Como preâmbulo ao espetáculo, Mónica Calle, rodeada das mais de três dezenas de atrizes e instrumentistas que integram o elenco de Carta, dirige-se ao público para caracterizar o que se sucederá como um ato de “fraternidade, resistência, superação e fé”. Qualquer palavra proferida durante aqueles breves minutos soará, certamente, ainda mais à flor da pele, quando se percebe que estamos a dias de um novo confinamento e que as portas dos teatros voltarão a fechar-se ao público.
É uma antestreia dupla para um espetáculo que já se debateu com as circunstâncias do tempo que vivemos. Muitas pessoas, muito risco e ensaios perturbados por casos de Covid-19 que afetaram o desenrolar dos trabalhos, como confidencia a atriz e encenadora. Mas Carta, vai ter direito a mostrar-se ao público em duas noites, enquanto não puder cumprir o número de récitas previstas pela temporada do Teatro Nacional D. Maria II. Acontecem a 12 e 13 de janeiro, às 19 horas, na Sala Garrett, naquela que é a primeira vez que uma criação de Mónica Calle pisa aquele histórico palco de Lisboa.
Carta é uma nova etapa de um processo iniciado há sete anos, ainda no Cais do Sodré, na sala da Casa Conveniente, na Rua Nova do Carvalho. Sucede a Ensaio para uma cartografia, um dos trabalhos mais aclamados da atriz e encenadora, que estreou há quase três anos na Sala Estúdio deste mesmo Teatro, e que, desde então, se apresentou em diversas salas do país e da Europa.
Agora, à “família” de atrizes que Calle reuniu ao longo dos anos, juntam-se 16 instrumentistas profissionais para dar continuidade a um ritual de teatro, música e dança clássica, onde o corpo se torna lugar de “questionamento perante as suas limitações e as suas capacidades de superação”. Atente-se que este “processo” se inicia com um conjunto de atrizes que, sem formação em música nem em dança clássica, se desafiam individual e coletivamente no movimento do bailado clássico e na execução de trechos de peças clássicas.
Por isso, como “sombra” de Calle no processo criativo de Carta está o maestro Martim Sousa Tavares, que considera este “trabalho como uma experiência única de aprendizagem incessante”. Cabe-lhe fazer a direção musical do espetáculo, “retirando do pedestal andamentos da Sétima Sinfonia de Beethoven e desconstruindo-os em trechos”, que ora são executados pelas instrumentistas, ora pelas atrizes, ou por todo o coletivo, nomeadamente com “a introdução de um novo instrumento”: a voz.
Tal como Ensaio, Carta é, como diz a encenadora, “um lugar de utopia e de afirmação onde só podemos existir enquanto indivíduos na ligação com os outros”. É este o combustível da cartografia que Mónica Calle vem construindo e que parece ganhar uma dimensão ainda mais esmagadora quando o espetáculo subir ao palco, a tão poucos dias de artistas e espectadores voltarem a estar separados. Outra vez.
As crianças são um público mais desafiante do que os adultos?
É uma experiência muito diferente da de apresentar concertos para adultos, sem dúvida. Gosto muito da espontaneidade das crianças e a peça Nocturno (2017) que criei com Victor Hugo Pontes, que envolveu idas a escolas durante o processo de criação e conversas pós-espetáculo, fez-me querer continuar a tê-las por perto, porque é simultaneamente exigente e divertido.
Qual foi a reação mais inusitada que obteve de uma criança durante um espetáculo seu?
No final de uma apresentação do concerto Eu gosto muito do Senhor Satie, uma criança veio ter comigo com um ar preocupado e disse ‘Agora estou com um problema. Eu achava que gostava do saxofone, mas agora acho que gosto mais do piano!’.
Em janeiro, leva As Árvores não têm Pernas para andar ao São Luiz. Porquê esta temática?
Em 2019 assisti a uma conferência de Emanuele Coccia no CIAJG, em Guimarães, onde o filósofo referiu que se apercebeu, a propósito da educação da filha, que às crianças é ensinada a diferença entre os animais mas não entre as árvores, o que limita desde logo a fruição desse mundo maravilhoso e tão diversificado. Na altura apontei esta ideia num caderninho e, quando recebi o convite da Fundação Lapa do Lobo para fazer um espetáculo portátil com toy piano, lembrei-me de passar do papel à ação e fazer o espetáculo à volta dessa temática, dando assim uma pequena contribuição para algo que julgo bastante pertinente.
Qual foi a parte mais difícil, mas também a mais gratificante, ao montar este espetáculo?
A cenografia tem um papel preponderante no espetáculo e foi literalmente um quebra-cabeças articulá-la com as outras componentes. Por isso dei por mim horas a fio a manipular cubos gigantes: quem me visse diria que estava a brincar – e não posso dizer que não fosse divertido – mas, até conseguir definir a logística associada, houve alturas em que me senti verdadeiramente em apuros.
Que efeitos pode ter a música no universo de uma criança?
A música é um mundo muito vasto e estimulante a vários níveis e os benefícios de estudar um instrumento não são uma novidade. É muito comum que as crianças gostem de cantar e dançar e é pena que, com o tempo, muitas percam essa naturalidade.
Em que altura percebeu que a música era o seu caminho?
Há sensivelmente 11 anos, quando o meu amigo Rui Ribeiro me ouviu a cantar em tom de brincadeira e me propôs gravar uma música em sua casa sem me dar grandes pormenores sobre o que estaria eventualmente a planear. Eu desconhecia totalmente que ele trabalhava para uma agência de música e que naquela altura estavam à procura de uma nova artista para lançar no mercado.
Os seus primeiros discos tinham uma sonoridade soul e funk muito forte, mas o mais recente, Confessions, tem uma estética sonora diferente. De onde veio esse desejo de mudança?
Quando lancei os primeiros discos, a soul music era um género que estava a descobrir e que ouvia muito, talvez isso tenha influenciado na altura de escolher os temas e a estética para o arranque de tudo. Na verdade, sou uma pessoa que não gosta de pensar em rótulos e que acredita que um cantor é muito daquilo que consome, que ouve, que vive no momento e deve, sem dúvida, deixar-se levar por tudo isso, porque acaba por tornar tudo mais orgânico e verdadeiro. Julgo que é isso que acontece no meu caso quando decido lançar um novo trabalho e me reúno com a minha equipa para decidirmos a sonoridade de um novo disco. Sinto a necessidade de seguir o coração e o que lanço tem tudo a ver com o meu estado de espírito, as influências que sobrevoam a minha cabeça e os meus ouvidos; e deixo que as coisas surjam naturalmente sem limitações ou entraves.
À medida que a idade vai avançando sente mais vontade de arriscar, de fazer música de forma diferente?
Sinto cada vez mais vontade de ser fiel a mim própria, isso sim! De passar mensagens que me sejam importantes, de contar histórias que me toquem o coração e o de quem as ouve, de cantar o que gosto realmente e de ser cada vez mais feliz a fazer música.
Confessions reúne segredos seus e de várias pessoas que lhe são próximas. A música tem também um papel catártico?
Sem dúvida! Costumo dizer que a música é uma terapia, não só para quem a está a ouvir, mas para quem a está a cantar ou tocar. Tem sido a minha fiel companheira ao longo destes dez anos e já me trouxe muitos momentos felizes, de purga, de recuperação, de força… A música tem o poder de fazer tudo isso, as artes têm o poder de fazer tudo isso! A cultura salva e ampara o ser humano de muitas formas diferentes!
Juntamente com Marisa Liz, criou o projeto Elas. Como surgiu a ideia?
A ideia de trabalharmos juntas já tinha passado pela cabeça das duas há algum tempo, parecia uma coisa inevitável de acontecer algures nas nossas vidas… Entretanto a Marisa antecipou-se e, num convite para jantar, acabou por me fazer a proposta, que era irrecusável e que me deixou extremamente feliz! É maravilhoso poder partilhar música com um ser humano que nos é próximo e de quem gostamos muito, como uma amiga!
Depois dessa experiência a cantar em português, pensa lançar, um dia, um disco totalmente em português?
Claro que sim, nunca esteve fora de hipótese e vai acontecer muito em breve.
De que forma é que o confinamento tem influenciado o seu trabalho? Trouxe-lhe inspiração e tempo para compor?
Durante o confinamento, curiosamente, não tive vontade de cantar, compor, nem me sentia criativa. Foi uma fase para refletir, para fazer um balanço daquilo que foram os últimos dez anos, tentar perceber o que seria o futuro e aceitar o presente. Não foi nem está a ser uma fase fácil, mas neste momento já estou a aproveitar para trabalhar, investigar, ouvir muita música nova e preparar-me para voltar com novos temas.
Para quando um novo disco?
Estamos numa fase complicada para gerir timings ou fazer planos, mas teremos certamente um novo trabalho em 2021.
Dia 15 de janeiro sobe ao palco do Campo Pequeno para um concerto inserido no festival Santa Casa Portugal ao Vivo. Como vai ser regressar ao palco em plena pandemia e com a lotação mais reduzida do que o habitual?
Estou muito ansiosa, com muita vontade que o dia chegue! Os concertos que fizemos este ano foram todos muito especiais, com a emoção à flor da pele por parte de toda a equipa. Queremos fazer o melhor para quem nos está a ver e nunca sabemos quando vamos voltar a ter um novo espetáculo, então é um misto de sensações que nos deixam o coração bem apertado e sem vontade de deixar o palco.
Um desejo para 2021?
2020 foi um ano de desafios, que nos fez parar e olhar para a vida de uma perspetiva completamente diferente, e que testou, sem dúvida, a nossa capacidade de luta e resiliência… Desejo, acima de tudo, muita saúde, e desejo que todos tenhamos esperança por um futuro melhor, empatia e espírito de entre ajuda. Acredito que só conseguiremos ultrapassar isto juntos, que assim melhores tempos virão e esperemos que seja o mais rápido possível.
Talvez devêssemos começar por esclarecer o porquê do seu espetáculo anteceder o título original da peça de Anton Tchekhov com o artigo indefinido “um”…
Em primeiro lugar porque é uma dramaturgia, uma adaptação e um olhar sobre a peça. Em segundo, Ivanov é escrito apontando duas razões: o repúdio pela mentira e pela intriga, e a compreensão humanista por todas as personagens – aliás como é característica de todas as suas obras, que nunca acusam nem criticam, deixando ao público a avaliação moral sobre as personagens. Neste caso, a mentira é repugnante, e como nós vivemos na era das não-verdades e das fake news, isto ganha um especial relevo. Outra coisa muito importante em Ivanov é o acentuar feito à possibilidade das pessoas não serem heróis, de poderem estar deprimidas, de não terem resistência ou resiliência, e não passarem a ser bandidos por causa disso.
Essa fraqueza ou incapacidade de ação das personagens é algo muito presente na literatura do final do século XIX.
Estava na moda por via dos pós-românticos, pelos “Baudelaires” e os poetas do spleen, e o Tchekhov vai escrever alguma coisa sobre isso. Mas não lhe chegou, e acaba por ir mais longe ao tratar o entorno daquela depressão que atinge o protagonista. E eu achei muito interessante enfatizar tudo isso, colocando o foco na mentira que mata e no direito a que todos temos de não conseguir resistir ao infortúnio…
Direito esse, de novo, muito em causa, agora não tanto pelo darwinismo social, mas por via do pensamento neoliberal.
Porque o mundo de hoje pede que sejamos heróis, mas muitos de nós não o conseguem ser. Isso acontece com muitos dos nossos semelhantes; e acontece com o Ivanov que, num ano, deixou de ser o homem forte e resistente, um semi-intelectual e proprietário rural, e passou a ver a vida desenvolver-se num sentido negativo, tornando-se depressivo. Refém de dívidas, passa por infortúnios, torna-se vítima da má-língua. E tudo aquilo que o repugna acaba por lhe ser imputado.
Chegou a referir não saber, quando começou a pandemia, se devia continuar a trabalhar esta peça. Mas, pelas suas palavras, parece perfeita para o agora.
Estávamos a começar a ensaiá-la em fevereiro, portanto, pouco antes de começar o desastre em que nos encontramos. Durante o confinamento pensei em abandoná-la mas, a dada altura, percebi que se isto é sobre a mentira, sobre a importância dos outros em nós e nós nos outros, sobre a capacidade e a incapacidade de resistência, nada poderia ser mais atual.
Terá sido a experiência do confinamento a dar essa luz sobre a peça e, consequentemente, a indicar o caminho que iria tomar a sua encenação?
A minha encenação é focada no sentido daquilo que ressalvei anteriormente. Dai o “Um” a anteceder o título original, embora esses sejam os temas da peça. Durante o período em que estivemos fechados em casa, ocorreu-me que, se calhar, devia fazer outra coisa que tivesse mais a ver com o momento. Mas, nesse período percebi: “isto”, o Ivanov, é o momento. Aliás, é um texto sobre todos os momentos difíceis porque passamos ao longo da vida, e por que passaram tantos outros que nos antecederam, noutras crises, noutras catástrofes.
Portanto, esta é a peça que encaixa no aforismo da “espada desembainhada contra a mentira e a demagogia” dos tempos, de que fala no texto de apresentação do espetáculo?
Eu acho que sim. Aliás, penso que essa era a intenção do Tchekhov no seu tempo, porque a peça opõe Ivanov, “o fraco”, ao seu inimigo Lvov, “o honesto, o sério”, o que passa a vida a julgar o “fraco” a partir dos seus preconceitos. Ora, no mundo há muitos Ivanovs e Lvovs. É muito engraçado como o autor, em carta a um amigo (que decidi traduzir para o programa do espetáculo), escreve: “se o público sair do teatro com a convicção que os Ivanovs são uns malandros e os doutores Lvovs são grandes pessoas, só me resta retirar-me e enviar ao diabo a minha pena.”
Será que a pandemia não nos terá tornado a todos personagens num drama tchekhoviano?
Talvez. As personagens do Tchekhov são um convite à reflexão sobre o que é o ser humano, no sentido de todas terem o bom e o mau, de mostrarem o quão difícil é ser pessoa. Agora, aquilo de que estou certa é que o contexto da pandemia só agudizou o que já estava mal no homem e na nossa sociedade, da saúde à educação, passando pela economia ou pela cultura. Mas tenho a esperança de que estes tempos tão difíceis acabem por ser uma revelação para todos nós. Digo-o no sentido do caminho que temos feito até aqui, na nossa relação com os outros ou com a natureza, o modo como vivemos e olhamos para as nossas necessidades. Até as culturais que, creio, uma larga maioria das pessoas não reconhece.
Entristece-a a falta de reconhecimento para com a cultura?
Infelizmente, a cultura nunca ganhou o estatuto de bem essencial. Para muitos ainda somos vistos como os párias, os preguiçosos, os neurasténicos, os que não têm resiliência. Por cá, a cultura foi sempre olhada como algo que não faz muita falta – não se come poesia nem pintura, não é? Mas mantenho a esperança de que, com toda esta crise, algo venha a mudar. Veremos!
Como é que tem sido, para uma companhia de teatro independente como A Barraca, sobreviver neste tempo?
Difícil. A nossa prioridade foi manter todas as pessoas que trabalham connosco, e até aqui conseguimos. Mas, A Barraca vive dos apoios do Estado, dos contratos com o sistema de ensino e do público. Ora, a bilheteira significa mais de um terço da receita da companhia, e ela desapareceu praticamente desde março, embora, nos meses de verão, tenhamos feito um conjunto de espetáculos [A Barraca a Céu Aberto] no Jardim de Santos. Porém, como tínhamos muito medo, limitámos tanto as lotações que a receita foi residual.
Isso obrigou Um Ivanov a ser um espetáculo adaptado às dificuldades?
É um espetáculo muito austero em termos de montagem, mas isso permitiu-nos um exercício muito interessante, com um conjunto de cadeiras a criar diversos climas e uns três ou quatro adereços muito impactantes. O verdadeiro investimento e a paixão d’ A Barraca são os textos e os atores, e é com isso que trabalhamos.
E como está a ser para os atores trabalhar neste contexto?
Mantêm a paixão e o entusiasmo de sempre. Não nego que há medos para vencer, que há uns raros constrangimentos que surgem, mas confesso que há muito tempo que não tinha tanto prazer a ver os atores crescerem em cena. É um regresso à vida para nós, e espero que o público nos acompanhe. O maior medo que tenho é, precisamente, que o público não venha, que se tenha habituado demasiado ao sofá. Porque o nosso trabalho só faz sentido com o público na sala.
Annie Ernaux
Uma Paixão Simples
A reedição de Uma Paixão Simples, agora na Coleção Miniatura, e no ano em que a editora já nos dera o maravilhoso Os Anos, da mesma autora, não terá sido coincidência, mas efeito da exibição da adaptação ao cinema deste livro curto (cerca de 70 páginas), pela realizadora libanesa Danielle Arbid, aquando da mais recente edição do Lisbon & Sintra Film Festival. Perguntamo-nos, não tendo visto o filme, o que pode ser a visão cinematográfica de um livro todo em discurso interior, de memórias fugazes de um romance que terminou, entre uma mulher de meia-idade divorciada, e um homem de Leste, mais novo, casado, viajante. Relação que apanhamos em andamento, nos momentos de espera da mulher, e na presença fugaz e fantasmagórica do homem. A escrita de Annie Ernaux é depurada e frontal, ao ponto dos seus livros poderem ser tidos por autobiográficos. Ernaux estabelece com o leitor um pacto de intimidade, ficamos próximos desta mulher (ou mulheres), independentemente de a lermos ou não como se tratando dela mesma, pela riqueza da sua exposição franca e despojada. Livros do Brasil
Mickaël Correia
Uma História Popular do Futebol
“Cresci num bairro privado de Buenos Aires… privado de água, de luz, de telefone”, ironizava Diego Maradona. O pibe de oro, herói mítico do futebol, manteve sempre uma sólida consciência de classe. A sua personalidade indomável, provocatória e subversiva consubstanciou a ideia de Jorge Luís Borges de que “o argentino (…) não se identifica com o Estado. O argentino é um individuo, não é um cidadão”. Ora, é justamente pelo poder subversivo do futebol, não como fenómeno mundializado, paradigma do desporto mercantil e da cultura de massas, mas como arma de emancipação, que este livro se interessa. Para além do universo futebolístico dominante, a presente obra propõe uma abordagem social e politica do fenómeno, descrevendo episódios em que que o desporto-rei esteve ao serviço das lutas contestatárias. Dos jovens operários de bairros pobres aos movimentos anti-coloniais e feministas, passando pelas subculturas da modalidade, o futebol fez emergir novas formas de organização e representação. Da Palestina à Africa do Sul, dos hooligans ingleses aos Ultras na Primavera Árabe, eis um impressivo relato do futebol como jogo de resistência e oposição à ordem estabelecida. Orfeu Negro
Anton Tchékhov
Peças em Um Acto
A medicina é a minha esposa, a literatura a minha amante”. Após terminar o curso na universidade de Moscovo, Anton Tchékhov tornou-se assistente do médico distrital de uma pequena cidade de província. A sua profissão permitiu-lhe contactar de perto tanto com os camponeses como com os membros da nobreza, momentaneamente igualados na doença, trazendo-lhe o profundo entendimento da condição humana que haveria de reproduzir nos seus contos e teatro. As suas peças – A Gaivota, O Tio Vânia, As Três Irmãs, O Cerejal – afastam-se dos aspectos melodramáticos e da acção tradicionais para se centrarem na vida emocional dos protagonistas. Os seus dramas do quotidiano formam uma pintura irónica e melancólica das classes médias russas e dos seus destinos medíocres. As peças em um acto, chamadas “vaudevilles” à falta de melhor designação, continuam a ser separadas das suas grandes peças. O tradutor António Pescada salienta as diferenças entre elas: “Nas peças de ‘grande formato’ (…) as personagens têm sonhos e aspirações que não se realizam; nas peças em um acto as personagens têm apenas pretensões lastimáveis, preocupações mesquinhas e absurdas.” Relógio D’Água
Isabel Meira & Bernardo P. Carvalho
Gosto, Logo Existo
“A internet tem o peso de um morango, mas polui mais do que a indústria dos aviões”. Este livro, aconselhado a leitores a partir dos doze anos, acredita que é importante fazer perguntas e que as respostas não estão todas no Google. Quando a maioria dos leitores desta obra nasceram já estava tudo ligado e nem lhes parece possível que o mundo funcione de outra forma. No entanto, a internet mudou — e ainda está a mudar — muita coisa no mundo, incluindo o jornalismo. Através da internet, apareceram gigantes invisíveis como a Google e o Facebook que, não sendo empresas de jornalismo, transformaram a nossa forma de aceder à informação. Nas redes sociais, as notícias parecem supersónicas e as visualizações, os likes e as partilhas podem chegar aos milhões. O problema é que os rumores, os boatos e as mentiras também. Habituámo-nos a receber a informação e a desinformação que nos chega através de algoritmos secretos. Vivemos numa enorme bolha de likes e partilhas. Mas será que conhecemos bem as regras do jogo? Planeta Tangerina
Victor Correia
O que é o Radicalismo?
O conceito de radicalismo, assim como outro que nos tempos atuais lhe surge por vezes associado, o de populismo, é usado para expressar as novas tendências político-sociais. Tanto um como o outro são dos que mais caracterizam o mundo de hoje, porém o seu significado e emprego são geralmente ambíguos e mesmo confusos, dado que não se compreende a que se referem e o que cada um deles realmente é. Neste livro, O professor e investigador Victor Correia examina a que áreas o conceito se aplica – na política (de direita e de esquerda), na religião (o fundamentalismo), na filosofia (as ideias filosóficas ditas radicais), e na arte (o vandalismo) -, abrindo caminhos para a compreensão dessas áreas a partir do conceito de radicalismo e, no sentido inverso, desse conceito a partir das áreas às quais se aplica. Mostra também o que existe de comum e de diferente no radicalismo em cada uma das áreas. Numa linguagem acessível à generalidade do público, relaciona o conceito de radicalismo com outros conceitos semelhantes, analisando os pontos de convergência e de divergência, e mostra a sua ambiguidade e subjetividade. Guerra & Paz
Eduardo Mendoza
O Rei Recebe
No seu livro Mundo Mendoza, Llàtzer Moix fala de “realidade bifronte” ao referir-se à narrativa de Eduardo Mendoza e estabelece uma distinção entre suas novelas sérias ou maiores, e os seus divertimentos ou novelas menores. Contudo, a esta diferenciação escapa a seriedade, o sentido crítico e a noção de transcendência presente nos seus romances de humor e o humorismo omnipresente nos seus romances sérios. A mais recente obra de Mendoza, O Rei Recebe, é um exemplo perfeito desta transversalidade. O livro inaugura uma nova trilogia literária, As Três Leis do Movimento, que percorrerá os principais acontecimentos da segunda metade do século XX. Ambientada em Barcelona, como quase todas as suas obras, narra a história do jornalista Rufo Batalla que, em 1968, recebe o seu primeiro trabalho: cobrir o casamento de um príncipe exilado com uma dama da alta sociedade. Divertidas coincidências e mal-entendidos levam-no a travar amizade com o príncipe, que lhe encomenda a escrita da sua história. O opressivo ambiente da Espanha franquista leva-o a viajar para Nova Iorque, onde virá a ser testemunha dos grandes fenómenos sociais e culturais dos anos setenta: os movimentos antirracista, gay e feminista, e as novas vanguardas artísticas. Sextante
Margaret Atwood
No Alto da Árvore
As recentes adaptações televisivas de The Handmaid’s Tale e Alias Grace tornaram a escritora Margaret Atwood numa celebridade. Porém, a autora era já um nome de culto entre os leitores mais atentos. The Handmaid’s Tale, originalmente publicado em 1985, vendeu milhões de exemplares, deu origem a um filme (com argumento de Harold Pinter e realização de Volker Schlöndorff), a uma ópera de Poul Ruders e afirmou-se como alegoria política digna de Admirável Mundo Novo ou de 1984. Lamentavelmente, esta notoriedade não se estende à sua notável obra poética, remetida à semiobscuridade pela fama de romancista. Para a autora a poesia representa o cerne da sua relação com a linguagem, enquanto a prosa reproduz a sua visão moral do mundo. No Alto da Árvore revela-nos outra faceta do seu talento, o da escrita e ilustração para crianças. A obra, sobre dois meninos que vivem no cimo de uma árvore, foi desenhada nos primórdios dos livros infantis publicados no Canadá. Só podiam ser usadas duas cores, porque três encareciam muito a impressão: daí o azul, o vermelho e o castanho que é uma combinação das duas. Limitação que a autora transcendeu de forma brilhante. Edição bilingue com tradução portuguesa de Margarida Vale de Gato. Ponto de Fuga
Nos últimos anos, têm surgido novas galerias que têm vindo a reforçar o panorama artístico de Lisboa, mas a verdade é que o dinamismo criador e artístico de Lisboa não é de hoje. No final da década de 1960, após a saída de Salazar da chefia do governo e a subida de Marcelo Caetano ao poder, assistiu-se a uma paulatina democratização na sociedade e um consequente interesse pela arte contemporânea. Foi nesta altura que surgiram as galerias mais antigas, algumas das quais ainda hoje em funcionamento, como a 111, a São Mamede, a Módulo, a Diferença e a Quadrum. São estas cinco que fomos conhecer.
GALERIA 111
Rua Dr. João Soares, 5B | 217 977 418 | www.111.pt
Terça a sábado, das 10h às 19h
Fundada em 1964 por Manuel de Brito, começou a sua atividade como uma livraria onde se faziam encontros regulares com artistas emergentes. Várias gerações de artistas expuseram nesta galeria, que nunca se manteve confinada a uma só geração de nomes históricos conceituados. Desde o seu início até aos dias presentes, continua a ter a preocupação de promover a apresentação de exposições de um vasto conjunto dos artistas nacionais – e alguns internacionais – mais representativos.
GALERIA DE SÃO MAMEDE
Rua da Escola Politécnica, 167, e Rua Maestro Pedro Freitas Branco, 11A / B / 213 973 255 / www.saomamede.com
Segunda a sexta-feira, das 11h às 20h, sábado, das 11h às 19h
A Galeria de São Mamede surgiu em 1968 a partir de um antiquário, pela mão de Francisco Pereira Coutinho. O espaço chegou ainda a exibir algumas antiguidades, mas rapidamente, e a conselho de Cruzeiro Seixas, começou a expor artistas surrealistas. A galeria, que se dedicou
exclusivamente ao modernismo e ao movimento contemporâneo portugueses, com exibições pontuais de artistas estrangeiros, tem tido uma atividade artística regular, intensa e de qualidade, apoiada em artistas clássicos que sempre lhes estiveram ligados, como Areal,
Cesariny, o próprio Cruzeiro Seixas ou Nadir Afonso, mas também em artistas novos.
GALERIA QUADRUM
Rua Alberto Oliveira, Palácio dos Coruchéus, 52 / 215 830 022 / www.galeriasmunicipais.pt
Terça a sexta-feira, das 11h às 13h e das 14h às 17h, sábado e domingo, das 10h às 12h
No início da década de 70 (1973), surgiu uma galeria que se revelou como um dos espaços mais importantes para a internacionalização dos artistas portugueses: a Galeria Quadrum. A Quadrum foi, aliás, a primeira galeria a internacionalizar-se com a sua participação na feira Art Fiera, em Bolonha, Itália, em 1977. Considerada como um “laboratório de arte experimental portuguesa” pela sua fundadora, a artista e colecionadora Dulce D’Agro (1915-2011), a galeria, que agora pertence à Câmara Municipal de Lisboa, incitou, logo em 1974, o lançamento de novos estilos artísticos em Portugal, trazendo do estrangeiro artistas de movimentos como a Op Art, a arte cinética, a Body art e a video art.
GALERIA DIFERENÇA
Rua São Filipe Nery, 42 c/v / 213 832 193 / www.diferencagaleria.blogspot.com
Terça a sexta-feira, das 14h às 19h, sábado, das 15h às 20h
A Galeria Diferença foi um dos poucos~espaços que surgiram na segunda metade da década de 70, durante uma fase de profunda recessão económica. Não obstante, conseguiu manter as suas portas abertas até aos dias de hoje, marcando uma presença bastante importante no panorama galerístico lisboeta. A Cooperativa Diferença Comunicação Visual foi fundada em 1979 por António Palolo, Ernesto de Sousa, Fernanda Pissarro, Helena Almeida, Irene Buarque, José de Carvalho, José Conduto, Maria Rolão, Marília Viegas e Monteiro Gil. Criada como um espaço de artistas para artistas, esteve ligada ao lançamento de muitas carreiras e tendências marginais e polémicas da arte portuguesa. Ao longo das várias décadas a galeria apresentou mostras de diferentes géneros artísticos, da gravura ao vídeo, passando pela performance, escultura e instalação.
MÓDULO CENTRO DIFUSOR DE ARTE
Calçada dos Mestres, 34 A/B / 213 885 570 / www.modulo.com.pt
Terça a sábado, das 15h às 19h30
A Módulo abriu primeiro no Porto, em 1975, e só em 1979 Mário Teixeira da Silva se mudou para Lisboa. A galeria propunha-se como um espaço cultural orientado para as novas tendências na arte contemporânea, que se revelaram nos finais da década de 70, e sempre teve as suas características identificadoras bem delineadas. Mais de quatro décadas depois, Mário Teixeira da Silva ainda se encontra à frente da Módulo, que continua a apostar nos artistas que representa, em artistas estrangeiros de reconhecido interesse na atualidade, na
fotografia contemporânea e na apresentação de novos artistas nacionais. Em simultâneo, a galeria tem desenvolvido um trabalho fértil na organização de exposições dos seus artistas no estrangeiro e, nos últimos 20 anos, tem vindo a participar em várias feiras de arte internacionais.
Por isso, neste mês de dezembro, a Agenda Cultural de Lisboa foi conhecer o trabalho de seis artistas, das mais variadas áreas, que criam e trabalham especialmente para o público mais difícil do mundo. É que trabalhar para e com miúdos pode ser uma alegria e um desafio, até porque, muitas vezes, eles vêem as coisas através dos olhos que os adultos se esquecem que existem.
Catarina Oliveira e Ana Sofia Santos
Designer e cenógrafa | atriz e produtora
Ana Sofia é atriz e produtora, Catarina tem a seu cargo o design e a cenografia. Juntamente com Noélia Fernandes, responsável pela dramaturgia, e com vários atores profissionais, dão corpo à Cativar, uma associação cultural que cria peças de teatro para a infância. Com enredos originais ou a partir de histórias tradicionais, a Cativar apresenta espetáculos que integram movimento, música e muitos finais felizes, nunca esquecendo o lado educativo e pedagógico. A principal mais-valia da associação, que promete sempre exibições muito divertidas e lúdicas, é a capacidade de, graças à portabilidade e adaptabilidade dos seus cenários, levarem as peças às escolas, nomeadamente a creches e jardins de infância. Os espetáculos da Cativar têm também presença assídua na Fábrica Braço de Prata aos fins de semana e, este mês, apresentam naquele espaço as peças Pinheirinho de Natal (dias 5 e 12, às 11h) e A Loja dos Sonhos de Natal (dias 19 e 26, às 11h). Através de fantoches, personagens dinâmicos e marionetas, os espetáculos da Cativar fazem as delícias de miúdos… e graúdos.
Rodolfo Castro
O pior contador de histórias do mundo
Argentino a viver em Portugal, Rodolfo Castro sempre quis ser o melhor contador de histórias do mundo. E, para ser o melhor, estudou, treinou, trabalhou e… não conseguiu. Então, pensou que se não conseguia ser o melhor, podia ser que conseguisse ser o pior. Estudou, treinou, trabalhou e… conseguiu! “Eu sou o pior contador de histórias do mundo: conto as piores histórias do mundo ao pior público do mundo”, assim se apresenta este habitante do conto. “Esta denominação tem a ver com o registo com que eu trabalho e que está um bocadinho fora do politicamente correto para crianças. São histórias muitas vezes provocadoras, transgressoras, até mesmo cruéis, que têm muito a ver com a minha visão do mundo e que gosto de partilhar com os mais pequenos. E eles alinham, gostam mesmo muito, porque as crianças são muito cruéis.” Rodolfo também escreve e, nos últimos tempos, tem feito ainda trabalhos de ilustração, tendo mesmo já editado alguns livros que começaram por ser histórias orais mas que, devido à sua aceitação, decidiu passar para o papel.
Rui Ferreira “Oliveirinha”
Ator e clown
Define-se como investigador na área do clown, do teatro físico e manipulação de objetos e, durante o seu percurso, já fez vários espetáculos de autoria própria, workshops e formações. Tem também subido a palcos mais específicos, como os contextos hospitalares: “Oliveirinha” é Dr. Palhaço e diretor artístico na Associação Remédios do Riso desde 2014 e, desdramatizando, leva o riso e a fantasia a crianças hospitalizadas. Homem dos sete ofícios, dirige atualmente o curso de Técnicas Circenses para famílias, no Chapitô, que surgiu a partir da sua vontade de criar oportunidades de envolvimento entre pais e filhos, proporcionando um momento de aprendizagem, mas também de convívio entre famílias. “Trabalhar com crianças é, para mim, uma escolha inata. O percurso do clown está inevitavelmente ligado ao imaginário infantil. Além disso, trabalhar a arte com e para as crianças permite-nos fomentar o papel decisivo da arte na educação social, na gestão sensorial, na construção emocional do indivíduo. A arte está para as crianças como a água está para as plantas – é uma necessidade inata. E o contacto com elas torna-nos indubitavelmente pessoas melhores, fazendo do mundo também um lugar melhor.”
Severino Moreira
Pai Natal
De barba branca e ar bonacheirão, Severino Moreira veste a pele de Pai Natal há muitos anos, alegrando há já duas décadas aqueles que chegam nesta altura do ano ao Centro Colombo. Severino acredita que personificar o Pai Natal “não pode ser só vestir-se de vermelho. O Pai Natal deve empenhar-se para dar credibilidade à personagem, porque quanto mais credível for, mais corresponde ao sonho e à expectativa das crianças. Lidar com os mais pequenos é lidar com um mundo maravilhoso, onde a surpresa é constante, e eles merecem, seguramente, o melhor de nós.” Infelizmente, Severino não tem só histórias boas para contar e considera importante falar desta realidade: “se vivo momentos de muita satisfação, muita alegria e muito regozijo, também tenho momentos de alguma tristeza, nomeadamente quando me chegam situações de violência familiar.” No entanto, considera que é pelo facto de poder viver esta amálgama de experiências que lhe dá um enorme prazer fazer de Pai Natal. “Cada dia é um dia diferente e ainda que chegue ao fim do dia tantas vezes fatigado, termino-o com a alma cheia.”
Madalena Matoso
Ilustradora
Madalena Matoso é ilustradora. Na maior parte das vezes, de livros. “Sempre tive muito interesse pela relação entre palavras e desenhos. Como se contaminam, mudam, influenciam, questionam, revelam ou escondem por estarem perto uns dos outros. Uma palavra ou uma ideia podem ser ilustradas de muitas formas diferentes. A imagem pode fugir da palavra e esconder-se, pode ser um eco da palavra, pode ser um espelho (deformado ou não), podem caminhar juntas e podem não concordar em tudo.” Madalena gosta de combinações palavras/imagem intrigantes e com algum mistério, como se pode ver no seu mais recente livro, O gnu e o texugo — Cuidado com o vento (texto de Ana Pessoa, edição da Planeta Tangerina), onde há duas histórias que, ao irem pelos ares, ficam todas baralhadas. Os desenhos são iguais em ambas as narrativas, mas, afinal, já não são bem os mesmos. Muitos dos livros que ilustra são para crianças, mas talvez não sejam só para crianças. “Interessa-me a infância por ser um tempo de curiosidade, de experimentação. Ali, está tudo em aberto.”
Paulo Cordeiro
Músico e professor
Paulo Cordeiro integra o projeto Música para Bebés, organizado pelo Conservatório de Música de Sintra e que leva sessões de música às Bibliotecas Municipais de Lisboa, ao Museu de Lisboa e não só. Recorrendo a canções, com ou sem palavras, a melodias e a padrões rítmicos, estas aulas e sessões pontuais com pais e bebés promovem um ambiente musical diverso e uma experiência de partilha em família e contribuem para o desenvolvimento de capacidades musicais, em paralelo com a aquisição das primeiras palavras e frases. “É na primeira infância e infância, no fundo até aos cinco anos, que privilegiadamente se estabelecem as bases do nosso vocabulário musical, daí que a frequência de aulas regulares de música para bebés assuma um papel muito importante no desenvolvimento de competências que são intrínsecas em cada um de nós, mas que precisam de ser estimuladas desde tenra idade”. Aliás, como diz o ditado, é de pequenino que se torce o pepino!
Nomeiem algo que a Madeira tenha de muito especial e que gostariam de trazer para Lisboa.
Bruno Santos: A ilha, arrancada pela raiz, e encostada aqui à minha casa, no centro da cidade de Lisboa. Para purificar e banhar a confusão em que se tornou esta cidade.
André Santos: A noção de tempo. Na ilha, o tempo corre mais lento. O Sol põe-se mais tarde. Parece que dá tempo para tudo.
Se só pudessem ser recordados por uma música, qual seria?
BS: A flor do amor (tema dedicado/inspirado pela minha filha Rosa e gravado no volume 3 dos Manos).
AS: Avô João – dedicado ao nosso avô paterno. Foi um dos primeiros temas que compus para o meu primeiro disco, Ponto de Partida.
De todos os duetos ou participações que têm feito, qual foi o mais marcante?
BS: Um com a Rita Redshoes (mãe da minha filha), porque foi na Madeira, foi o primeiro dueto que fizemos, e duas semanas depois soubemos que vinha a Rosa a caminho.
AS: Num dos concertos de MUTRAMA, onde peguei num punhado de recolhas da tradição madeirense e criei arranjos, convidei a senhora Fátima, do grupo folclórico da Camacha, a cantar uma canção em duo com a Maria João. Ensaiei com as duas separadamente e quando, finalmente, se encontraram em palco… foi uma brutalidade. Acho que ninguém conseguiu conter a emoção.
Há algum músico ou cantor português com quem gostassem de trabalhar?
BS: Há uns anos teria, eventualmente, esse sonho ou expectativa. Hoje não penso assim. Gosto de trabalhar com músicos com os quais me identifico. Muitas vezes, a expectativa de colaborar com alguém sai gorada quando finalmente acontece e é muito alimentada. Às vezes, por razões pessoais, outras vezes, por razões profissionais. É deixar acontecer naturalmente e em função do que nos vai apetecendo e acontecendo.
AS: Gostava muito de trabalhar com o Fausto, o Sérgio Godinho ou o Vitorino. Três cantautores que admiro muito e gostava de aprender um pouco mais com eles, além do que já aprendi com os seus discos.
Muitos artistas consideram que o confinamento foi uma altura inspiradora. Que impacto tem tido em vocês toda esta experiência?
BS: Financeiramente e do ponto de vista das atuações ao vivo, foi mau, mas deu para pensar em coisas novas. Algumas aconteceram porque sim e outras aconteceram porque havia tempo para pensar e imaginar o que fazer com este tempo em pausa. No meu caso, descobri um cozinheiro com talento, principalmente no campo da pastelaria.
AS: Inspiradora não sei se terá sido, foi uma paragem abrupta que nos obrigou a pensar. Havia tempo de sobra para aquelas coisas para as quais julgamos nunca ter tempo. Eu compus pouco no confinamento, mas recuperei uma rotina diária da prática da guitarra, que estava há algum tempo perdida ou desorganizada. E que, entretanto, voltou a perder-se…
Como surgiu a ideia de lançar um disco de Natal?
BS: É uma boa história. O Dr. José Carlos Martins, distinto gastroenterologista madeirense e baterista há muitos anos numa banda chamada Sweet Lovers, desafiou-nos para um concerto de homenagem aos Beatles. Disse que imaginava facilmente o nosso som em grande parte dos temas. Fez sentido o convite e aceitámos com muito gosto (mais um concerto adiado pelo vírus). Um dia, ligou-me a pedir para ir ter com ele porque estava em Lisboa. Fomos lanchar e conversar sobre técnicas inovadoras não invasivas (na medicina, claro) e pelo meio falámos sobre o que tocar no tal concerto. Quando nos despedimos, ele perguntou-me: “porque não fazem um disco de Natal? Agarrar em clássicos e adaptar ao vosso som, com os cordofones, guitarras. Não há discos nesse formato, com duas guitarras e com a vossa sonoridade”. Passei a noite a pensar naquilo. No dia seguinte, convenci o André a 75%. Contactei o Teatro Baltazar Dias, no Funchal e acharam a ideia maravilhosa. Liguei ao André e ficou decidido.
O disco inclui versões de clássicos natalícios. Houve algum que tenha sido mais difícil de trabalhar?
BS: Houve dois ou três, mas como o disco vem sem os nomes dos temas, para que as pessoas possam ir descobrindo ou redescobrindo os clássicos e menos clássicos, não posso desvendar quais!
AS: A ideia do disco é esse desembrulhar das prendas, neste caso, de canções, uma a uma, intrigando quem ouve com o que aí vem, por isso decidimos não pôr o nome das faixas em parte nenhuma. Houve uma ou outra em que o parto foi mais difícil, outras em que o parto foi 100% natural.
Há também uma composição original de cada um. O que vos inspirou?
BS: No meu caso, foi o Pai Natal!
AS: E no meu, a vontade de desejar um “Bom Natal” a todos!
Dia 17 de dezembro, apresentam o disco no Teatro Villaret, com lotação mais reduzida que o habitual. Como vai ser este concerto?
BS: Se acontecer, lindo, como todos os concertos dos Manos [risos].
AS: Se estivermos todos reunidos no dia 17 de dezembro, às 20 e 30, será, só por si, um milagre ao nível do nascimento do menino Jesus. A partir daí, será memorável.
Um desejo de Natal?
BS: O que todos desejamos: uma vacina para esta peste que se abateu sobre todos nós.
AS: Que o Pai Natal traga uma imunidade milagrosa. E que o tempo estique e o Sol se ponha mais tarde.
Em que altura da sua vida percebeu que queria ser mágico?
Todos os dias continuo a escolher este caminho que me diverte, realiza e permite fazer o que mais gosto. Tudo começou como hobbie e, no final da minha carreira académica e início de vida profissional, acabaria por ocupar todo o meu tempo. Momento em que a necessidade de escolha era imperiosa para pôr fim à vida dupla que começava a tomar a ganhar proporções difíceis de manter…
Foi o mágico mais novo a receber o Devant Award, o mais prestigiante prémio de magia do mundo. Que importância têm os prémios na sua vida?
São sempre excelentes surpresas, sobretudo por serem distinções para as quais não se pode concorrer… São uma consequência direta do nosso trabalho, chegam-nos de surpresa e sempre as recebi com grande humildade. Porém, a sua importância reporta-se sempre ao que fizemos no passado. Gosto de interpretá-las como incentivos e responsabilização para o futuro, procurando que sirvam como fasquias pessoais, na esperança de ser melhor amanhã do que fui ontem.
O que é mais importante: uma boa crítica ou um público feliz?
Indiscutivelmente, um público feliz. É para ele que eu trabalho. É o aspeto mais importante da minha atividade. Sem público não há magia, só ilusões. As críticas são sempre o exteriorizar de uma opinião pessoal que podemos respeitar mais ou menos. Acima de tudo, respeito enormemente as críticas da equipa que me acompanha há décadas e que sabe, como ninguém, perceber o que podemos coletivamente melhorar.
Como reage aos comentários das pessoas que criticam os seus truques?
Adoro! Independentemente de serem mais ou menos agradáveis e, por vezes, surpreendentes, são excelentes ferramentas de crescimento. Dão-me a conhecer mais sobre o meu trabalho… É como uma análise SWOT que nos dá a conhecer forças, fraquezas, oportunidades e “ameaças”.
Já conseguiu converter alguém que dizia não gostar de magia?
Muitas vezes, no final dos meus espetáculos, há sempre alguém que partilha que esteve ali contrariado… Que foi a reboque dos pais, dos filhos, do namorado ou de um amigo, e que adorou! Só não gosta de magia quem nunca viu ao vivo um espetáculo de magia. Na verdade, quando alguém me diz que não gosta de magia costumo perguntar que espetáculos já viu. Habitualmente a resposta é um silêncio pensativo que culmina com “pois… acho que nunca vi…”.
O confinamento tem sido uma altura inspiradora para criar truques?
Criar com a minha equipa tem sido a grande salvação do abismo. Temo-nos mantido ocupados e criativos. Graças a isso julgo ainda não ter perdido a minha sanidade mental… O espetáculo #CONECTADOS é o claro exemplo do abraçar das contingências transformando-as em oportunidades criativas. Jamais teríamos criado um conceito tão original e surpreendente se não fosse todo o pesadelo por que estamos a passar.
Como vê o estado da magia em Portugal?
Muito bem! Há toda uma nova geração que se apaixona diariamente e que traz sangue novo e vitalidade. Fico muito feliz!
Já trabalhou com grandes nomes internacionais. Há alguém com quem lhe falte trabalhar?
Falta sempre alguém… Ou mesmo renovar desafios com aqueles com quem fomos construindo cumplicidades.
Há algum truque que ande a imaginar há anos, mas a que ainda não conseguiu dar forma?
Existem vários nesse estado. A maioria do público que segue o meu trabalho está longe de imaginar que todos os dias, de segunda a sexta, das 9 às 18, trabalhamos no Estúdio33. É um constante turbilhão entre ambição e humildade, ideias que surpreendem e projetos falhados que só funcionavam no nosso desejo.
Quando assiste a um espetáculo de magia de um colega seu, consegue sempre adivinhar como são feitos os truques?
Desde cedo que adotei uma técnica… ver duas vezes! Uma como espectador, outra como profissional. E isso não é só válido para espetáculos de magia… faço o mesmo com musicais, peças de teatro, etc. É a minha tentativa de combater a deformação profissional e tentar resgatar a frescura que caracteriza um “espectador normal”.
Em dezembro, regressa ao Tivoli para o espetáculo #CONECTADOS, que, para além das pessoas presentes, inclui também interação com o público em casa. Agora mais do que nunca, a tecnologia é um aliado precioso?
O digital está há muito nas nossas vidas. A pandemia deu-lhe uma primazia nunca antes vista. Neste espetáculo, levamos o digital ao limite da conectividade, no sentido de que a magia aconteça no palco, na plateia e em casa daqueles que os espectadores presentes convidarem para participar remotamente. Até hologramas vamos ter…
Por que motivo devem as pessoas assistir a este espetáculo?
Três razões: porque depois de nove meses de jejum é importante que as famílias assistam a espetáculos e experienciem cultura ao vivo, sem ser através de um ecrã de computador ou televisão; porque #aculturaésegura e nenhum serviço noticioso até hoje reportou nenhuma cadeia de contágio que tenha tido origem numa sala de espetáculos, e porque a minha equipa e eu preparámos com muito amor e empenho aquele que será provavelmente o nosso melhor espetáculo de sempre.
É presença assídua na televisão nacional há anos, e nunca passa muito tempo sem ter um espetáculo novo. Parar é morrer?
Absolutamente. Quando a pandemia caiu sobre nós, a minha equipa e eu íamos iniciar uma digressão que, durante 23 semanas, passaria por outras tantas grandes cidades europeias. Fizemos a estreia na República Checa, em Praga, e, a seguir, viemos para casa. No início fiquei apático como todos, revoltado e em negação na esperança de que tudo não passasse de um pesadelo. Não passou e ficámos sem reação. A dada altura, numa revista inglesa, li um artigo cujo título era Sink or Swim. As três palavras da expressão Afundar ou Nadar foram para mim uma verdadeira epifania. Percebi que são essas as duas possibilidades de escolha que temos ao nosso dispor. Não temos sequer direito a perguntar por quanto tempo teremos que nadar, ou que distância, ou se a água está quente ou fria… a alternativa a nadar é escolher afundar.
Obras completas de Luís Vaz de Camões
III Volume – Teatro
Filodemo, comédia de Luís de Camões, põe em cena as peripécias de dois irmãos gémeos, Filodemo e Florimena, que se apaixonam por personagens situadas fora da sua condição social. Para além de outras temáticas, a obra expressa a ideia que o amor é uma força superior, capaz de suplantar os desníveis sociais e as condições desiguais, estabelecendo, deste modo, uma nova ordem que altera os fundamentos em que a sociedade assenta. Esta noção, cara ao autor, está igualmente presente nas suas outras duas obras dramatúrgicas: Auto Chamado dos Enfatriões e Comédia D’El-Rei Seleuco. O presente volume inteiramente dedicado ao teatro camoniano, depois de um primeiro consagrado à Épica e às Cartas e de um segundo que contém a Lírica completa, cumpre o objectivo de oferecer ao leitor de língua portuguesa a obra integral do maior vulto das letras lusas. A edição, preparada por Maria Vitalina Leal de Matos, especialista na obra de Luís de Camões, inclui introduções a cada um dos géneros da sua obra, uma biografia do poeta, uma introdução geral e notas que contextualizam o autor e a época. E-Primatur
Luís de Freitas Branco
Beethoven. Vida e Personalidade
Luís de Freitas Branco (1890-1955), um dos mais relevantes nomes da música portuguesa, foi mestre de alguns dos maiores compositores nacionais do século XX. Da sua obra literária fazem parte dois títulos dedicados a Beethoven, A Vida de Beethoven (1943) e A Personalidade de Beethoven (1947), agora reunidos num volume pela Editorial Caminho. Os textos foram originalmente publicados na Biblioteca Cosmos sob direcção de Bento de Jesus Caraça. No início dos anos 30, Luís de Freitas Branco havia escrito uma longa biografia de Richard Wagner, porém para o projecto educativo e editorial de Bento de Jesus Caraça optou por se dedicar a Beethoven privilegiando a aura humanista e liberal que o compositor de Bona podia incarnar em plena Segunda Guerra Mundial e no seu imediato rescaldo. Considerando Beethoven “o mais profundo e poderoso criador musical de todos os tempos”, escreve: “(…) ele é, para músicos e não músicos, um guia e um modelo numa época como a presente, de crise das mais profundas raízes morais da humanidade.” Caminho
Italo Calvino
Orlando Furioso
O tempo é o de Carlos Magno e a acção descreve as lutas entre os infiéis e os paladinos do rei dos Francos, mais tarde imperador. Paris encontra-se assediada pelas tropas do rei sarraceno Agramante. Uma pergunta decisiva acorre aos espíritos de todos os cristãos que se preparam para a batalha final: onde está Orlando, o mais famoso herói da cristandade? Enlouquecido pelo amor que dedica à formosa Angélica, tornou-se um perigo para homens e natureza, destruindo tudo à sua passagem. Orlando Furioso, começado a escrever por Ludovico Ariosto em 1504 (e ao longo de 30 anos), é um dos grandes poemas do Renascimento. Na presente edição, a obra é contada por Italo Calvino, com partes selecionadas do poema original, que assim manifesta o seu entusiamo por este grandioso épico da literatura universal, influência maior para obras como o Dom Quixote de la Mancha de Cervantes. Calvino convida o leitor contemporâneo a descobrir um poeta que representa o mundo “como um espectáculo multicolor e multiforme para ser contemplado com irónica sabedoria.” Com ilustrações de Gustave Doré. Cavalo de Ferro
Pedro Sena-Lino
De Quase Nada a Quase Rei
Sebastião José de Carvalho e Melo é o nome do político que reformou a educação, o sistema fiscal e a Lisboa pós-terramoto, mas também do homem que, tendo escapado a uma tentativa de assassinato, a transformou num atentado à vida do próprio rei e se vingou nos Távoras e dizimou os jesuítas. Esta biografia dá conta da misteriosa forma como, no início da sua vida pública, aquele que viria a ser conhecido como Marquês de Pombal vê conjugar-se um improvável conjunto de fatores que permitem a um lavrador forçado a nascer de socalcos e xisto, a um homem sem experiência relevante, uma impressionante escalada social e política, da Real Academia das Ciências, passando pelas embaixadas em Londres e Viena, até chegar à liderança do governo da nação. Com base numa exaustiva pesquisa e na leitura rigorosa das cartas escritas e recebidas pelo Marquês de Pombal, Pedro Sena-Lino apresenta-nos o biografado através da voz do próprio. Assente em provas documentais, e apenas se permitindo uma via dedutiva quando os testemunhos se mostram menos abundantes, este livro demonstra como a relação de um líder consigo mesmo pode ter transformado medos próprios em fantasmas nacionais, muitos deles ainda presentes e atuantes nos dias de hoje. Contraponto
Rafael Bordalo Pinheiro
No Lazareto
“Ao pousar o pé no torraõ natal, no momento de estender o braço à imagem querida da pátria, em vez de ser apertado pelos braços amigos, fui apertado pelos guardas de saúde e metido no Lazareto”. Em 1879, após o encerramento do jornal O Besouro, Rafael Bordalo Pinheiro regressa do Brasil. Quando chega a Lisboa é obrigado a ficar em quarentena no Lazareto, um edifício situado em Porto Brandão, na margem sul do Tejo, que era isolado e se destinava a acolher e a desinfetar pessoas e objetos que vinham de lugares ameaçados por epidemias ou doenças contagiosas. Durante o período em que ali permaneceu devido ao perigo de propagação da febre-amarela, o artista fez a obra No Lazareto de Lisboa, publicada em 1881. Nesta publicação, profusamente ilustrada com os seus desenhos, recorda com saudade peripécias no Brasil, a viagem de barco, a sua Lisboa e regista, com humor, os dias de penitência no edifício do Lazareto. Passados 140 anos, em plena pandemia COVID 19, o livro não perdeu a graça, mas ganhou atualidade. Museu Bordallo Pinheiro/ PIM! Edições
Desmond Morris
Poses. Linguagem Corporal na Arte
No livro Manwatching (1977), Desmond Moris introduziu o tema da linguagem corporal e revelou o muito que podemos aprender ao estudarmos as acções humanas em vez de nos limitarmos a ouvir as palavras. Certo dia, o autor e Francis Bacon, ao examinarem atentamente A mulher que Chora de Picasso, iniciaram uma discussão acerca das expressões faciais na arte que o fez compreender como a questão da linguagem corporal era relevante para o pintor. Quando Bacon morreu, verificou-se que tinha um exemplar de Manwatching no quarto. A presente obra explora, justamente, a importância da linguagem corporal humana na arte. Qual a sua função social? Que emoções revela? Toda a gente entende um punho fechado ou um aperto de mão, mas outras acções encontram-se enraizadas numa fase particular da história ou numa cultura local com regras especiais de conduta. Por isso, este livro é, simultaneamente, um estudo de linguagem corporal humana, uma história cultural de costumes socias e um levantamento de estilos artísticos em mudança, que cobre uma vasta gama de criatividade, das estatuetas pré-históricas, artefactos romanos e frescos renascentistas, até à arte contemporânea e ao graffiti. Bizâncio
Edgar P. Jacobs
O Raio “U”
Edgar P. Jacobs (1904/1987), autor de banda desenhada belga, foi um dos fundadores do movimento europeu de BD criando a série Blake & Mortimer. O Raio “U”, é o seu primeiro álbum gráfico, datado de 1943. Escrito em plena II Guerra Mundial, é uma obra de ficção científica que tem lugar num planeta concebido à imagem da Terra, traçando um paralelo com a realidade histórica da época. Duas das suas nações, Norlândia e Austrádia, estão em conflito. Marduk, um cientista norlandês inventa uma nova arma, o Raio “U”, mas necessita do minério uradio para que ela funcione. Organiza então uma expedição ao interior do planeta para extrair o minério. Ele e a sua equipa vivem uma série de arriscadas aventuras, confrontando-se com vorazes animais pré-históricos, descobrindo uma cidade lacustre habitada por gigantescos homens-macacos e uma civilização reminiscente dos aztecas. Obtido o minério, a obra termina com uma advertência a favor da sua justa utilização: “Cuidado! Aquele que possuir a ‘Pedra de Vida e de Morte’ torna-se num Deus temível!” Aviso ignorado por aqueles que terminaram o conflito mundial com os horrores de Hiroshima e Nagasaki. Asa
Christian Robinson
Outro
Com uma narrativa reminiscente de Alice No País das Maravilhas, a história deste livro passa-se quase inteiramente no outro lado do espelho. No fundo, trata-se de encontrar uma outra perspectiva, de descobrir um outro mundo e de conhecer um outro eu. Esta obra mágica e sem palavras, Melhor Livro Infantil Ilustrado 2019 | New York Times e New York Public Library, promove uma insólita e colorida viagem ao outro lado do espelho, um lugar só de crianças, de brincadeiras e de passeios fora de horas. O seu autor, Christian Robinson, dedica-se à ilustração e ao cinema de animação. Recebeu, em 2016, a Menção Honrosa da Medalha Caldecott, com o livro Last Stop on Market Street. Tem ilustrado diversos livros para crianças e recebido vários prémios. Colaborou com o programa Rua Sésamo e com os estúdios de animação Pixar, como realizador de animação. Orfeu Negro
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