Luta Livre é um projeto que se define como música de intervenção com uma linguagem estética moderna. A cantiga continua a ser uma arma?

A cantiga pode sempre ser uma arma, e como dizia José Mário Branco “tudo depende da bala e da pontaria”. Usando esta terminologia mais bélica, parece-me que há muitos tipos de balas e muitos tipos de alvos. Tudo começa com a decisão do atirador, que escolhe a arma, a munição e o alvo. Depois, se quiser acertar, pode treinar a pontaria. Ou então atira para o ar. Quero eu dizer que a música sempre foi um meio de transmissão de mensagens por excelência, e onde as hipóteses são imensas. A intervenção pode acontecer de diversas formas, mesmo sem um discurso abertamente político. Por vezes, basta sabotar determinadas fórmulas ou falar de determinados assuntos para que se crie algum desconforto. O que interessa é pôr o ouvinte a pensar em coisas em que habitualmente não pensa. Ou a questionar coisas que habitualmente não questiona. É óbvio que a bala que faz mais estrago é aquela que vem carregada com política. E, hoje em dia, precisamos tanto de pôr as pessoas a participar na política…

A ideia nasceu do tempo em quarentena?

A ideia já estava a ser trabalhada antes da quarentena – aliás, a primeira música saiu no dia 1 de março. De há uns tempos para cá voltei a escrever com a perspetiva de fazer canções. Isto surgiu do meu hábito diário de consumo de notícias e informação. Enquanto tomo o pequeno almoço gosto de passar em revista a imprensa diária, nacional e internacional, para ficar a par do que se passa em Portugal e no mundo. Por vezes tiro algumas notas – uma frase, um pormenor da estória, os factos da notícia. A determinada altura comecei a desenvolver algumas dessas notas, e apercebi-me que podiam dar letras de canções. Não sendo um projeto planeado, nasceu até de forma bastante espontânea, tornando-se inevitável quando juntei os textos à música que andava a compor e as coisas, do ponto de vista mais musical, começaram a ganhar sentido.

Peste & Sida era rock puro e duro, A Naifa tinha uma sonoridade mais ligada ao fado, Luta Livre tem uma forte componente de jazz. A maturidade que a idade traz reflete-se na música que se faz?

Provavelmente sim. Mas a música que se faz tem sobretudo a ver com a música que se ouve. Confesso que comecei a ouvir jazz tardiamente, de há uns dez ou 12 anos para cá, e desde então tenho conhecido muitos músicos e comprado muitos discos, acho que posso dizer que já não sou um ignorante na matéria. Obviamente que o que estou a fazer não é jazz, não sou um músico de jazz, continuo a ser um músico de rock e as canções que faço têm o molde das canções de rock. Assim como as canções que fiz n’A Naifa, não eram fado.

Política, Ninguém quer saber e Iniquidade refletem uma preocupação genuína com questões políticas e da atualidade. Somos um povo desinformado?

Somos um povo e somos um mundo desinformado. De facto, com tanta informação disponível, como é que somos tão idiotas? Acho que tem a ver com a forma como fomos educados nas últimas décadas, talvez desde a Segunda Guerra Mundial. Embora no início deste período tenha havido um certo ambiente de renascença no ar, as sociedades encaminharam-se para um modelo superficial, baseado no consumo e no entretenimento básico, que levou à completa alienação de uma grande parte da população. Neste momento muita gente acha que a política é a raíz de todos males, não percebendo, nem querendo perceber, que o direito a fazer política é a única (e mais potente) arma que têm à mão para fazer valer os seus direitos. O velho conceito “dividir para reinar” está cada vez mais presente e, inacreditavelmente, continua a dar frutos.

De onde vem esta apatia tão portuguesa?

Os portugueses não são um povo assim tão apático. Na nossa história houve várias revoluções, algumas até bastante violentas, que fizeram cair governos e sistemas políticos. Acho que neste momento sofremos de um mal global. Nunca houve, na história da humanidade, uma globalização/normalização/uniformização tão clara do pensamento e dos comportamentos, e Portugal não está fora do sistema nem imune a esta tendência. Ainda assim, temos alguma massa crítica, resultado, sobretudo, da melhoria do sistema de educação pós-25 de Abril. Nunca é demais lembrar que antes da revolução mais de 50% da população portuguesa era analfabeta.

“O que interessa é pôr o ouvinte a pensar em coisas que habitualmente não pensa, ou a questionar coisas que habitualmente não questiona”

 

A leitura dos jornais e as redes sociais são um campo fértil de inspiração para as suas letras. Sente-se desiludido com o estado atual da sociedade?

Não me sinto desiludido, nada está fechado ou acabado, as coisas estão em permanente mudança e o futuro somos nós que o escrevemos. Sinto-me motivado. Se me sentisse desiludido não estaria a escrever estas canções.

Edgar Caramelo, Ricardo Toscano e o Coro Gospel Collective participam nestes primeiros temas. Foi um desafio gravarem à distância?

O Ricardo e o Edgar vieram ao meu estúdio antes da quarentena. O coro Gospel Collective foi gravado noutro estúdio, mais espaçoso, mas também antes do confinamento. Com a Kika Santos foi diferente, enviei-lhe a letra e ela gravou. Depois misturei a voz dela com o instrumental. Neste caso foi simples porque a Kika também tem um pequeno estúdio onde pode fazer as gravações. A digitalização da música, a partir dos anos 90, trouxe-nos coisas más e coisas boas. A pirataria e consequente usurpação de direitos foram as coisas más. As coisas boas foram, felizmente, mais que as más, e dessas destaco a democratização do acesso a meios de produção e gravação – hoje em dia qualquer aspirante a músico consegue, com um pequeno investimento, ter um sistema competente de gravação. Neste momento, com a tecnologia acessível disponível só não faz quem não quer.

Para já, foram lançadas três canções de Luta Livre. O plano é lançar um álbum?

O plano continua a ser o inicial, que consiste em ir mostrando as canções que vou conseguindo acabar. Confesso que, nesta altura, e olhando para o trabalho que tenho em andamento, já me passa pela cabeça poder vir a juntar todas as canções num disco, vamos ver…

Estes são tempos muito difíceis para quem vive da Cultura, o que obrigou muitos artistas a reinventarem-se. Como vive um músico nos dias que correm?

Nestes dias a principal preocupação é saber quando poderemos voltar aos palcos. Há muita ansiedade, sobretudo porque não existe um horizonte temporal, neste momento ninguém sabe quanto tempo isto vai durar (os espetáculos com as regras de distanciamento social não são solução). Tenho contornado essa ansiedade produzindo música. Para mim a quarentena, em certa medida, até está a ser benéfica, porque estou a conseguir produzir muito mais do que em situação de normalidade. Mas não podemos ficar assim muito mais tempo. Espero que se encontre a vacina ou a cura rapidamente.

O que tem ouvido nesta quarentena?

Mais tempo em casa também resultou em mais tempo para ouvir música. Tenho dado a volta aos meus discos antigos e voltei a ouvir coisas que já não ouvia há algum tempo. Mas vai dependendo da disposição e da meteorologia. Quando está calor gosto de ouvir reggae, rumbas… Quando chove é mais Massive Attack, Tricky… Por vezes de manhã, para começar com energia, ponho a tocar os clássicos dos oitentas: Dexys, Talking Heads, Devo… À noite é mais Jazz.

Com o desconfinamento em marcha, as salas de cinema podem abrir a partir de 1 de junho. Duas salas, onde o cinema de autor é protagonista, são as primeiras a exibir filmes em Lisboa: o Cinema Ideal e o Cinema Nimas. Retomar a normalidade é a palavra de ordem, embora o acesso ao cinema implique novas normas e condições de segurança asseguradas pelos dois espaços. O programa apresentado é variado e de assegurada qualidade.

A 1 de junho o Cinema Ideal apresenta Retrato da Rapariga em Chamas, de Céline Sciamma, que esteve em sala poucos dias e que é um dos mais premiados filmes do ano. São também exibidos dois documentários, com estreia programada  para maio, que assinalam os 75 anos do fim da Segunda Guerra: Quem Escreverá a Nossa História e Uma Vida Alemã. Seguem-se as estreia de Matthias & Maxime, de Xavier Dolan (18 junho), o filme brasileiro Benzinho, de Gustavo Pizzi (25 junho), It Must Be Heaven, de Elia Suleiman (2 julho) e por fim O Que Arde, de Olivier Laxe (16 julho).

Entre 11 e 17 de junho, o Cinema Bold está em destaque com seis obras que tiveram estreia em streaming e que chegam agora à sala. Também o ciclo 7.doc, que estava a decorrer em parceria com o DocLisboa, regressa, entre 25 de junho e 1 de julho, com obras que estiveram presentes no DocLisboa, em 2019.

Julho marca o regresso do cinema português com um programa de três curtas de jovens realizadoras portuguesas: Cães Que Ladram aos Pássaros, de Leonor Teles; Ruby, de Mariana Gaivão e Dia de Festa, de Sofia Bost.

No dia 10 de junho é a vez do Cinema Nimas iniciar atividade com dois clássicos de volta ao grande ecrã: 2001 – Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick e Non, ou a Vã Glória de Mandar, de Manoel de Oliveira. A 13 de junho é exibido A Cidade Branca, de Alain Tanner. De 11 de junho a 1 de julho é apresentada a segunda fase do ciclo 25x Buñuel, com especial incidência nos filmes que marcam o regresso à Europa do grande cineasta espanhol.

Entre 18 de junho e 22 de julho o destaque vai para o ciclo dedicado à cinematografia japonesa conhecida por roman porn (obras com conteúdo sexual ou nudez) da Nikkatsu, empresa de entretenimento de produção televisa e cinema. Este programa inclui 10 filmes inéditos, clássicos dos grandes mestres do género e cinco homenagens feitas por cinco dos cineastas japoneses, mais importantes de hoje.

Maria Filomena Mónica

O Olhar do Outro

Uma citação para abrir o apetite: «Os portugueses precisam de estômagos de avestruz para digerirem as toneladas de gordurosas vitualhas com que se abarrotam. (…) Tudo é guisado em banha de porco e de tal modo carregado de pimenta e especiarias que uma só colher de ervilhas e um quarto de cebola nos deixariam a boca a arder. Com tal alimentação e um tal permanente ingerir de doçaria, não é para admirar que esta gente esteja sempre a queixar-se de dores de cabeça e de gases intestinais.» O autor destas linhas é William Beckford (1760-1844), um dos ilustres viajantes que escreveu sobre Portugal. O Olhar do Outro tem por subtítulo Estrangeiros em Portugal: do Século XVIII ao Século XX, e Maria Filomena Mónica partilha as páginas do livro com umas dezenas de nomes, entre os quais Lord Byron, Hans Christian Andersen, Mark Twain, Miguel de Unamuno, Saint-Exupéry, Mircia Eliade e Jean-Paul Sartre. A autora abre cada capítulo com elementos biográficos e as circunstâncias que levaram à vinda destes estrangeiros, e escolhe depois as passagens mais suculentas e cáusticas das suas impressões. RG

Relógio D’Água

Arte de furtar/ Furto na Arte

A obra A Arte de Furtar, hoje dominantemente atribuída ao jesuíta Padre Manuel da Costa (1601-1667), é um monumento da prosa barroca, o ponto mais alto da literatura portuguesa de costumes dos séculos XVI a XVIII. A acompanhar a reedição do texto, este livro reúne ensaios e contributos artísticos de duas dezenas de autores de renome no panorama nacional, dedicados ao roubo, cópia e apropriação. Apresenta um conjunto de reflexões sobre a ideia de apropriação e cópia, com ensaios da autoria de José Bragança de Miranda, Pedro Cabral Santo (com Nuno Esteves da Silva) e de Luís Alegre. Exibe trabalhos de artistas plásticos portugueses (António Olaio, João Louro, José Luís Neto, Miguel Palma, a dupla Sara & André ou a cineasta documentarista Susana Sousa Dias) concebidos acerca da temática do apropriacionismo e plagiarismo na arte, que vão desde a influência mais direta, ou material de outros artistas e obras, até ao uso de imagens de arquivo e vernaculares, passando pelos históricos readymades. Um magnífico e luxuoso álbum que convém guardar num sítio seguro.

Stolen Books/ N Books

Paco Bou

Alicia Alonso – Prima Ballerina Assoluta

“Os mais cruéis labirintos retrocedem diante do seu passo de dança” Desta forma, o poeta José Lezama Lima prestou tributo à arte incomparável de Alicia Alonso, uma das maiores bailarias do século XX, considerada “a primeira na via láctea das grandes Giselle”. Dotada de um domínio técnico preciso e virtuoso, de uma profunda musicalidade, de uma linha de dança puríssima e perfeita, aliava uma qualidade de movimentos grácil e fluída a uma singular intensidade emocional. O seu estilo era elegíaco, frágil e etéreo. Parecia literalmente flutuar no palco, levando um crítico norte-americano a escrever, em 1967, após assistir a uma representação de Giselle: “quando o seu partenaire levantava Alicia Alonso, sentíamos uma impressão única: que não a elevava, mas que a agarrava para a impedir de voar”. O presente Álbum de Homenagem aos 100 anos do nascimento da bailarina cubana, vista pelo fotógrafo Paco Bou, inclui dois poemas com o título Dança, o primeiro, de Pablo Neruda, o segundo dedicado a Alicia Alonso, da autoria da poetisa portuguesa Joana Lapa. Uma belíssima edição que celebra o talento da bailarina que, segundo o romancista e musicólogo Alejo Carpentier, tinha “o poder de transcender o gesto, elevando-o ao plano da emoção pura”.

Centro Português de Serigrafia

Sadeq Hedayat

O Mocho Cego

Um mito paira sobre este estranho livro, o de que é portador de uma maldição: quem o ler suicida-se. O seu autor, Sadeq Hedayat, suicidou-se e o mocho Cego foi acusado de ser a causa de inúmeros suicídios de pessoas que o leram. O escritor, pai da moderna literatura persa, viveu em constante conflito entre o anseio por uma modernidade europeia (era leitor de Maupassant, Chekov, Rilke e Kafka) e as raízes tradicionalistas da sua família e do seu país. Obra de culto, O Mocho Cego é um romance obsessivo, surrealizante e existencial, sobre a imersão de um ser humano na loucura. Certo dia, um jovem, rejeitado pela mulher, vê uma rapariga com uns assustadores olhos negros e deixa-se afundar na profundeza desse olhar, dominado pela sombra e pela escuridão. Empreende, então, uma descida ímpar a um “abismo interminável numa noite eterna”. Mergulhado em visões e pesadelos, num sonho de morte, o jovem sente uma necessidade compulsiva de escrever como forma de “arrastar para fora” o “inimigo que lhe tortura a alma”. E transmite-o ao leitor.

E-Primatur

Ismail Kadaré

O General do Exército Morto

O poeta e romancista Ismail Kadaré constrói um relato que é a própria voz da Albânia milenar, simultaneamente o país da lenda e da verdade. 20 após a derrota da Itália na Segunda Guerra Mundial, um general italiano é enviado à Albânia para recuperar os corpos dos soldados italianos aí abandonados. Cruza-se com um general alemão incumbido de tarefa semelhante. Esta “tarefa odiosa” dos generais dos exércitos mortos é “uma espécie de um duplicado da guerra”. “Talvez seja mesmo pior do que o original”. Começando e acabando sob o signo da chuva e da neve, esta é uma obra irónica e feroz sobre as consequências da guerra que lhe sobrevivem durante anos. Os testemunhos orais de habitantes locais e os diários de soldados encontrados pelos oficiais, reconstituem a “época em que éramos obrigados a viver nas trevas, em que éramos forçados a esconder-nos de nós próprios”. Romance comovente que revela personalidade singular da Albânia, país “onde a bandeira simboliza apenas o sangue e o luto”.

Sextante

Fernando Sobral

A Grande Dama do Chá

Em dezembro de 1937, em Macau, ninguém ousava falar na guerra, mas ela “já germinava nas sombras, à espera da luz do dia”. Com o rápido avanço do exército japonês em território chinês, a guerra chega silenciosamente à cidade. Muitos refugiados vêm de Xangai. Entre eles está Jin Shixin, que abre a mais famosa casa de chá de Macau e que passa a ser conhecida como A Grande Dama do Chá. Mas a sua verdadeira missão é outra. Ela faz parte da tríade Bando Verde, de Du Yuesheng, outrora o mais poderoso homem de Xangai. Em Macau também encontra refúgio Cândido Vilaça, saxofonista da Benny Spade Orchestra. Entre espiões japoneses, riquezas escondidas, o ópio, o jogo e os sonhos de alguns portugueses, os caminhos de Cândido e Jin cruzam-se. Dividido entre a música e a sobrevivência, o amor e a guerra, a liberdade e o compromisso, Cândido confronta-se com escolhas quase impossíveis. O jornalista e escritor Fernando Sobral relata uma brilhante aventura em Macau, cidade que uma personagem define como “bela e sem saída”, ideal “para jogar, para fugir do passado, para encontrar o futuro.”

Arranha-céus

Eduarda Lima

O protesto

O silêncio tem um efeito apaziguador quando é falta de ruído. Mas o que acontece quando o silêncio anula os sons da presença humana e da natureza? Não será mais opressivo do que certos ruídos incómodos? O álbum de estreia de Eduarda Lima, é exactamente isso: um grito silencioso! Os pássaros deixam de cantar. Os gatos já não miam. Os insectos não emitem os seus zumbidos. As crianças param de brincar. Da floresta virgem ao rio da nossa cidade, o silêncio ecoa por todo o lado. O Protesto, com texto e ilustrações de Eduarda Lima, é uma história sobre o impacto da acção humana no ambiente e um apelo para nos unirmos hoje, em nome da biodiversidade e de um planeta mais sustentável. Neste belíssimo livro os animais e as crianças, procurando salvar a Terra, parecem ter feito um pacto de silêncio. Será que os homens conseguem entender o sentido desse sossego perturbador?

Orfeu Negro

 

Estes e outros livros estão presentes no novo podcast da Agenda Cultural de Lisboa, Livros em Agenda aqui

“Os mais cruéis labirintos retrocedem diante do seu passo de dança” Desta forma, o poeta José Lezama Lima prestou tributo à arte incomparável de Alicia Alonso (1920-2019), uma das maiores bailarias do século XX, considerada “a primeira na via láctea das grandes Giselle”. Dotada de um domínio técnico preciso e virtuoso, de uma profunda musicalidade, de uma linha de dança puríssima e perfeita, aliava uma qualidade de movimentos grácil e fluída a uma singular intensidade emocional.

“Se algum dia, Alicia Alonso se decidisse a mostrar a história dos seus gestos, dos seus movimentos, que deliciosa novela proustiana teríamos”, escreveu Lezama Lima.

O seu estilo era elegíaco, frágil e etéreo. Parecia, literalmente, flutuar no palco, levando um crítico norte-americano a escrever, em 1967, após assistir a uma representação de Giselle: “sempre que o seu partenaire levantava Alicia Alonso, provocava uma sensação única: que não a elevava, mas que a agarrava para a impedir de voar”.

Se hoje, a figura da Alicia Alonso nos surge como lendária e quase sobrenatural, um ser de uma outra era, a verdade é que a grande bailarina sempre causou essa impressão. Já em 1943, no início da sua carreira, um crítico nova-iorquino afirmava: “Alonso pertence a esse período longínquo quando uma bailarina dançava em pontas para demonstrar ao público que não era uma simples mortal, que era um ser superior, cujo único contacto com o nosso mundo pecador é o espaço reduzido em que pisa o solo”.

Alicia foi a intérprete suprema das grandes obras do repertório clássico e romântico, porém admitiu que Giselle era uma obra muito especial na sua carreira, declarando: “Entre todas as obras do ballet tradicional, Giselle é a mais completa dramaticamente e oferece à bailarina amplas possibilidades para elaborar uma personagem. O contraste entre o primeiro ato – uma ingénua camponesa apaixonada – e o segundo – um ser imaterial, espectral que, não obstante, ama para além da sua própria natureza – constitui um verdadeiro repto interpretativo para uma bailarina.”

O poder de transcender o gesto

Alicia Alonso criou a sua própria versão coreográfica de Giselle, interpretada pelo Ballet Nacional de Cuba, e que montou para a Ópera de Paris, a Ópera de Viena, o Teatro Colón de Buenos Aires, a Companhia Nacional de Dança do México e o Teatro San Carlo de Nápoles.

Alicia dançou no Ballet Theatre de Nova Iorque, nos Ballet Russes de Monte Carlo, nos teatros  Bolshoi e Kirov. Após a revolução cubana de 1959, regressou a casa e formou o Ballet Nacional de Cuba, colocando o seu país no altar da melhor da dança mundial e formando várias gerações de bailarinos. A formação da escola do Ballet Nacional de Cuba mereceu o seguinte comentário de José Lezama Lima: “Alicia Alonso já ensinava, dançando”.

A artista exerceu igualmente um relevante papel de activismo cívico em Cuba. O famoso corégrafo Maurice Béjart exalta este aspecto da sua personalidade: “A bailarina é extraordinária, o personagem não o é menos. Esta noite Giselle, amanhã Carmen, depois de amanhã com botas e uniforme de combate bailando a Revolução Cubana, nas cidades de Oriente ou nas praças de Havana.”

A bailarina ficou quase cega aos 20 anos de idade, depois de sofrer um duplo descolamento de retina. Com uma coragem e tenacidade excepcionais, compensava a falta de visão periférica treinando os seus parceiros para se colocarem sempre no lugar exacto que ela fixava e usando luzes de diferentes cores no palco como guias de orientação. “Quase cega, mas clarividente”, escreveu Maurice Béjart.

Alicia Alonso dançou ininterruptamente até aos anos 80, sem qualquer vestígio de diminuição de faculdades técnicas ou artísticas. Em 1981, o crítico do Ballet News, comentava a sua apresentação aos 61 anos de idade: “Alonso no apogeu da sua forma, deslizou, incrível e facilmente através das exigências técnicas de Giselle.”

Citamos, uma vez mais, José Lezama Lima que, evocando o encontro da arte de Alonso com a sua poesia, escreveu: “ Uma bailarina como Alicia Alonso comprova que existem entre nós miríades de iridescências, de metáforas, de reflexos, de ideias, de nascimentos e presságios que podem ter momentaneamente uma evidência, alcançando forma e esplendor ao serem dançados.”

Homenageando os 100 anos do nascimento da grande bailarina cubana, o Centro Português de Serigrafia edita Alicia Alonso – Prima Ballerina Assoluta, um álbum de Paco Bou que exerceu, durante mais de 30 anos, a função de fotógrafo pessoal de Alica Alonso. Publicação que inclui dois poemas com o título Dança, o primeiro, de Pablo Neruda, o segundo dedicado a Alicia Alonso, da autoria da poetisa portuguesa Joana Lapa.

Uma belíssima edição que celebra o talento da bailarina que, segundo o romancista e musicólogo Alejo Carpentier, tinha “o poder de transcender o gesto, elevando-o ao plano da emoção pura.”

Percorremos os catálogos das plataformas de streaming Filmin, Netflix e HBO, e descobrimos excelentes propostas de cinema para reunir a família em casa.

Papel de Natal

Cinco curtas-metragens portuguesas

(para ver na plataforma FilmIn)

Kali, O Pequeno Vampiro

De Regina Pessoa

Animação, 2012, Cores, 9’, M/12

Considerado “património cultural internacional” pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), este filme conta a história de Kali, um rapaz diferente dos demais. Tal como a lua passa por diferentes fases, também ele tem que enfrentar os seus demónios interiores para, finalmente, encontrar a passagem para a luz.

Gambozinos

De João Nicolau

2013, Cores, 19’, M/12

Esta galardoada curta narra as agruras com que, durante um campo de férias, um rapaz de dez anos se debate. Ali, é ignorado pela menina dos seus olhos e incomodado por rufias quase adolescentes que vandalizam a sua camarata. Para sua sorte, na floresta, os gambozinos teimam em não aparecer.

Papel de Natal

De José Miguel Ribeiro

Animação, 2015, Cores, 30’

Há um monstro à solta, de seu nome Desperdício, que rapta o pai de Camila, uma amorosa menina de 8 anos. Com a ajuda de Dodu, um destemino boneco de cartão, e de Sana, um Pai Natal de todos os dias, o grupo recicla o papel de embrulho de todos os presentes de Natal e o pai é libertado.

O Canto dos 4 Caminhos

De Nuno Amorim

Animação, 2014, Cores, 12’, M/12

Há muito tempo, ainda Tião tomava conta de um campo de milho, perdeu a companhia de uma pega-rabuda, ave a quem se tinha afeiçoado. Desde esse dia, em que o silêncio se abateu sobre o campo, Tião procura recuperar o canto perdido do pássaro.

Razão entre Dois Volumes

De Catarina Sobral

Animação, 2018, Cores, 8’

O Sr. Cheio e o Sr. Vazio não podiam ser mais diferentes. Enquanto o primeiro nunca perde uma memória, uma emoção ou um pensamento, o segundo, pelo contrário, não encontra nada que o preencha. Mas tudo muda quando, um dia, o Sr. Cheio decide enfrentam os medos e o Sr. Vazio resolve fazer uma viagem.

 

Dançar com os Pássaros

Cinco documentários para ver em família

(para ver na plataforma Netflix)

Lego House: Home of the Bricks

De Anders Flack

Dinamarca, 2018, Cores, 47’

Em Billund, na Dinamarca, foi construído um museu com quase 12.000 m² inspirado nas icónicas peças de Lego. Ali, entre muitas outras atrações, há dois pisos próprios para brincar, organizados por cor. Este documentário mostra os desafios enfrentados durante todo o processo da sua construção.

The Short Game

De Josh Greenbaum

EUA, 2013, Cores, 99’

Oito jogadores disputam o Campeonato Mundial Infantil de Golfe de 2012, no prestigiado campo de Pinehurst, nos EUA. Todos eles têm menos de 9 anos e chegam de locais como Manila, Filipinas; Paris, França; Joanesburgo, África do Sul, e Shenzhen, China, para se juntarem aos desportistas americanos.

Dançar com os Pássaros

De Huw Cordey

EUA, 2019, Cores, 51’

Neste paraíso, as aves levam muito a sério a arte de conquistar uma parceira. Os seus rituais de acasalamento são incríveis e em muito se assemelham a uma dança com coreografia bastante elaborada. As imagens deste documentário são verdadeiras maravilhas visuais e mostram comportamentos destas aves-do-paraíso nunca antes registados.

Waterschool

De Tiffanie Hsu

EUA, 2018, Cores, 67’

Seis jovens mulheres que vivem perto dos maiores rios da Terra, nomeadamente o Amazonas, Nilo, Mississippi, Danúbio, Ganges e Yangtze, aprendem sobre água e sustentabilidade e usam o que aprenderam para proteger as suas casas e comunidades, enquanto explicam como o programa de educação ambiental do projeto Waterschool influenciou as suas vidas.

Geração Marte

De Michael Barnett

EUA, 2017, Cores, 97’, M/7

Este documentário sobre exploração espacial, as suas origens e o seu legado explora, através de entrevistas a especialistas e a jovens que esperam poder viajar até Marte, a história e o provável impacto futuro de uma viagem ao planeta vermelho. Os aspirantes a astronautas revelam, ainda, que a viagem a Marte pode estar bem mais próxima do que pensamos.

As Crónicas de Spiderwick

Cinco longas-metragens fantásticas

(para ver na plataforma HBO)

As Crónicas de Spiderwick

De Mark Waters, com Freddie Highmore, Sarah Bolger e Nick Nolte

EUA, 2008, Cores, 92’, M/7

Quando os irmãos Jared, Simon e Mallory Grace se mudam para a velha mansão Spiderwick encontram um livro – O Guia Prático de Arthur Spiderwick para o Mundo Fantástico que nos rodeia – que lhes abrirá os olhos para um mundo invisível, estranho e, por vezes, perigoso de monstros e dragões, phookas e fadas, duendes e diabretes.

Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los

De David Yates, com Eddie Redmayne, Colin Farrell e Jon Voight

Reino Unido, 2016, Cores, 127’, M/12

Newt Scamander é o mais notável feiticeiro de todos os tempos. Em 1926, conclui uma viagem à volta do mundo, cuja missão era encontrar e documentar uma infinidade de criaturas mágicas. Depois desta aventura, o regresso de Scamander a Nova Iorque tinha tudo para ser pacífico, não fosse um No-Maj de seu nome Jacob.

Pan, Viagem à Terra do Nunca

De Joe Wright, com Rooney Mara, Hugh Jackman e Levi Miller

EUA, 2015, Cores, 107’, M/12

Por altura da Segunda Guerra Mundial, o jovem Peter, órfão, é raptado por piratas e levado para a Terra do Nunca. Peter tem a missão de libertar este pedaço de Terra das mãos do pirata Bárbara Negra e de descobre o seu destino, tudo para que se possa tornar no herói conhecido como Peter Pan.

A Bússola Dourada

De Chris Weitz, com Nicole Kidman, Daniel Craig e Dakota Blue Richards

EUA, 2007, Cores, 109’, M/12

Lyra Belacqua é uma órfã de onze anos que foi criada na Universidade de Oxford. No mundo paralelo em que vive, todas as pessoas têm uma manifestação da sua própria alma em forma de animal. Graças à sua uma curiosidade desmedida e a um grande sentido de aventura,  Lyra parte numa jornada que pode alterar o mundo para sempre.

Viagem ao Centro da Terra 2 – A Ilha Misteriosa

De Brad Peyton, com Dwayne Johnson, Michael Caine e Josh Hutcherson

EUA, 2011, Cores, 90’, M/12

Quatro anos depois da viagem com o tio ao centro da Terra, Sean recebe um pedido de socorro codificado vindo de um local ainda mais incrível e remoto: uma ilha não cartografada onde nada deveria existir. Aquele é um sítio com estranhas formas de vida, montanhas de ouro, vulcões mortais e mais do que um extraordinário segredo.

De um total de 42 candidaturas recebidas nesta edição do concurso, mais 17 do que no ano passado, o tema Amália é Lisboa, com letra de Joaquim Isqueiro e música de José Reza, foi escolhido pelo júri composto, este ano, por Renato Júnior (em representação da Sociedade Portuguesa de Autores) e pelos músicos Carlos Mendes e Rita Guerra.

Depois de vencerem o Concurso Grande Marcha, em 2009, Joaquim Isqueiro e José Reza repetem agora a vitória. Naturais de Lisboa, dividem a vida profissional com a música, “um hobby de sempre”. No caso de Joaquim Reza, o “hobby, vai um pouco mais além, tendo gravado vários discos, o primeiro nos anos 1970, acompanhado pelo Quarteto 1111. Nesta altura, chegou mesmo a partilhar o palco com Amália Rodrigues num programa de televisão, a mesma artista que agora lhe serviu de inspiração.

Este ano, a juntar ao tema obrigatório – «Lisboa» – a letra da composição do Concurso teve como inspiração «Amália Rodrigues» numa homenagem à diva do Fado para assinalar o centenário do seu nascimento.

Com mais de duas décadas, este concurso organizado pela EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, visa selecionar uma composição (música e letra), cujos atributos, tanto literários como musicais, melhor caracterizem a cidade de Lisboa, distinguindo todos os anos o tema vencedor com um prémio no valor de cinco mil e quinhentos euros.

Devido ao cancelamento das Festas de Lisboa deste ano, na sequência da pandemia do coronavírus, a composição vencedora será apresentada e interpretada por todos os participantes nas exibições e no desfile das Marchas Populares, no âmbito das Festas de Lisboa de 2021.

Estamos em quarentena. Isolados, separados fisicamente. O confinamento pode ser doloroso, não vamos mentir. No entanto, com música tudo se torna mais fácil.

Numa altura em que todos estamos a tentar Stayin’ Alive (Bee Gees), há que seguir algumas New Rules (Dua Lipa). Na fila do supermercado, por exemplo, diga a quem se aproximar demasiado: Don’t stand so close to me (The Police). Também não se pode esquecer de lavar bem as mãos, pois sem querer pode tocar em alguma coisa Toxic (Britney Spears). A brincadeira poderia sair cara, e passado uns dias começar a sentir Fever (Elvis Presley). Seguir-se ia uma sensação de Harder to breathe (Maroon 5) e teria de correr a chamar o Doctor Doctor (Thompson Twins) que provavelmente lhe diria qualquer coisa como: You sound like you’re sick (The Ramones).

Ninguém quer ser um Sick boy (The Chainsmokers), por isso o melhor é ter cuidado, mantendo sempre pensamento positivo: I will survive (Gloria Gaynor). Isolation (John Lennon) é a palavra de ordem, bem como You can’t touch this (MC Hammer), por isso nada de vacilar. O Sacrifice (Elton John) pode ser grande, mas We can work it out (The Beatles)!

Quando pudermos finalmente sair de casa e voltar à nossa rotina, cantaremos Hallelujah (Leonard Cohen)… O coronavírus veio virar as nossas vidas do avesso e obrigou-nos a grandes adaptações, mas Don’t stop believin’ (Journey)! Não há dúvida de que nada será como dantes e que It’s the end of the world as we know it (REM). No entanto, apesar das mudanças, a vida retomará o seu curso e Everything will be allright (The Killers).

O Teatro enquanto arte e ofício, ganha sentido através da presença conjunta de pessoas num mesmo lugar, a uma mesma hora, para assim vivenciarem conjuntamente uma situação ficcional e relacional entre quem executa e quem observa, entre Artistas e público, palco e plateia.

Esta crise pandémica está a paralisar o mundo de forma nunca antes vivida, circunstância que já está a influenciar os comportamentos e os relacionamentos humanos e, consequentemente, a forma como a classe artística, em plena combustão invisível, cozinha o incógnito futuro.

Por outro lado, nenhum modelo de programação consegue ainda ter resposta para uma situação em que se desconhece quando é que se regressa à vida dita normal e quais as exigências funcionais que nos vão ser colocadas, entre muitas outras questões.

O nosso olhar Meridional perante o mundo, está inevitavelmente também em processo de reflexão/ação, antevendo que as características do público, enquanto entidade recetora, também sofrerão alterações significativas e, como tal, os mecanismos e processos de comunicação terão igualmente de se agilizar inteligentemente.

Uma coisa é certa: queremos continuar a pensar e fazer Teatro e, embora a relação com o público, de imediato, só seja possível de uma forma virtual, estamos a aproveitar este período para refletir e concretizar atividades – já lançámos várias iniciativas de âmbito criativo nas redes sociais e vamos continuar a explorar esse campo de comunicação – e pensar projetos que envolvam os nossos pares e o público e que nos permitam alimentar outros saberes.

Queremos acreditar que este é um período em que todos temos de fazer ainda mais uns com os outros e, principalmente, uns pelos outros. 

O teatro, tal como o víamos e sentíamos há uns dias, irá com certeza voltar aos poucos, mas nunca será exactamente igual, pois conheceu uma “paragem” que nunca tinha acontecido na sua história. O teatro nunca tinha parado a uma escala global e de uma maneira tão imprevista e repentina. Como será o teatro uma vez superados os perigos e os abalos desta situação? Haverá sempre um antes e um depois, creio eu. 

O Teatro Aberto foi dos primeiros teatros a pôr alguns dos seus espectáculos em streaming. Entendemos essa iniciativa como um gesto cívico e simbólico, como uma forma de o teatro continuar a existir na vida das pessoas e também de ser lembrado como aquilo que era e é verdadeiramente. O verdadeiro teatro é um espaço de encontro e partilha, onde a comunicação se estabelece ao vivo entre os actores e os espectadores. O teatro precisa da proximidade do outro. É feito e acontece à vista do outro. É essa a sua essência. Quando o verdadeiro teatro voltar, como é que o público irá vê-lo? Com mais estima, pelo redobrar da alegria de se poder voltar a juntar para assistir a um espectáculo ao vivo? Ou, pelo contrário, com desconfiança, por não estar suficientemente separado? Quando e como é que os teatros vão voltar a abrir as suas portas?

Quanto tempo mais vamos estar parados? Semanas? Meses?

Nos últimos dias, tem-se ouvido falar de uma luz ao fundo do túnel. Talvez seja verdade, talvez haja essa luz. Por mais que queira, não observo só esperança nessa luz. Vejo também o comboio, com classes ainda mais desiguais e uma nova terceira classe, onde nem sequer há bancos para as pessoas se sentarem.

Quando afasto estes pensamentos sombrios, imagino que a viagem neste “Interpaíses” talvez nos leve a um bom destino e os apeadeiros sejam lugares aprazíveis. Enquanto espero vou reler um livro de Beckett que tenho ali na minha estante.

 

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Durante este tempo pensámos nas crianças e nos jovens dentro das suas casas. Queríamos que pudessem continuar a relacionar-se com o LU.CA, ultrapassando a dimensão do teatro na calçada da Ajuda, transportando esta relação para um outro lugar na ausência de lugar físico.

Durante este tempo, estivemos em diálogo com os artistas organizando calendários e encontrando soluções para cada espectáculo e actividade que estava programada, trabalhando para garantir os compromissos que tínhamos assumido.

Dado o interesse de alguns artistas em testar o que este novo contexto propõe, alguns projetos transitaram para um modelo exploratório online.

Há obras que, por alguma razão, se ampliam através deste formato. Pelas características das metodologias utilizadas pelos criadores, foi possível avançar mais do que esperávamos, e ao mesmo tempo chegar a novos públicos.

Se, por um lado, esta paragem forçada tem sido extremamente penosa, por outro vemos que está a nascer um novo tempo e um novo lugar artístico. Como resultado deste confinamento, procuraram-se soluções criativas para a resolução de novos desafios que afinal se revelaram enunciados.

É nesta capacidade de redescoberta e de exploração que queremos investir.

O LU.CA está a desenhar o seu futuro em diálogo com as equipas artísticas, com os técnicos, os professores, os investigadores e os pais, e em relação com o que está à volta.

Ir ao LU.CA é assistir a espectáculos, mas também é conviver com as artes que orbitam à volta das practicas performativas; agora passaremos a explorar essa relação nos “novos espaços”.

Os palcos que aí vêm serão vários e as dinâmicas com os públicos terão de ir para além da experiência da rotina: o corpo no espaço físico do teatro.

Um teatro para crianças e jovens vai continuar a existir porque essa experiência é única, real e intransponível,  mas queremos crescer noutros canais. Iremos fazê-lo não só construindo novas formas de contacto com as obras e com os artistas, mas também apresentando novas obras exploratórias que, acredito, se iniciem à luz deste novo contexto: projectos que encontrem no online um desafio e um contexto favorável para fazer crescer novas ideias.

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