A cultura é um valor fundamental nas nossas vidas e, por isso, depois destes dias de confinamento, não haverá incertezas na defesa desse princípio fundador da liberdade. Faremos, juntos, um caminho que nos devolva a casa os artistas e os públicos sem os quais este teatro são só paredes vazias.

O que temos para oferecer é o resultado de um compromisso com todos e cada um, técnicos, artistas e espectadores: Uma temporada preparada com o mesmo empenho e a mesma alegria que nos é característica, e onde ninguém ficou para trás.

Mas quero sublinhar isto: estamos e estaremos prontos para reforçar o coletivo e proteger cada um daqueles que vierem ter connosco. Temos consciência do impacto que algumas mudanças irão produzir nas artes da proximidade como o são as artes performativas. Serão vários os desafios a enfrentar mas nenhum deles nos faz vacilar quando afirmamos que estaremos prontos e em segurança.

É no coletivo que o desejo do teatro se converte em representação. É no indivíduo que ele se prolonga. As salas são cheias de indivíduos, não são só números. Abrimos porque vos queremos nossos cúmplices. E isso implica proteger todos e cada um.

No futuro próximo, os artistas continuarão a ser o nosso presente. Eles são o centro do nosso trabalho. Conscientes do momento que se atravessa, queremos que saibam que o São Luiz é o que tem sido por vossa causa e, por isso, estamos na linha da frente na defesa dos vossos direitos. Juntos, somos mais teatro. Juntos, saberemos olhar para estes tempos sem esconder que a fatalidade não se transforma em oportunidade ignorante. Muda-nos. E seremos, todos, melhores na mudança.

Desde que fechámos, a coisa mais importante que estamos a fazer no Teatro do Bairro Alto é encontrar maneira de, com os mecanismos legais disponíveis, assegurar o pagamento dos compromissos com artistas e restantes trabalhadores. Não deixámos de fazer planos e conjecturas, de reagendar espectáculos, de imaginar o futuro (é essa a definição de programar); mas temo-nos sobretudo concentrado no presente, é aí que começa a nossa obrigação.

Neste presente suspenso, divulgámos online a brochura que teria a nossa programação até Junho e ficou por imprimir, artefacto de uma realidade alternativa; preparamos um novo processo de obras no edifício, desta vez nas zonas de bastidores; e pensamos no que pode fazer, em tempos de isolamento, um espaço que serve para juntar pessoas.

Como o TBA, antes de abrir, começou online (com fotos e vídeos e um podcast), interessa-nos promover a interrogação de alguns formatos digitais, prosseguindo assim a nossa vocação experimental: os teatros estão fechados, mas o teatro não é impossível. E também não é obrigatório: há muitas pessoas (público e artistas) que não querem nem podem mudar-se de armas e bagagens para o Zoom. Esperaremos por/com elas.

E será talvez gradualmente que voltaremos a estar juntos, a estar perto. Pouco a pouco, que de crescimentos exponenciais já estamos fartos.

 

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Ricardo Henriques (texto) e Nicolau (ilustração)

1.º Direito

Graça, a protagonista desta história – que, curiosamente, também se encontra fechada em casa -, sente-se entediada. De forma a passar o tempo, Graça observa os seus vizinhos da janela. Entre os vários moradores do prédio da frente, vive um músico que dá concertos para a vizinhança, um fotógrafo que, crê a Graça, é incompreendido, e alguns clientes do Café Dias. Mas há uma pessoa em particular que lhe interessa mais que as outras: o novo vizinho do 1º direito. Como ele passa horas sentado a uma secretária a escrever ou a olhar pela janela, como a Graça, ela tem quase a certeza de que ele é um assaltante a planear o seu próximo golpe. Será?! E, afinal, quem observa quem? 1.º Direito é uma história de suspense e mistério, contada com cores quentes, contornos policiais e alguma intriga internacional, e que promete prender os seus leitores aos sofá. Este novo livro do Pato Lógico, que conta com os textos de Ricardo Henriques e com as ilustrações de Nicolau (ilustrações), inspira-se ligeiramente no filme Janela Indiscreta, realizado por Alfred Hitchcock em 1954 e inclui uma homenagem ao director de arte Hal Pereira, habitual colaborador do realizador.

Pato Lógico

Rachel Bright

O Leão que temos cá dentro

Nem sempre é fácil ser-se pequeno, que o diga o Rato. Mas quando este parte numa viagem em busca do seu rugido, descobre que não é preciso ser-se grande nem valente para se encontrar a nossa voz. Esta é uma história de amizade, coragem e valentia que mostra que, até a mais pequenina das criaturas, pode ter um coração de leão.

Presença

José Maria Vieira Mendes e Madalena Matoso

Para que serve?

Este é um livro para os mais curiosos. E tudo porque ele adora fazer perguntas. Na verdade, ele gosta  muito mais de um mundo com perguntas do que de um mundo com respostas. Talvez goste de alguma confusão e seja também, talvez por isso, que faz tantas perguntas: porque as perguntas confundem o mundo. E todos sabem que, um mundo sem alguma confusão e mistério, é um mundo triste e aborrecido.

Planeta Tangerina

Alice Vieira

Trisavó de Pistola à Cinta e Outras Histórias

Este livro de Alice Vieira reúne dez histórias completamente diferentes umas das outras. Histórias de programas de televisão que prometem felicidade para sempre, de avós trazidos para a grande cidade e que morrem de saudades das árvore do quintal, deste nosso tempo de famílias complicadas, de heroínas familiares que, de repente, se descobre não terem sido assim tão heróicas quanto isso.

Caminho

Christian Robinson

Outro

Este livro transporta o leitor para uma Alice num país das maravilhas para mais pequenos. Um lugar só de crianças, de brincadeiras e de passeios fora de horas. Considerado o melhor livro infantil ilustrado de 2019 pelo New York Times e pela New York Public Library, Outro é um livro mágico e sem palavras, que retrata uma insólita e colorida viagem ao outro lado do espelho.

Orfeu Negro

Eric Carle

A pequena semente

Este livro relata a aventura de uma pequena semente até se transformar numa flor gigante. Apesar da sua delizadeza, a pequena semente consegue ultrapassar todos os perigos e ameaças até se tornar na flor imensa que todos querem admirar. De uma forma só simples na aparência, Eric Carle mostra às crianças o mundo que as rodeia, descrevendo, através de cores e frases poéticas, o ciclo natural de uma planta ao longo das estações do ano.

Kalandraka

Benji Davies

Ursito Tito

Esta é uma coleção de quatro livros destinada aos mais pequeninos e que promete muita animação e aventuras. Através de ilustrações apelativas e cheias de cor, Benji Davies estimula as crianças a procurar, contar, imitar e questionar, e os mecanismos interativos presentes nos livros são ideais para os pequenos dedos dos seus leitores. Os títulos disponíveis são: Um Dia na Quinta, Aventura Pirata, Ajudar no Zoo e Brincar no Parque .

Planeta

Rubem Fonseca

O Doente Molière

Romancista, contista e argumentista de cinema, natural de Minas de Gerais, no Brasil, com uma vintena de obras editadas, Rubem Fonseca foi galardoado com o Prémio Camões 2003. A sua obra constitui uma viagem impiedosa pelo universo urbano brasileiro, sórdido, violento e perturbador, povoado por personagens desamparadas: policias e marginais, escritores fracassados, novos-ricos frustrados, mulheres e homens desesperadamente sós. Através dos seus escritos acedemos a um mundo ficcional pleno de agressividade e de humor corrosivo, mas capaz de um inesperado lirismo. Neste romance, atípico na sua obra, o autor extrapola sobre as misteriosas, e por isso mesmo famosas, circunstâncias da morte de Molière, um momento da biografia do conhecido dramaturgo francês do século XVII que se tornou uma referência no meio teatral. O relato é narrado por um marquês anónimo, membro de ilustre estirpe, mas literato falhado que “gostaria de escrever para teatro, de ser como o meu amigo Molière ou como Racine”. Daí o seu fascínio pelos ambientes e figuras do teatro francês da época.

Sextante

Ryszard Kapuscinski

Andanças com Heródoto

Heródoto foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.C., conhecida simplesmente como As histórias de Heródoto. Apelidado de “pai da história” foi o primeiro não só a reter o passado mas também a considerá-lo um problema filosófico ou um elemento de pesquisa que podia revelar o conhecimento do comportamento humano Recém-licenciado, a trabalhar para uma agência de notícias polaca e com um desejo inquieto de conhecer os povos além-fronteiras, Ryszard Kapuscinski, parte em reportagem, durante vários anos, levando consigo um exemplar das Histórias de Heródoto. Movido pelo espirito das reflexões do autor clássico grego, atravessa a Índia, a China, a Ásia Menor e a África. Nestas páginas, tenta perceber não só o rumo da História recente, como compreender os hábitos e costumes do “outro”, revelando “a percepção da cultura como espelho, onde nos podemos ver para nos conhecermos melhor”. Por isso, a cada manhã parte, incansável para uma nova viagem.

Livros do Brasil

Jorge Sousa Braga

Matéria Escura e outros poemas

Jorge Sousa Braga é autor de uma vasta obra poética, iniciada em 1981. A escrita de livros infantis é outro dos seus talentos. O seu Herbário (2014) foi distinguido com o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura Infantil. O seu mais recente livro de poesia põe fim a um longo interregno após a publicação de O Novíssimo Testamento e outros poemas, em 2012. O poeta revela-nos novas reflexões pessoais em A Matéria Escura e outros poemas, obra que se inspira naquela que, em Cosmologia, é uma forma postulada de matéria que não interage com a matéria comum, nem consigo mesma. Ela só interage gravitacionalmente e, por isso, a sua presença pode ser inferida a partir de efeitos gravitacionais sobre a matéria visível: galáxias distantes, enxames de estrelas, quasares, poemas quânticos, princípios de incerteza. No poema Glosas lê-se: “Nenhum homem / é uma ilha / muito menos um continente / mas uma estrela / que brilha / e se apaga / de repente / E mesmo depois / de se apagar / pode continuar / a brilhar e- / ternamente”.

Assírio & Alvim

William Shakespeare

O Rei João

O Rei João, uma das peças históricas menos representadas de Shakespeare, aborda um tema caro ao autor: a perturbação da vida pública da Inglaterra provocada pelas disputas dinásticas. O dramaturgo examina uma das questões essenciais na Inglaterra medieval: a ilegitimidade do governante, a usurpação do poder e a sua manutenção pela força.  Na passagem do século XII para o século XIII, o Rei João, conhecido como João Sem-Terra, defende o seu direito de governar contra Arthur, seu sobrinho, filho do seu irmão mais velho, e após a morte deste contra os seus partidários. Para tal submete-se ao Papa Inocêncio III, com o qual mantinha uma disputa. A obra, frequentemente criticada pela sua estrutura episódica e enredo errático, acaba por se mostrar adequada a representar as ambiguidades e as contradições inerentes às situações de incerteza política. O decurso da acção muda frequentemente, expondo os caprichos da fortuna num estado permanente de insegurança. Tradução introdução e notas de Nuno Pinto Ribeiro.

Relógio D’Água

Paulo José Miranda

Aaron Klein

“A vida começa com gritos de dor de ambos os lados. Essas dores ficam incrustadas nos dois seres envolvidos no nascimento. Nódoas de dor que nunca saem”. É, portanto, sobre o signo da dor que nasce o romance Aaron Klein, de Paulo José Miranda, intensa busca da interioridade mais íntima do ser humano, a partir da figura de Aaron Klein, judeu regressado a Lisboa, depois de ter deixado a cidade, ainda criança, partindo com os pais rumo a Israel, a terra prometida. A partir do ponto de vista das várias personagens que habitam o livro, num discurso polifónico, a vida, o pensamento, a escrita de Aaron Klein são reconstruídos como um mosaico, em que ficção e realidade se cruzam, para esboçar um breve tratado da infelicidade humana. Personagens reais como Helder Macedo, George Steiner, Ricardo Ben-Olien, Fernando Gil juntam-se a Vera, Ruth Munzer ou Aaron Klein, para dissolver as barreiras entre ficção e real, literatura e ensaio, mostrando que, nos livros, como na vida, todos somos estrangeiros sobre a terra.

Abysmo

Luis Landero

Chuva Miúda

Chuva Miúda é um romance que se inicia com a perspectiva de uma festa e termina em desgraça. Gabriel decide celebrar o octogésimo aniversário da mãe e, para isso, terá de contactar as irmãs a fim de reunir a família para a feliz ocasião. Todavia, estes telefonemas entre irmãos despertam rancores antigos, relembram erros do passado e põem em confronto diferentes visões do mesmo episódio. Aurora, a discreta mulher de Gabriel, é a confidente pela qual passam todas as histórias que durante anos estiveram guardadas no mais fundo de cada uma das personagens. O escritor espanhol, Luis Landero, revela que todas as famílias, sob o disfarce do amor filial, escondem uma complexa teia de invejas e jogos de poder. Simultaneamente, traça um retrato social do início dos anos 80 em Espanha, o período pós-transição do Franquismo para a democracia, através da história desta família de classe média baixa que apesar do trabalho não se consegue afastar da pobreza.

Porto editora

Schuiten, Van Dormael, Gunzig, Durieux

O Último Faraó

Originalmente criada pelo belga Edgar P. Jacobs, Blake e Mortimer é uma série de grande sucesso mundial. Os protagonistas são o professor Philip Mortimer, um destacado cientista inglês, o capitão Francis Blake, membro dos serviços secretos M15, e ainda o coronel Olrik, no papel de eterno adversário Este 26º volume da série conta com uma imagem renovada e com quatro novos autores: François Schuiten, um dos grandes ilustradores belgas, Jaco Van Dormael (realizador dos filmes premiados com Oscares e em Cannes: Totó o herói, O Oitavo Dia, Sr. Ninguém), Thomas Gunzig (autor e colunista) e Laurent Durieux (autor de cartazes notabilizado por Spielberg e Coppola). Este novo albúm, fiel, mas ao mesmo tempo muito pessoal, confronta os heróis com uma energia de origem desconhecida que ameaça a sobrevivência da humanidade. Vinda das profundezas do Palácio da Justiça, em Bruxelas, ninguém parece capaz de conseguir contê-la… a não ser, talvez, Philip Mortimer. Mas, desde O Mistério da Grande Pirâmide, o tempo foi passando. Estará o professor preparado para enfrentar os mistérios do Egito que lhe regressam à memória?

Asa

 

Estes e outros livros estão presentes no novo podcast da Agenda Cultural de Lisboa, Livros em Agenda aqui

A edição de 2020 do IndieLisboa deveria começar hoje, 30 de abril, mas não foi possível. Por isso a direção do festival decidiu apresentar simbolicamente, no dia em que aconteceria a cerimónia de abertura, grande parte da programação. O programa anunciado está quase completo, à excepção dos filmes portugueses que compõem as secções Competição Nacional, Novíssimos e Sessões Especiais.

Na Competição Internacional –  longas e curtas metragens finalizadas em 2020 ou 2019 – é pela primeira vez exibido cinema produzido na Nigéria e no Senegal. Aqui, de destacar o filme Baamum Nafi, do senegalês Mamadou Dia. O realizador trabalhou como vídeo jornalista, durante mais de oito anos no continente africano, o que  influenciou a sua obra cinematográfica. Uma obra onde a fronteira entre ficção e documentário é difícil de definir. Da Nigéria, chega Eyimofe, dos irmãos Arie e Chuko Esiri. Filmado em Lagos, dá a conhecer a dinâmica da maior cidade da Nigéria e acompanha a vontade dos protagonistas de saírem do país, em busca de uma vida melhor.

“Eyimofe” de Chuko Esiri, Arie Esiri

 

Na secção Silvestre – obras de jovens cineastas e autores consagrados –  destaque para Rizi, filme minimalista, sem legendas e onde não há praticamente diálogos, do cineasta Tsai Ming-Liang. A obra do consagrado realizador de Taiwan (que nasceu na Malásia) narra histórias de vida, centrando-se na solidão, alienação, memória e espiritualidade. Planos longos e fixos, cores fortes, silêncios que contrastam com uma riqueza sonora, são características do seu trabalho. Também de salientar a primeira realização conjunta entre Marco Dutra e Caetano Gotardo, Todos os Mortos, um retrato dos traumas não superados pelo Brasil e do racismo ainda hoje presente. O filme narra a história de duas famílias, onze anos após abolição da escravatura no Brasil. A secção Silvestre tem este ano o foco na realizadora franco-senegalesa Mati Diop, que competiu com a sua primeira longa metragem Atlantique, no Festival de Cannes. Esta obra é exibida, assim como várias curtas metragens, entre as quais Mille Soleills, que venceu em 2013 a competição internacional de curtas, uma homenagem ao filme Touki Bouki, do seu tio Djibril Diop Mambéty, reconhecido cineasta senegalês.

 

“Rizi” de Tsai Ming-Liang

 

Nesta edição são ainda apresentadas duas retrospetivas: uma dedicada à obra integral de Ousmane Sembène, pai do cinema africano. Um percurso de trabalho marcado pelo feminismo e luta de classes, contra a europeização da cultura do Senegal e a brutalidade do colonialismo; outra sobre os 50 Anos da Berlinale, que oferece um olhar sobre o passado do cinema.

Na secção IndieMusic – ligação entre o cinema e a música – a música improvisada portuguesa é homenageada no documentário Caos e Afinidades, de Pedro Gonçalves. Ainda nesta secção, destaque para Billie, de James Erskin, sobre Billie Holiday, e Le Regarde de Charles, de Marc di Domenico, sobre Charles Aznavour.

“Billie” de James Erskine

 

No Director’s Cut – filmes novos que mergulham na memória do cinema como sua principal inspiração – o realizador americano, independente e underground, Mark Rappaport apresenta Conrad Veidt – My Life, um documentário sobre o ator alemão,  Conrad Veidt, que teve uma carreira de sucesso no cinema mudo, na Alemanha. Casado com uma judia, deixou o país em 1933 devido ao regime nazi. Nesta secção são ainda apresentadas a versão restaurada de La dialectique peut-elle casser des briques? (1973), de René Viénet e El tango del viudo y su espejo deformante, filme inacabado de Raúl Ruiz, em 1967 e que foi concluído pela sua viúva, Valeria Sarmiento.

“El tango del viudo y su espejo deformante” de Valeria Sarmiento, Raúl Ruiz

 

A Boca do Inferno – obras que rasgam fronteiras de registo e temas, sem tabus – traz ao festival Vivarium, de Lorcan Finnegan, um filme de suspense e ficção científica, que acompanha um casal que procura a casa perfeita e acaba num bairro/labirinto de casas idênticas, do qual não consegue sair. Outra das obras exibidas é Spalovač mrtvol (1969), passado na 2.ª Guerra Mundial, onde um homem acredita que a cremação é a salvação do mundo e por isso resolve “por mãos à obra”.

“Vivarium” de Lorcan Finnegan

 

O Indie apresenta ainda sessões especiais, em parceria com o novo festival literário da cidade de Lisboa 5L, promovido pela Câmara Municipal de Lisboa e consagrado às cinco dimensões culturais que dão título à iniciativa: língua, literatura, livros, livrarias e leitura. Neste ciclo, são exibidos e comentados cinco filmes em que o cinema adapta, interpreta, transforma ou documenta cada uma destas cinco dimensões.

Destaque para Francisca (1981), de Manoel de Oliveira e L’ Enfant Sauvage (1970), de François Truffaut.

“Francisca” de Manoel de Oliveira

 

O festival não podia deixar de fora os mais novos, desta forma o IndieJúnior convida crianças e jovens a descobrir filmes e a explorar a arte do cinema através de outras atividades pensadas para toda a família.

Mais informação aqui

A Câmara Municipal de Lisboa anuncia a aprovação de um apoio extraordinário de 1.000.000€ (um milhão de euros) para projetos de dinamização da programação cultural da cidade.

Podem candidatar-se a este apoio os agentes dos vários setores que integram o ecossistema cultural da cidade, nomeadamente: artes visuais, artes performativas, design, moda, literatura, património, cinema, audiovisual, sendo prioritárias as candidaturas de agentes não abrangidos regularmente por sistemas, de natureza municipal ou outra, de apoio à atividade.

A CML anuncia ainda a aprovação de um reforço de 250.000€ (duzentos e cinquenta mil euros) destinado a garantir a subsistência de trabalhadores independentes e entidades culturais e criativas de Lisboa que se encontrem em particular dificuldade económica.

Estas medidas extraordinárias, juntam-se a outras, já anunciadas anteriormente pela CML para a Cultura, designadamente:

    • A isenção, até ao próximo dia 30 de junho, do pagamento de rendas por instituições culturais e por artistas individuais instalados em espaços municipais;
    • A garantia aos agentes culturais do pagamento integral dos contratos já celebrados, nomeadamente pela EGEAC, promovendo sempre que possível a sua recalendarização;
    • A aceleração dos pagamentos às entidades culturais da cidade já beneficiárias de apoios, tendo em vista apoiar a manutenção das respetivas estruturas de funcionamento;
    • O reforço do fundo de aquisições na área das artes plásticas e alargamento do seu âmbito ao setor do livro e da arte pública.

Estas várias medidas anunciadas pela Câmara Municipal de Lisboa, tentam ir ao encontro da diversidade e especificidade de cada uma das áreas artísticas e criativas que integram o ecossistema cultural da cidade, procurando preservar num quadro de solidariedade e coesão, tanto a riqueza, como a dinâmica que têm pautado a vida cultural de Lisboa.

Para mais informações  relativas às medidas agora anunciadas consultar a Loja Lisboa Cultura a partir de dia 17 de abril, abrindo as candidaturas no próximo dia 20 de abril.

 

Mais informação.

 

Adenda de 24 de maio de 2020: A Câmara Municipal de Lisboa vai duplicar para 500 mil euros o apoio social de emergência aos artistas independentes, face ao elevado número de candidaturas – 233 artistas e 62 entidades.

Em tempos inesperados e de espera infinita, o mundo assiste, em casa, ao que acontece lá fora. No meio de toda esta incerteza, a Cultura continua a chegar às pessoas, dando-lhes formas de se distrair e de passar o tempo. São muitas as iniciativas de artistas nacionais e internacionais: concertos online, peças de teatro em streaming, visitas virtuais a exposições… Os tempos que vivemos obrigam os artistas e os agentes culturais de todo o mundo a reinventar-se, mantendo o contacto com o público através da tecnologia e das redes sociais. E é isso que se preparam para fazer alguns dos nomes mais famosos do planeta.

Vários artistas internacionais juntam-se para o evento One world together at home, com curadoria de Lady Gaga. Em Portugal, o programa será transmitido no dia 18 de abril, às 01h (hora local) e conta com a apresentação dos carismáticos Jimmy Fallon (The Tonight Show), Jimmy Kimmel (Jimmy Kimmel Live) e Stephen Colbert (The Late Show with Stephen Colbert).

A norte-americana Lady Gaga é a curadora do evento.

 

Para além da participação de algumas das personagens mais emblemáticas da Rua Sésamo, One world together at home conta com as atuações de Alanis Morissette, Andrea Bocelli, Billie Eilish, Billie Joe Armstrong (dos Green Day), Burna Boy, Chris Martin, David Beckham, Eddie Vedder, Elton John, Finneas, Idris e Sabrina Elba, J Balvin, John Legend, Kacey Musgraves, Keith Urban, Kerry Washington, Lang Lang, Lizzo, Maluma, Paul McCartney, Priyanka Chopra Jonas, Shah Rukh Khan e Stevie Wonder.

Para saber mais sobre este evento ou sobre como pode ajudar a tomar medidas, consulte o site oficial do movimento Global Citizen.

A t-shirt solidária de Harry Styles

O músico Harry Styles (ex One Direction) deitou mãos à obra para ajudar a Organização Mundial de Saúde (OMS) nestes tempos conturbados, em que toda a ajuda é pouca. O cantor britânico lançou uma t-shirt cuja receita será doada ao Fundo Solidário de Resposta ao COVID-19, da OMS, apoiado pela Fundação das Nações Unidas.

Harry Styles lançou uma t-shirt para apoiar a OMS

 

A t-shirt encontra-se disponível para aquisição aqui por $26 e por um período limitado. Este donativo pretende apoiar o trabalho da OMS no sentido de acompanhar e compreender a propagação do vírus, garantir que os pacientes recebem os cuidados de que necessitam e os trabalhadores da linha da frente recebem os mantimentos e informações fundamentais, e para acelerar os esforços para o desenvolvimento de vacinas, testes e tratamentos.

Saiba tudo aqui.

A Bold que, em tempos normais, estreia um filme por mês, (quase sempre) em simultâneo nas salas de cinema, DVD e VOD, adapta-se à nova realidade e avança para a estreia, entre 23 de abril e 28 de maio, de seis novos filmes. Uma homenagem a alguns dos mais originais realizadores da atualidade e ao bom cinema independente.

Histórias de vários cantos do mundo, com temáticas díspares, mas que comprovam que a normalidade depende do olhar de cada um.

A 23 de Abril:

MONOS
De Alejandro Landes
Com: Sofia Buenaventura, Moises Arias, Julianne Nicholson
Thriller | 2019 | 102 min | M/16
No remoto cume de uma montanha, algures na América Latina, um grupo rebelde de adolescentes com nomes de guerra faz treinos militares enquanto vigia uma prisioneira americana, a quem chama Doutora, e uma vaca leiteira recrutada em nome de uma força sombria conhecida por A Organização. O frágil equilíbrio altera-se quando uma emboscada leva o esquadrão para a selva. Os laços complexos fraturam-se e a missão começa a colapsar.

Alejandro Landes é um realizador, produtor e argumentista colombiano-equatoriano. Formado na Brown University em Economia Política, iniciou a sua carreia no jornalismo. Monos é o seu terceiro filme.

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A 30 abril:

SALVE SATANÁS?
De Penny Lane
Com: Jex Blackmore, Nicholas Crowe, Lucien Greaves
Documentário | 2019 | 95 min | M/14
Narrando a extraordinária ascensão de um dos movimentos religiosos mais entusiasmantes e controversos da História dos EUA, Salve Satanás? é um documentário inspirador e divertido. Quando os membros sagazes de O Templo Satânico organizam uma série de ações públicas destinadas a defender a liberdade religiosa e a desafiar a autoridade corrupta, provam que, com pouco mais do que uma ideia inteligente, um sentido de humor negro e alguns amigos rebeldes, se pode desafiar o poder de modo bastante profundo. Tanto encantador e engraçado como estimulante, Salve Satanás? oferece uma oportuna visão sobre um grupo de excluídos incompreendidos, cujo compromisso inabalável pela justiça social e política deu força a milhares de pessoas pelo mundo.

Penny Lane realiza filmes não ficcionais galardoados e inovadores há mais de uma década. Atualmente, Lane é professora associada no Departamento de Arte e História da Arte na Universidade de Colgate, zona onde vive.

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A 7 maio

RAINHA DE COPAS
De May el-Toukhy
Com: Thrine Dyrholm, Gustav Lindh, Magnus Krepper
Drama | 2019 | 128 min | M/16
Anne, uma bem-sucedida advogada, vive numa belíssima casa modernista com as suas duas filhas e o marido Peter. Mas quando Gustav, o filho problemático de Peter de uma relação anterior vai viver com eles, Anne cria uma relação íntima com o jovem que põe em risco a sua vida perfeita. Aquilo que parecia inicialmente um ato de libertação, transforma-se numa história de poder, traição e responsabilidade, com consequências devastadoras.

May el-Toukhy é uma realizadora e argumentista dinamarquesa de origem egípcia. Nascida em 1977, trabalhou em teatro antes de fazer a transição para o cinema. Estudou produção na Danish National School of Performing Arts (DDSKS) e realização na National Film School of Denmark. Rainha de Copas é a sua segunda longa-metragem.

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A 14 maio

100 POR CENTO CAMURÇA
Um filme de Quentin Dupieux
Com: Jean Dujardin, Adèle Haenel, Albert Delpy
Comédia | 2019 | 77 min | M/14
Georges, 44 anos de idade, e o seu casaco, 100% camurça, têm um plano.Um filme sobre a loucura, que tem como personagem principal um homem descontrolado.

Quentin Dupieux é um realizador e músico autodidata que nasceu em 1974, em Paris.100 por Cento Camurça é já o seu sétimo filme.

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A 21 maio

LIBERDADE
De Kirill Mikhanovsky
Com: Chris Galust, Lauren ‘Lolo’ Spencer, Maxim Stoyanov
Comédia/Drama | 2019 | 110 min | S/Class CCE
Vic, um jovem desafortunado russo-americano, conduz uma carrinha de transporte de pessoas incapacitadas em Milwaukee. Já atrasado, num dia em que começam protestos e à beira de ser despedido, concorda, relutantemente, em levar o avô e vários idosos russos a um funeral. Inspirado em experiências da sua própria juventude, o realizador Kirill Mikhanovsky, proporciona-nos uma comédia hilariante, tocante e optimista.

Kirill Mikhanovsky nasceu na Rússia e cresceu em Moscovo. Após o colapso da União Soviética, Mikhanovsky imigrou para Milwaukee, onde teve uma série de empregos. Formou-se na Escola de Cinema da Universidade de Nova Iorque. O seu primeiro filme, Sonhos de Peixe, venceu o Prémio Regard Jeune na Semana da Crítica do Festival de Cinema de Cannes. Liberdade é a sua segunda longa-metragem.

A 28 maio:

EMA
De Pablo Larraín
Com: Mariana Di Girolamo, Santiago Cabrera, Gael García Bernal
Drama | 2019 | 102 min | S/Class CCE
Os pais adoptivos Ema e Gastón são espíritos livres artísticos, num grupo de dança experimental. As suas vidas são lançadas para o caos quando o filho, Polo, se envolve num acidente violento. Com o casamento a desabar por causa da decisão de abandonar o filho, Ema embarca numa odisseia de libertação e autodescoberta, enquanto dança e seduz a caminho de uma ousada nova vida. Centrado na sinuosa e eletrificante arte da dança reggaeton, Ema é um retrato de uma jovem em chamas, a história de um temperamento artístico obrigado a lutar contra a pressão da sociedade e a necessidade de se conformar. Uma exumação psicologicamente sagaz da vida latino-americana sob restrições, com uma heroína inesquecível que está determinada a viver livremente no mundo, enquanto eletrifica todos e tudo à sua volta.

Pablo Larraín nasceu em Santiago, em 1976, é um dos maiores realizadores de cinema do Chile. Os seus filmes são diretos, geralmente agressivos e intercalados com violência, revelando um retrato cru do seu país. O  filme El Club (2015) venceu o Urso de Prata de Melhor Realizador no Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Cartas para Miguel Torga

“A sua sensibilidade é de tipo igual à do José Régio – é confundida, em si mesma, com a inteligência, O que em si é ainda por aperfeiçoar é o modo de fazer uso dessa sensibilidade.” Este é um excerto de uma carta de Fernando Pessoa datada de 6 de Junho de 1930 enviada a Adolfo Rocha (Miguel Torga) agradecendo o envio de Rampa, o seu segundo volume de poesia. A comparação com Régio não terá sido bem acolhida pelo jovem poeta, numa fase de afirmação, provocando uma resposta a Fernando Pessoa “de tom agreste”. Este notável conjunto de cartas recebidas por Miguel Torga abarca um período de sessenta e quatro anos (de 1930 a 1994) e reúne um extraordinário número de correspondentes. Bastará citar alguns deles – Teixeira de Pascoaes, Óscar Lopes, Adolfo Casais Monteiro, Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, Ruben A., Urbano Tavares Rodrigues, Jack Lang ou Gonzalo Torrente Ballester – para avaliarmos a importância deste epistolário para o conhecimento da história literária, cultural e política do século XX português. Organização e prefácio de Carlos Mendes de Sousa.

Dom Quixote

Ana Teresa Pereira

O Atelier de Noite

O Atelier de Noite tem por base um acontecimento na biografia de Agatha Cristie: o seu desaparecimento durante onze dias. Esta circunstância já havia dado origem, em 1979, ao filme Agatha, de Michael Apted, com a grande atriz Vanessa Redgrave no papel da escritora. A temática singular de Ana Teresa Pereira sempre se aproximou das narrativas policiais, mantendo o elemento do mistério marcado pelas referências literárias, cinematográficas e pictóricas. Na sua obra mais recente a autora cria um relato fragmentário que não pode ser reconduzido ao domínio da autobiografia e que em vez de esclarecer o enigma, o adensa (“Não nascemos para ser explicados”, “Para mim também, o mistério ficou sempre por resolver”). Narrado, ora na primeira, ora na terceira pessoa do singular, a protagonista Agatha parece desdobrar-se em múltiplas vozes, entre narradora e personagem da sua própria narrativa (“E quando me fazem perguntas sobre ela, sobre mim, sobre os onze dias de mistério, eu digo que ela estava a dançar num hotel em ruínas”).

Relógio D’Água

Poemas Eróticos dos Cancioneiros Medievais Galego-portugueses

Os textos dos cancioneiros galego-portugueses são composições em verso, de caracter profano, na sua maioria poemas interpretados nos saraus das cortes régias e nos salões dos senhores feudais, para entretenimento e divertimento. Foram escritos entre os séculos XII e XIV, em Portugal, Galiza, Leão e Castela, em galaico-português pois embora em cada uma dessas regiões o povo falasse a sua língua, esta era a forma de expressão culta utilizada pelos poetas trovadores. Historicamente, dividem-se em cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer. Porque o tema da presente recolha é o erotismo, Vitor Correia, organizador, tradutor e prefaciador da obra, não selecciona apenas cantigas satíricas, mas também cantigas de amigo e de amor nas quais a sexualidade surge de forma mais ou menos implícita, mais ou menos subtil. Belíssima antologia que organiza, pela primeira vez, estes poemas dispersos e os apresenta traduzidos para português contemporâneo, tornado acessível a todos uma herança cultural extremamente rica do nosso património literário.

Guerra & Paz

António Pigafetta

A Primeira Viagem em Redor do Mundo

Na biografia que escreveu sobre Fernão de Magalhães, Stefan Zweig descreve António Pigafetta como “um singular idealista que se lança ao perigo, não por causa da glória ou do dinheiro, mas por genuína paixão de aventuras, diletante na mais bela aceção da palavra, põe a vida em perigo pela alegria de ver, de aprender e de admirar”. Em agosto de 1519, Fernão de Magalhães içou âncoras do porto de Sevilha na primeira viagem de circum-navegação do globo. Embarcado como representante da corte de Veneza, estava Antonio Pigafetta, um dos 18 sobreviventes da expedição, que foi o cronista da grande aventura, num livro publicado pela primeira vez em Veneza, em 1536, traduzido em várias línguas. Este relato vigoroso e preciso de uma das mais importantes expedições dos descobrimentos é agora publicado em português. Voltando a citar Stefan Zweig: “Nunca o feito histórico está completo quando realizado, mas quando é transmitido à posteridade. Os vultos históricos são sombras e as acções diluem-se no incomensurável mar dos acontecimentos, sem o cronista que as esculpe, quando as narra.”

Oficina do Livro

Saul Friedländer

Pio XII e o Terceiro Reich

Saul Friedländer, Professor na Universidade da Califórnia, é mundialmente reconhecido como um dos maiores especialistas do Nazismo e do genocídio dos judeus, assunto a que consagrou numerosos livros, nomeadamente a monumental obra em dois volumes A Alemanha Nazi e os Judeus. Foi galardoado com o Prémio Pulitzer, em 2008. Segundo o autor, o Papa Pio XII “sentia uma predilecção pela Alemanha que a natureza do regime nazi não parece ter atenuado” (…) e por outro lado “recava acima de tudo uma bolchevização da Europa”. A partir destes dois elementos, Friedländer analisa o silêncio da Papa perante o extermínio dos judeus. No momento da sua publicação, em 1964, a obra suscitou uma forte polémica, impondo-se depois como um livro de referência. Quase meio século mais tarde, em 2009, quando o Vaticano tinha já posto em marcha o processo de beatificação e canonização de Pio XII, o autor reinterpretou todo este material à luz de novos dados, dando origem ao presente livro que investiga a atitude do Sumo Pontífice perante a questão polaca, a derrota da França, o ataque alemão contra a União Soviética, a entrada dos EUA na guerra e os crimes nazis, nomeadamente a exterminação dos judeus.

Sextante Editora

Alain Corbin (Direcção)

História da Virilidade II

A virilitas romana, da qual a palavra virilidade deriva, funde as qualidades sexuais (do marido possante, procriador) com as qualidades psicológicas (do homem ponderado, vigoroso, corajoso e comedido), num ideal de força e vontade, segurança e maturidade, certeza e dominação, autoridade física e moral. Esta obra monumental reflete sobre a transformação do ideal viril nas sociedades ocidentais segundo as culturas e os tempos: os universos sociais, as subculturas, o ambiente urbano ou rural, guerreiro ou letrado. Uma questão deu origem ao presente estudo: a virilidade está em crise nas sociedades contemporâneas? Será ela própria um ideal anacrónico, fechado no passado ou estará a passar por mais um processo de metamorfose em busca de novas identidades? O primeiro de três volumes descreveu a formação do ideal viril na Grécia e na Roma Antiga e acompanhou as suas variações durante a época medieval e a Renascença. O segundo volume centra-se no século XIX, período em que o sistema de representações, de valores e normas que constitui a virilidade se impõe com força máxima, sobretudo através da expansão colonial e industrial.

Orfeu Negro

Rainer Maria Rilke

O Livro de Horas

Poeta austríaco (1875/1926), autor das Elegias de Duíno, Rainer Maria Rilke expressava um conceito da arte como vocação quase religiosa. Definia o seu processo de escrita como uma “reversão” através da qual os poemas lhe eram ditados por uma suposta “consciência universal”. Os seus temas são o amor, a morte, os terrores da infância, a angústia existencial e a questão de “Deus”, que via mais como uma “tendência do coração” do que como um ser supremo identificável. O presente volume, dividido em três livros,  está na base da fama de Rilke enquanto poeta. Os Livros de Horas eram breviários (livro de orações usado pelos sacerdotes) difundidos do século XII ao XVI e destinados a leigos, contendo orações para determinados momentos do dia, como é notório no primeiro livro deste volume. Os outros dois livros apontam para a vida como peregrinação, enfrentando adversidades como a pobreza e a morte. Jorge de Sena sublinhou a “magnificente imaginação metafórica” desta obra que descreveu como “poéticas meditações religiosas, embebidas do vocabulário do misticismo e do ritual católico, que o simbolismo francês pusera em moda”. Maria Teresa Furtado Dias, tradutora e apresentadora da obra, pela primeira vez publicada na íntegra em Portugal, propõe uma sua aproximação à estética da Arte Nova.

Assírio & Alvim

Chimamanda Ngozi Adiche

Todos devemos ser feministas

Esta edição adaptada aos mais jovens e ilustrada por Leire Salaberria parte de um famoso e influente ensaio pessoal onde Chimamanda Ngozi Adichie apresenta uma definição única do feminismo no século XXI. Nesta exploração sobre o que significa ser mulher nos dias que correm, a escritora parte da sua experiência pessoal e defende a inclusão, a igualdade e os direitos humanos, desafiando todos a sonhar e a planearem um mundo diferente. Chimamanda Ngozi Adiche, uma das escritoras mais importantes na actualidade, nasceu na Nigéria, em 1977, tendo ido estudar para os Estados Unidos aos dezanove anos. A sua obra está traduzida para mais de trinta línguas. É autora dos romances A Cor do Hibisco, Meio Sol Amarelo e Americanah; da coletânea de contos A Coisa À Volta do Teu Pescoço; e dos ensaios Todos Devemos ser Feministas e Querida Ijeawele. A sua obra foi já distinguida com diversos prémios, dos quais se destacam o National Book Critics Circle Award, o Orange Prize, o Commonwealth Writers’ Prize e o PEN Pinter 2018.

D. Quixote

 

Estes e outros livros estão presentes no novo podcast da Agenda Cultural de Lisboa, Livros em Agenda aqui

No final da década de 1950, o pintor expressionista Mark Rothko aceita a encomenda do Edifício Seagram, em Nova Iorque, para conceber um conjunto de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons. Para o ajudar na obra, o conceituado artista contrata um jovem assistente, Ken, estabelecendo-se entre os dois um diálogo reflexivo, muitas vezes violento, sobre a arte, o ser artista e a vida. O crescimento intelectual do discípulo acaba por confrontar Rothko com os tempos que mudam e, simultaneamente, com a perceção que o mestre tem do próprio percurso e do seu lugar na arte.

Da autoria de John Logan, reconhecido argumentista de Hollywood, coautor dos guiões de Gladiador e O Aviador, Vermelho é uma apaixonante ficção histórica em torno de um dos mais importantes pintores do século XX. Vencedora de vários prémios de teatro referentes a 2010, a peça “é uma discussão sobre a arte com o condão de dizer respeito a artistas e criadores, mas também ao mais comum dos espectadores”, nas palavras do encenador João Lourenço.

O ator António Fonseca interpretando o pintor Mark Rothko em “Vermelho”, de John Logan.

 

Assumindo em palco a figura de Rothko, António Fonseca destaca a admiração sentida pela “personalidade egocêntrica e misantrópica” do artista, mas com “uma notável capacidade de pensar a humanidade e a relação entre a arte e o ser humano”. No permanente conflito entre mestre e discípulo vivido em palco, fica o tempo e o espaço para que também o espectador seja capaz de pensar a arte e a vida, na esperança de, como diz o pintor, nunca “o preto devorar o vermelho.”

Sobre Mark Rothko

Nascido em 1903, em Dvinsk, na Rússia, Marcus Rothkowitz  (nome de batismo de Mark Rothko) é o quarto filho de um farmacêutico judaico que emigra em 1910 para os Estados Unidos da América. Em 1913, a família junta-se a ele, estabelecendo-se em Portland, Oregon. Ao longo do seu percurso escolar, Rothko demonstra grande interesse pelo estudo da arte, do teatro e dos clássicos, garantindo uma bolsa de estudos que lhe permite entrar na Yale University, onde estuda com Max Weber. Em 1923, acabará por abandonar Yale sem ter concluído o curso.

A paixão pelo teatro leva-o a Nova Iorque onde tenta ingressar, embora sem sucesso, no American Laboratory Theater. Acaba por se matricular na New School of Design e, entre 1925 e 1928, trabalha como ilustrador gráfico. Expõe pela primeira vez, em 1928, ao lado de Milton Avery, que se tornará seu mestre e amigo. Cinco anos depois, Rothko tem a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Contemporary Art Gallery. Em 1935, ao lado de Adolf Gottlieb, funda o grupo The Ten que se baseia nos princípios da pintura realista, na exploração do expressionismo e da pintura abstrata, opondo-se ao conservadorismo dos círculos artísticos da época.

Mark Rothko

Dez anos depois, Rothko é já um pintor aclamado e expõe nas mais conceituadas galerias nova-iorquinas. Em 1952, surge ao lado de Clyfford Still e Jackson Pollock na histórica exposição Fifteen Americans no MoMA. Meia dúzia de anos depois, e após alguns colegas o acusarem de “desejar obter um êxito burguês” subvertendo a sua obra, Rothko aceita uma encomenda milionária de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons. Mais tarde, abandona o projeto e devolve a totalidade da verba recebida.

1961 é o ano em que o MoMA acolhe a primeira retrospetiva da sua obra. No ano seguinte, o pintor rescinde o contrato com a Sidney Janis Gallery em protesto contra o apoio dado por esta à pop art. Rothko sofre um aneurisma em 1968, e os médicos proíbem-no de pintar telas com mais de um metro de altura. No ano seguinte, doa à Tate Gallery de Londres nove dos murais criados para o Four Seasons, com a premissa de que lhes seja dedicada uma sala onde possam figurar em conjunto [ver video]. Suicida-se, no seu estúdio, a 25 de fevereiro de 1970, dia em que os murais chegaram a Londres.

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