loren e Marcello Mastroianni contracenaram em 11 filmes. A química entre os dois era perfeita e resultava de forma exemplar nas muitas comédias que fizeram juntos. Destaque para Matrimónio à Italiana (1964), de Vittorio de Sica, realizador que ajudou Sophia Loren a ganhar o Óscar de Melhor Atriz, em Duas Mulheres (1960). Os dois atores também interpretaram vários dramas e a intensidade da dupla transparecia no grande ecrã. Um Dia Muito Especial (1977), de Ettore Scola, onde ambos protagonizam almas solitárias e angustiadas, espelha bem essa energia. Loren e Mastroianni eram amigos na vida real, surgiram juntos no cinema pela primeira vez em 1955 e pela última em 1996, em Prêt-à-Porter. O percurso cinematográfico da dupla foi interrompido pela morte de Mastroianni, apesar disso, continuam a ser lembrados como o par mais famoso do cinema italiano.

Sugestão: Comédia de costumes adaptada da peça de Eduardo De Fillipo, que junta magistralmente a dupla de comediantes, Matrimónio à Italiana, de Vittorio De Sica.

Woody Allen e Diane Keaton

Um realizador neurótico e uma atriz complexa formam o par romântico ideal e são a temática perfeita para uma comédia intelectual. Woody Allen e Diane Keaton personificaram esse ideal, tanto na vida real como nos vários filmes (oito no total) em que trabalharam juntos. Annie Hall (1977), realizado por Woody Allen, é o expoente máximo dessa realidade, narrando de forma autobiográfica a relação entre ambos e revelando as suas verdadeiras personalidades. O filme ganhou inúmeros prémios, entre eles, o Óscar de Melhor Realizador e Melhor Atriz. A história do casal teve início na peça Play It Again, Sam (1969), que ele dirigia e onde ela representava. O sentido de humor de Keaton conquistou-o e mantiveram uma relação durante vários anos, no entanto, quando começaram a contracenar já não estavam romanticamente envolvidos. A dupla acabou por marcar uma geração com os seus diálogos existenciais, onde o humor sarcástico e autêntico elevou os filmes de Woody Allen ao patamar de culto, inspirando o público e muitos outros cineastas.

Sugestão: Comédia romântica que espelha com humor e ironia a relação neurótica de um casal e que arrecadou quatro Óscares, Annie Hall, de Woody Allen.

Lauren Bacall e Humphrey Bogart

Lauren Bacall, “The Look”, como era apelidada, tinha 19 anos quando contracenou pela primeira vez com Humphrey Bogart de 43 anos, no filme Ter e Não Ter (1944). Bacall não era grande fã de Bogart e quando o conheceu não houve uma ligação imediata. Durante as filmagens o ator ajudou-a a ultrapassar as inseguranças e os dois tornaram-se bastante cúmplices. A química que tinham enquanto par romântico transparecia na tela e acabou por manifestar-se também na vida real. Apaixonaram-se e casaram em 1945. No ano seguinte voltam a trabalhar juntos, já como marido e mulher, em À Beira do Abismo, um film noir cuja versão inicial foi adaptada para tirar o máximo partido do fenómeno de popularidade que representava a relação “Bogie e Bacall”. A dupla regressa como protagonista em mais dois filmes. A carreira de Lauren Bacall deixou de ser uma prioridade, dedicando-se ao casamento. Bacall afirmou mais tarde que nunca se arrependeu e que se tivesse investido na carreira teria perdido uma parte essencial da sua vida com Bogart. O casamento terminou 12 anos depois do enlace quando Bogart morreu.

Sugestão: Primeiro filme da dupla depois do casamento. Um film noir baseado no romance de Raymond Chandler, de 1939, À Beira do Abismo, de Howard Hawks.

Penélope Cruz e Javier Bardem

A dupla mais contemporânea das aqui apresentadas protagonizou quatro filmes como par romântico. Penélope Cruz e Javier Bradem tiveram o primeiro encontro, em Jámon Jámon (1992), o filme de estreia de uma muito jovem Penélope. As cenas quentes e o sex appeal dos atores chamaram atenção para o casal. No entanto, só passados 16 anos, na produção de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, voltam a encontrar-se. E foi precisamente quando acabaram as filmagens que assumiram a relação. O filme, para além de ter impulsionado a paixão entre os atores, deu o Óscar de Melhor Atriz Secundária a Penélope, transformando-a na primeira atriz espanhola a consegui-lo. Ao contrário do que aconteceu noutras épocas, o casal é discreto em relação à sua vida privada, o que não deixa de fazer deles, um dos pares mais populares da indústria cinematográfica atual. Já casados voltaram ao grande ecrã como par romântico em Amar Pablo, Odiar Escobar (2017) e mais recentemente em Todos Sabem (2018).

Sugestão: O mais recente trabalho do casal, um thriller psicológico onde um reencontro familiar acaba por revelar segredos do passado, Todos Sabem, de Asghar Farhadi.

A partir de agora é muito fácil “desconfinar” a vontade de leitura. O projeto BLX à sua porta já está operacional, podendo os pedidos de empréstimo, e/ou devolução, dos livros da Rede de Bibliotecas de Lisboa ser realizados por telefone ou e-mail, de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas. As entregas efetuam-se às segundas, quartas e sextas das 10 às 12h30 e das 14h às 17 horas, e as devoluções ocorrem às terças e quintas no mesmo horário.

A entrega em casa de qualquer livro deve ser solicitada previamente por telefone (218 173 090) ou e-mail (bib.galveias@cm-lisboa.pt) e abrange as 24 freguesias de Lisboa. O serviço pode ser requerido por qualquer pessoa residente no concelho de Lisboa que possua o Cartão da Rede BLX.

Ler com toda a segurança

Os membros da equipa das BLX que procedem às entregas e recolhas porta a porta cumprem todas as regras de segurança e usam os equipamentos de proteção individual aconselhados pelos serviços competentes da CML. Não entram em casa das pessoas, fazendo-se a entrega ou devolução à porta da residência, mantendo sempre a distância de segurança mínima de 2 metros.

As carrinhas de distribuição são higienizadas diariamente e a equipa de motoristas dispõe de material para garantir uma higienização sumária e regular ao longo do dia.

O serviço é gratuito. Mais informações aqui.

Ai Margarida, Camané (2013)
É, indiscutivelmente, uma das maiores vozes masculinas nacionais. Camané transformou o poema Ai Margarida, da autoria de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), em canção, com a ajuda de Mário Laginha, cujo piano assume aqui grande destaque. O tema surge na compilação O Melhor de Camané, 1995-2013.

Problema de Expressão, Clã (1997)
A canção dos portuenses Clã fala abertamente sobre o constrangimento que muitas vezes assalta quem fala sobre os seus sentimentos, e de como em português tudo se torna mais difícil de dizer. O tema faz parte do segundo disco da banda liderada por Manuela Azevedo, Kazoo, e foi o grande responsável pela explosão de popularidade dos Clã.

Zorro, António Zambujo (2010)
O menino bonito do fado gravou Zorro para o disco Guia, de 2010. O tema, escrito por João Monge e João Gil, é uma bonita declaração de amor, bem apropriada para dedicar à cara-metade. Aliás, todo o disco é uma boa banda sonora para a ocasião, com temas como A Deusa da minha Rua ou Poema dos Olhos da minha Amada.

No Dia do teu Casamento, A Garota não (2019)
Cátia Mazari Oliveira é a voz de A Garota não. A cantora setubalense lançou, em 2019, o disco de estreia, Rua das Marimbas, nº 17, onde se inclui o tema No Dia do teu Casamento. Uma canção que fala de um amor que terminou, em que uma das partes segue em frente com a sua vida enquanto a outra relembra o que correu mal na relação. Deprimente, mas bonito.

Primeiro Beijo, Cabeças no Ar (2003)
Os Cabeças no Ar surgiram pouco tempo depois do fim dos Rio Grande, um projeto dos grandes nomes da música portuguesa Rui Veloso, Tim, Jorge Palma e João Gil. Desta superbanda nasceu um disco, homónimo, que inclui os clássicos A Seita tem um Radar e Primeiro Beijo. Este último aborda um tema em que qualquer pessoa se revê: o amor inocente que surge em idade escolar.

Cedo, Samuel Úria + Monday (2020)
Samuel Úria é um cantautor que utiliza muitos recursos expressivos nas letras das suas canções, o que torna, muitas vezes, algo ambígua a sua interpretação. Em Cedo, do disco Canções do Pós-Guerra, de 2020, une a sua voz à da doce Monday (alter-ego de Catarina Falcão), para cantar sobre a beleza de envelhecer ao lado de quem se ama.

Cantiga d’Amor, Rádio Macau (2008)
Os Rádio Macau são uma das grandes bandas de rock dos anos 80. Donos de clássicos que viriam a marcar para sempre o rock português como O Anzol, O Elevador da Glória ou Amanhã é sempre longe demais, fizeram furor sobretudo no início dos anos 90. Em 2008, a banda lançou Oito, álbum onde se inclui o tema Cantiga d’Amor.

Deixa Ser, David Fonseca + Márcia (2015)
Em 2015, o camaleónico David Fonseca surpreendeu os seus fãs ao lançar, corajosamente, o seu primeiro disco em português, Futuro Eu. O álbum assume um cuidado rigoroso com as palavras, tendo obtido excelentes críticas. Num dos temas mais bonitos do disco, Deixa Ser, o tom grave de David Fonseca encontra-se com a melodiosa voz de Márcia.

Anda estragar-me os Planos, Salvador Sobral (2019)
Na edição de 2018 do Festival da Canção, Joana Barra Vaz interpretou o tema Anda estragar-me os Planos, de Francisca Cortesão e Afonso Cabral. A canção passou à final, mas perdeu para O Jardim, de Isaura. Salvador Sobral gostou tanto da música que resolveu dar-lhe uma nova vida, cujo registo se pode ouvir no disco Paris, Lisboa.

Namora Comigo, Cristina Branco (2018)
Em 2018, Cristina Branco lançou o disco Branco, que contou com várias colaborações de luxo (Kalaf, Jorge Cruz, Mário Laginha, Afonso Cabral, entre outros). Um dos temas, Namora Comigo, foi escrito pela também cantora Beatriz Pessoa. Um tema pueril, que fala sobre o amor jovem e inconsequente e que reflete a jovialidade da sua autora.

A Noite passada, Sérgio Godinho (1972)
Sérgio Godinho é uma das vozes mais icónicas do nosso País. Um autor que associamos à ‘canção de intervenção’ e um verdadeiro homem dos sete ofícios: escritor, poeta, músico, cantor, ator… Já pisou inúmeros palcos e gravou dezenas de álbuns. A Noite passada, do disco Pré-Histórias, é uma das suas canções mais emblemáticas. Para ouvir em loop, em qualquer dia do ano.

Os Búzios, Ana Moura (2007)
Ana Moura é uma das maiores cantoras nacionais da atualidade. É dona de um timbre único, e o seu nome indissociável do fado. No entanto, a artista tem uma voz verdadeiramente camaleónica, tendo dividido o palco com estrelas internacionais como Mick Jagger ou Prince. A canção Os Búzios, que surge no disco Para além da Saudade, de 2007, foi escrita por Jorge Fernando.

Paixão, Black Out (1995)
Os Black Out foram um grupo de soul e funk português que surgiu no início dos anos 90. Com a voz de Kika Santos nos comandos, o grupo lançou, em 1995, o disco homónimo, de onde saíram canções como A Sinfonia do Amor ou Paixão. Em 1998, a banda lançou um novo álbum, mas dissolveu-se pouco depois, tendo Kika Santos prosseguido com uma carreira a solo.

És onde quero estar, Mind da Gap (2012)
Os Mind da Gap surgiram nos anos 90, no Porto. O grupo de hip hop composto por Ace, Presto e Serial encerrou atividade em 2016, mas no seu percurso alcançou grande sucesso com músicas como Todos Gordos, Bazamos ou Ficamos ou És onde quero estar. Esta última faz parte do álbum Regresso ao Futuro, e conta com a participação do rapper Sam the Kid.

Frequentou o curso de cenografia da Escola Superior de Teatro e Cinema. O que passou desta aprendizagem para o seu trabalho no domínio das artes visuais?

Fiz um ano na Escola Superior de Teatro e Cinema não porque me interessasse trabalhar em teatro. O meu objectivo era mesmo ir para as Belas Artes, para escultura. Aquele foi um ano de aprendizagem de outras coisas que também me interessavam. Queria passar por ali e fazer essa transição.

Podemos dizer que a sua obra procura criar uma narrativa num determinado espaço?

Não estou interessada em construir essa narrativa. Penso que no meu trabalho existem uma série de pesquisas nas quais as pessoas entram ou não. Podem ficar pela forma que os objetos têm, mas se repararem nos títulos eles induzem, algumas vezes, certos personagens. A partir desses personagens percebemos algumas ligações a esculturas que podem ou não estar nesse espaço, relacionadas com um tempo e uma história.

A sua obra é sempre criada como resposta a uma dada situação espacial?

Nem sempre, mas nos últimos anos tenho tido a sorte de encontra pessoas incríveis que conhecem a minha obra e me convidam a fazer exposições em museus e instituições muito interessantes. Conhecendo a natureza do meu trabalho, convidam-me sabendo que gosto de me concentrar no contexto em que esses espaços se inserem.

Usa frequentemente materiais suspensos como a corda, o latão, a madeira, a cortiça. Porquê?

Faço muitas esculturas suspensas no espaço porque me interessa trabalhar sobre o sentido de gravidade e de sentir que o peso daqueles materiais seja o peso que as pessoas veem. Alguns deles vão deformando com o peso, outros não. As cordas são um suporte de resistência e comecei a trabalhar com elas por serem uma espécie de unidade de medida, uma unidade standard de comprimento, porque as questões de aferição e medição me interessam. Uso muito cânhamo que é natural e se vai degradando com o tempo. Uso também metais, nos últimos tempos o latão que está associado a alguns instrumentos musicais e é um ótimo transmissor de som, mas ao mesmo tempo também é utilizado, com um sentido mais decorativo, em edifícios e em mobiliário associado à questão do detalhe que é um elemento importante no meu trabalho. No caso do couro, ele é um material natural. Acho interessante pensar na arte como um ente que temos de tratar. Para ela perdurar temos que tratar dela. Por isso às vezes uso plantas que têm que ser regadas. O couro também tem de ser tratado, senão ao fim de algum tempo começa a secar e a perder a forma. Interessa-me a ação do tempo sobre os objetos e materiais. Serem datados da época em que foram produzidos, mas podermos reconhecer neles a passagem do tempo.

Quer falar da relação da sua obra com a arquitetura modernista?

Acho que a história que nos foi ensinada nem sempre é a mais interessante ao nível da arte, da arquitetura e do design. Houve muitas figuras que foram esquecidas e que acho muito importantes. Estou interessada em revisitar o trabalho dessas pessoas, nomeadamente uma série de mulheres arquitetas e designers. São uma cadeia de mulheres e não casos isolados, embora possa citar nomes como os da  Lina Bo Bardi e da Clara Porset, mas são muitas mais. Há um entendimento de espaço e um conceito de modernidade inerente a todas elas. Tinham em comum o interesse por uma arquitetura vernacular e, em certos casos, pelas comunidades indígenas locais.

Que fatores apontaria na sua obra como determinantes para a sua internacionalização?

Saí de Portugal porque não conseguia arranjar aqui um contexto para o meu trabalho e queria muito viver dele. Sabia mais ou menos com quem queria trabalhar e que interlocutores gostaria de ter e fui mapeando o meu terreno. O contexto das pessoas com quem nos damos e por onde circulamos permite a construção de uma identidade quase comunitária.

Esteve radicada em Berlim durante 16 anos. Porque voltou para Lisboa?

Vim porque tive oportunidade de trabalhar no espaço dos Ateliês dos Olivais e porque me interessa produzir alguns trabalhos aqui. Quis conhecer pessoas em Portugal com quem colaborar, procurando estabelecer uma plataforma de trabalho. Mas não abandonei Berlim, estou entre cá e lá.

Que trabalho desenvolve no ateliê municipal dos Olivais?

Estou a trabalhar nalgumas exposições que vou ter este ano em Bruxelas, no Japão, em Los Angeles e em Paris. Estou a tentar trabalhar no ateliê sem me deslocar o que é um bocado estranho. Eu viajo muito, por causa das minhas pesquisas visito muitos arquivos. Um dos espaços onde vou expor nunca o vi. Nunca trabalhei assim. Vou aos locais, faço pesquisas e começo a desenhar e construir as minhas peças. Aqui comecei a trabalhar com materiais que nunca tinha usado: a cerâmica, o, bambus e as canas. Porém, os materiais surgem sempre associados a pesquisas que estou a fazer.

Que projetos tem para o ano de 2021 e de que forma a pandemia de COVID 19 os condiciona?

Com a pandemia as pessoas já não vem exposições já não viajam. É triste para os artistas. Nós trabalhamos tanto e esforçamo-nos tanto para as coisas acontecerem e de repente elas já não são visitadas. Acho que a arte só pode ser experienciada ao vivo, não através dos livros ou das imagens dos media. É importante estarmos na presença do objeto artístico, caso contrario não sabemos o que ele é. Não poder viajar é o maior entrave ao meu trabalho. Não posso deixar de montar as minhas próprias exposições porque são tudo trabalhos novos e mesmo que as coisas estejam construídas antes tenho que ver como funcionam no espaço. Muitas vezes as decisões são tomadas in loco.

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