A Casa Fernando Pessoa reabriu com uma nova exposição? O que mudou?
Estas obras de remodelação da Casa Fernando Pessoa transformaram significativamente os espaços. Eles são agora mais acessíveis, ganhámos em área e todo o edifício foi renovado em matéria de equipamentos tornando-se mais sustentável. Temos agora três pisos inteiramente dedicados à exposição que é um percurso pela obra e biografia de Pessoa. Escolhemos os três temas que nos pareceram mais interessantes: um núcleo dedicado aos heterónimos, outro à sua biblioteca particular e o terceiro à biografia, na relação com o facto de Fernando Pessoa ter vivido ali, no primeiro andar direito daquele edifício, durante 15 anos. Para além da exposição, a biblioteca que é um também um espaço central na actividade da casa, dedicada a Pessoa e à poesia mundial, foi renovada e o auditório mudou de lugar, está agora no rés-do-chão que o torna mais acessível.
De quem é a autoria do projecto museológico?
A partir de uma proposta de Paulo Pires do Vale, o Ateliê de Design GBNP avançou com o projecto que depois veio a ser detalhado e desenvolvido por dois designers com quem trabalhamos, Nuno Quá e Cláudio Silva. O projecto de arquitetura é de José Adrião Arquitectos.
Um dos objectivos foi o de colocar as peças da coleção a falar mais directamente com os visitantes. De que forma?
De várias formas. Passa pela construção do mobiliário ter sido pensada desse modo desde o início. Os próprios suportes estimulam a interacção do público. Por exemplo: em vez de termos uma vitrina uniforme, temos uma com realces, temos surpresas, móveis com gavetas, objectos escondidos. Tudo isso fomenta uma outra dinâmica por parte dos visitantes. A parte física do projecto teve em mente a ideia de como é que os visitantes podiam relacionar-se com a exposição de forma mais activa e participativa. Por isso há poemas para ouvir e segredos de gavetas e prateleiras para descobrir. Todos os textos e legendas foram também escritos desse ponto de vista, de como seria possível contar melhor esta história. Depois existem espaços que são mais de brincadeira, como uma curiosa sala de espelhos para todos nós vermos a nossa identidade refractada.
Quais os objectos da coleção que despertam mais interesse nos visitantes?
A colecção mais valiosa da casa é a biblioteca de Fernando Pessoa e agora vamos poder ver na sua quase totalidade os livros que a integravam. Com os devidos cuidados de conservação e preservação podemos correr as lombadas desses livros e ver que Pessoa leu autores e temas muitíssimo variados. É interessante compreender como esse lado de leitor veio a transparecer na escrita. Os livros chamam a atenção dos visitantes sobretudo porque a maior parte deles está muito anotada. Depois há outros objectos, mais relacionados com a biografia do Pessoa, que geralmente interessam muito os visitantes como o bilhete de identidade, os óculos, a máquina de escrever. O mobiliário original que faz parte da nossa colecção também é muito profícuo a produzir histórias. Temos a cómoda alta que é referida na carta a Adolfo Casais Monteiro de janeiro de 1935, sobre a génese dos heterónimos. E temos a estante directamente relacionada com os livros que lá estiveram um dia.
Que livros lia o poeta?
Grande parte da biblioteca é em língua inglesa: Milton, Shakespeare, Whitman, Poe. Muitos desses livros em inglês vêm do tempo da sua vida na África do Sul. Pessoa passou a juventude em Durban e foi lá que fez a escola e começou a construir a sua biblioteca. Encontramos também livros com dedicatórias de amigos escritores. Temos o Princípio de Mário de Sá-Carneiro com uma dedicatória muito afectuosa que é uma peça muito importante da biblioteca. É interessante observar que Pessoa tinha livros de todas as classes do saber. Não só de literatura, mas de ciência, de matemática, de ciências ocultas, de engenharia. Possuía um grande leque de áreas de interesse.
Referiu que Fernando Pessoa era um leitor que sublinhava e anotava os livros nas margens das páginas. De que forma é que esses testemunhos ajudam a conhecê-lo melhor?
As notas que deixou à margem, chamadas marginália, sublinhados, os comentários mais ou menos longos, inclusivamente um poema que foi encontrado na contracapa de um livro, em 2010, na altura da digitalização da biblioteca, são muitas vezes pensamentos que surgem em reação aos textos. São gestos, inscrições pessoais que mais tarde alguém pode encontrar ao ler ou folhear esse livro. Ali encontramos reflexões sobre a leitura, mas também impressões que essa leitura causa. Além disso, como já referi, existem mesmo trechos de criação literária do próprio Pessoa anotados em livros, porque do ponto de vista pragmático estava mais à mão ou porque o próprio livro levou à escrita desse texto.
Esta casa foi habitada por Pessoa durante os últimos 15 anos de vida. De que elementos dispomos para conhecer o seu quotidiano nesta casa e neste bairro?
O que fizemos neste exposição de longa duração foi tentar reconstituir o apartamento em que Pessoa viveu, parte desse tempo com a família, de acordo com testemunhos que recolhemos e de plantas do edifício. Juntando esses elementos conseguimos desenhar a organização do espaço naquele apartamento: os vários quartos, a sala, etc. Depois usámos o espaço para contar uma história separando várias fases da sua vida. Da infância temos alguns objectos que pertenceram aos seus pais; depois contamos um pouca da história em Durban, a relação com a escola, os meios-irmãos, as longas viagens entre os dois continentes; a seguir a sua vinda para Lisboa, os seus companheiros, a relação com Ofélia Queiróz, o circuito literário e a tipografia que criou. Por fim, ali no bairro temos algumas histórias para contar sobre as lojas da Rua Coelho da Rocha, nomeadamente a barbearia do senhor Manassés, e também um vídeo em que a sobrinha Manuela Nogueira (que, tal como o irmão, nasceu naquela casa) conta as memoria dos 10 anos em que conviveu com o tio nesse apartamento.
Quando é que Fernando Pessoa veio viver para Campo de Ourique?
Quando o padrasto de pessoa morreu na África do Sul, a mãe, agora viúva, quis voltar para Lisboa. Pessoa pretendia um apartamento maior onde coubessem a mãe e os três meios-irmãos, dois rapazes e uma rapariga. Os rapazes ficaram pouco tempo em Lisboa e foram para Inglaterra onde fizeram as suas vidas. A meia-irmã veio a casar e é a mãe dos sobrinhos que já referi.
Em linhas gerais, quais vão ser as traves mestras da programação?
Pensámos em dedicar o mês de setembro às visitas ao novo espaço, à exposição, à biblioteca. Procuramos para já evitar a programação presencial, tendo em conta o período que ainda atravessamos. Mas o propósito desta renovação continua a ser trabalhar sobre Pessoa, o seu legado, contar as suas histórias, estimular o gosto pela leitura dos seus textos, compreender a amplidão e complexidade dos seu universo e, paralelamente, continuar a trabalhar como casa da literatura, nomeadamente com a poesia contemporânea, e passar a palavra sobre a força que os efeitos da literatura podem ter.
Campo de Ourique é um bairro muito particular em Lisboa. O escritor Mário de Carvalho chamou-lhe “a cidade independente de Campo de Ourique”. Porém, atualmente, não há um cinema, um teatro, um museu. Ao longo dos anos, a Casa Fernando Pessoa tem sabido cumprir a sua função de pólo cultural do bairro?
É um espaço importante no bairro em conjunto com outros. Temos um trabalho bastante próximo com a junta de freguesia de Campo de Ourique. A biblioteca do antigo Cinema Europa é muito frequentada e dinâmica em termos culturais. A Casa Fernando Pessoa também o é, e esperamos que com esta requalificação do espaço os vizinhos nos queiram conhecer ainda melhor. Estas obras tiveram um apoio significativo do Turismo de Lisboa, através da Linha de Turismo Acessível, e isso é relevante porque o projecto tem na base a atenção ás acessibilidades e a abertura de portas a todos os que nos queiram visitar.
Fernando Pessoa é o poeta ideal para o presente período de pandemia e distanciamento social? Alguém que criou um mundo interior povoado por personagens que, afinal de contas, são ele próprio.
É certo que a literatura, como outras formas de cultura, estão a ser muito importantes nestes momentos em que passamos mais tempo em casa, afastados do convívio social direto O que Pessoa deixou escrito é de tão diferentes naturezas que muito facilmente vai ao encontro dos interesse de distintos leitores, seja pela irreverência, pela complexidade em termos de busca da identidade, pelo jogos de contradições, pelos textos do Livro do Desassossego que são de deambulação e devaneio. Uma série de campos que podem preencher as nossas tardes e noites mais recolhidos em casa na leitura.
O DESCOLA é o resultado do trabalho conjunto e da aposta continuada da Câmara Municipal de Lisboa na dimensão educativa do património cultural e artístico da cidade e da vontade de o fazer chegar a todos, e ao longo da vida, como fonte de inspiração e sentido de pertença.
O DESCOLA é dirigido especificamente ao público escolar e em tempo de pandemia apoia-se, mais do que nunca, na colaboração estreita entre mediadores, artistas e professores para fazer face aos desafios acrescidos que a todos se colocam.
As atividades propostas no DESCOLA têm o Perfil do Aluno do séc. XXI e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável como referência, e o património cultural e artístico de Lisboa como campo de pesquisa, de questionamento e criatividade.
No DESCOLA estão cerca de quarenta agentes culturais municipais, entre museus, teatros, arquivos e bibliotecas, que acreditam na força educativa das artes e da cultura e querem participar, com professores e alunos, na construção de escolas que se afirmem como comunidades de aprendizagem abertas e interventivas.
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Nasceste em Cuba, viveste em Cabo Verde, Angola, Senegal, Alemanha, França… O que é casa para ti?
Casa é Cabo Verde. Lisboa é, sem dúvida, uma fantástica segunda casa.
Todos estes sítios onde viveste refletem-se no teu adn artístico?
As viagens acabaram por moldar totalmente a minha forma de estar no mundo e de ver a vida. A minha música é um reflexo de como vivo e de como vejo o ‘outro’. Nunca me interessou fazer a análise ao ponto de saber que influências vêm de onde, acho isso completamente desinteressante. O que é importante é perceber de que forma a vida nos torna mais ou menos abertos à absorção de outras coisas, e de que forma é que o nosso metabolismo artístico depois traduz isso.
Ao contrário da maior parte das pessoas, falas muito na necessidade de ter uma rotina…
Dou importância à rotina porque não a tenho. Comecei a fazer concertos há 20 anos. Fiz cinco anos de concertos antes de gravar o primeiro disco. A rotina é algo que nunca fez parte da minha vida, independentemente da música. Com seis anos saí de Cabo Verde e fui viver para o Senegal dois anos. Depois fui para Angola, voltei um ano para Cabo Verde, vivi três anos na Alemanha, voltei para Cabo Verde quatro anos, e depois fixei-me em Paris, onde estive 14 anos. Só com o Manga fiz, desde outubro de 2018, mais de 150 concertos. Rotina é tudo o que não tenho.
Custava-te, enquanto criança, estar sempre a mudar de sítio, de escola?
Sim, mas frequentei escolas onde havia muitos filhos de diplomatas, portanto eu sabia que não era a única pessoa no mundo a passar por isso. Como criança, vive-se uma separação cada vez que se muda de país, isto foi antes da era da internet… Há muitas pessoas que nunca mais vi… Tinha uma morada postal que, passado pouco tempo já não era a mesma e acabava por perder o contacto. Perdia-se ali uma ligação, mas arranjei forma de guardar em mim essas memórias e o que de bom encontrei em cada lugar.
Entre Lovely Difficult (2013) e Manga (2019) passaram 6 anos. Esse afastamento dos discos foi propositado?
Na verdade estive com o Lovely Difficult na estrada até 2015. No final desse ano mudei-me para Portugal, tirei um ano para mim, até final de 2016. Depois estive dois anos a trabalhar no Manga. Na realidade só tirei um ano para mim, de resto estive sempre na estrada ou a compor.
Em 2016, lançaste Reserva para Dois com Branko [Buraka Som Sistema]. O que achaste do convite?
Aceitei essa colaboração porque percebi que o Branko fazia algo muito diferente do que eu faço. No início, tinha mais tendência a colaborar com pessoas do meu universo musical. Com o passar do tempo, cresceu em mim uma espécie de inquietação artística que faz com que procure ou me deixe levar por convites de pessoas que fazem coisas que eu não saberia fazer. Gosto do desafio de sair da minha zona de conforto e ver o que nasce daí.
Esse projeto influenciou, de alguma forma, a sonoridade de Manga?
Quando combinamos vir a Lisboa trabalhar a música, ele teve a brilhante ideia de desafiar o Kalaf. Eu e o Kalaf escrevemos a letra a quatro mãos, o Branko fez o beat e eu criei a melodia em cima do beat. Foi assim que a música se fez, em dois dias. A sonoridade do Reserva para Dois não é propriamente a do Manga… Dentro da música eletrónica são famílias muito diferentes, mas semeou em mim a vontade de fazer algo mais atual. Não só o Reserva para Dois, mas também o Nha Baby, que fiz com o Nelson Freitas. Estas duas colaborações abriram uma porta e surgiram num momento em que não estava a lançar coisas minhas. Acabei por conquistar um público mais jovem, e quando o Manga saiu, parecia que já ninguém estava muito surpreendido.
Manga é uma mistura de afrobeat, música urbana e ritmos tradicionais cabo-verdianos, cantado em português e crioulo. Com tantas sonoridades é difícil manter o foco?
O que acho difícil é criar um som que seja coerente. Esse foi sempre o meu maior medo, fazer um patchwork mal feito. É por isso que demoro o tempo que demoro a fazer os discos. Criar uma alquimia entre ingredientes que nunca se encontraram é um processo demorado. Foi um caminho longuíssimo, em que tive de encontrar as pessoas certas. Isso levou quase um ano, em que experimentei coisas com pessoas diferentes.
O disco conta com colaborações de artistas como Luísa Sobral, Sara Tavares ou Cachupa Psicadélica. Como surgiram estas parcerias?
Já conheço a Sara há muitos anos, a Luísa Sobral e o Lula (Cachupa Psicadélica) conheci aqui. A cena musical de Lisboa acabou por influenciar muito também, correspondeu ao momento da minha mudança para cá. É uma cidade que acabou por me dar uma energia muito dinâmica, com todo este sol e esta forma de viver. Há cinco anos fiz uma viagem ao Gana e vim de lá com uma semente em mim que, juntamente com este ambiente de Lisboa, acabou por ajudar a trilhar os caminhos para o Manga. Fiquei feliz por trazer estes compositores para o meu universo, que me ajudaram a ter um disco que acabou por ser o retrato da minha Lisboa.
É uma cidade inspiradora?
Para o que eu faço, a Lisboa de hoje é inspiradora. Não sei como teria sido se me tivesse mudado para cá há dez anos. É importante que estes créditos de Lisboa sejam associados à cena musical atual, que é corajosa, que se reinventa… Lisboa tem um património histórico, mas o que a torna tão atraente são as pessoas e a sua multiculturalidade.
Porquê este título, Manga?
Porque é uma fruta que tem as cores do disco, que emana uma energia solar, tropical, quente… É uma fruta que vai amadurecendo, tal como este é um disco de maturidade, de uma certa emancipação de uma tradição à qual eu já prestei as minhas homenagens nos discos anteriores. Corresponde a este momento da minha vida, com trinta e poucos anos, idade em que a mulher se assume mais inteiramente. Este fruto é uma metáfora para a feminilidade.
Dia 12 de setembro atuas no Coliseu. O que vai apresentar?
O concerto é a continuação da tournée Manga com algumas alterações. Vamos rever alguns arranjos e introduzir alguns momentos diferentes. O conceito da tournée já evoluiu imenso, há novos elementos na banda, houve trocas de músicos, acho que já nem canto as músicas da mesma forma… O Coliseu é importante porque o público português é importante para mim. É expressivo, carinhoso, acompanha-me desde antes de eu gravar discos. É uma forma de retribuir esse carinho e marcar estes 20 anos.
É a grande surpresa deste mês de agosto: Lisboa vai mesmo ter FIMFA. O Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas acontece, habitualmente, em maio, porém, devido aos constrangimentos decorrentes da pandemia, o evento foi cancelado. Mas Luís Vieira e Rute Ribeiro, diretores artísticos da companhia teatral A Tarumba e do FIMFA Lx, assumiram que não se poderiam dar por vencidos e, tecendo a sua rede de cumplicidade com vários artistas do teatro de marionetas e de objetos, bem como com alguns espaços da capital, montaram uma “programação relâmpago” com oito espetáculos de excelência de grandes nomes internacionais, como Agnès Limbos e Oligor y Microscopía, e portugueses, como André Murraças, Companhia Pia, Teatro de Ferro, Formiga Atómica e, claro, A Tarumba.
“Mesmo sabendo que estamos a navegar à vista, e a viver um futuro suspenso, queremos que este seja o agosto do nosso desconfinamento”, explica Luís Vieira, sublinhando que o Descon’FIMFA pretende dar um sinal de confiança ao público e mostrar que “é possível voltar aos teatros em segurança cumprindo todas as regras sanitárias exigidas”. Para “restaurar a convivência, condição essencial ao teatro, entre artistas e público”, o festival apresenta espetáculos “com plateias bastante reduzidas e várias adaptações em cena que, embora não comprometam o conceito criativo, asseguram a necessidade de se ir restabelecendo a confiança dos espectadores nos teatros e nos palcos.”
O teatro de objetos para pensar o nosso tempo
No programa do festival, cita-se Shaday Larios, dos Oligor y Microscopía: “os nossos objetos podem falar por nós, quando já cá não estivermos. Ou quando nos recusamos a falar, ou por muitas outras ausências. Então porque não poderíamos nós falar por eles?” Esta ideia serve como uma espécie de chapéu ao alinhamento do Descon’FIMFA que, como sublinha Luís Vieira, “encontra na manipulação de objetos a unidade formal”, o que torna esta edição do festival algo absolutamente “inédito” no próprio conceito do FIMFA. Através destes espetáculos, são “os objetos que ganham protagonismo e nos ligam à emoção e à humanidade que os rodeia.”
Os dois primeiros momentos do festival são bem representativos da capacidade formal e conceptual do teatro de objetos em criar imaginários ou descrever memórias. São ambos criados por Jomi Oligor (Hermanos Oligor, Espanha) e Shaday Larios (Microscopía Teatro, México), dois artistas que trabalham juntos desde que perceberam estar a trilhar caminhos paralelos.
O primeiro, espetáculo de abertura deste Descon’FIMFA, é uma estreia absoluta em Portugal e intitula-se La Melancolia del Turista, abordagem corrosiva ao turismo de massas que já não existe e “às construções mentais do paraíso que o turista procura, mas nunca consegue encontrar”. O segundo, La Maquina de la Soledad, é uma incrível história contada a partir de cartas de amor escritas no início do século XX, encontradas dentro de uma mala, no México, que regressa agora ao FIMFA, cinco anos depois de ter passado pelo festival e recebido a aclamação entusiasta do público.
O festival fecha no início de setembro com o regresso a Lisboa daquela que é considerada “a papisa do teatro de objetos”, Agnès Limbos, e da companhia belga Gare Centrale. Ressacs é um exercício de crítica bem humorado à sociedade de consumo e aos excesso do capitalismo, que acompanha a odisseia de um casal falido “à beira de uma ataque de nervos” depois de, afetados pela crise do sub prime, partirem à deriva em alto mar num pequeno barco. Como sublinha Luís Vieira, é mais um espetáculo “repleto de ironia e engenho de uma grande mestre do teatro europeu.”
A presença portuguesa
Parceiro de longos anos do FIMFA, André Murraças é um dos mais interessantes criadores do teatro português da atualidade e não são raras as suas criações com recurso à técnica da manipulação de objetos. Neste Descon’FIMFA, uma estreia absoluta: O Triângulo Cor-de-Rosa. A peça assinala os 75 anos da libertação de Auschwitz, invocando a tenebrosa vivência nos campos de concentração nazis dos judeus homossexuais.
Também cúmplice de longa data do festival lisboeta, de Gaia chega a mais recente criação de Igor Gandra e do seu Teatro de Ferro. Uma Coisa Longínqua é a primeira fase de um filme-performance, feito em colaboração com o compositor Carlos Guedes, onde se “procura compreender uma série de acontecimentos peculiares realizados por um grupo de objetos emancipados.”
A programação do festival inclui ainda os regressos a palco do magnífico A caminhada dos elefantes, de Miguel Fragata e Inês Barahona (Formiga Atómica), e dos desconcertantes “louros” de Luís Vieira e Rute Ribeiro (A Tarumba) com Este não é o nariz de Gógol, mas podia ser… com um toque de Jacques Prévert.
Por fim, um especial destaque para o teatro de rua da companhia PIA, um projeto sediado no Pinhal Novo, na margem sul do Tejo, que se estreia (por fim!) em Lisboa, depois de, ao longo dos seus 18 anos, já ter viajado com os seus gigantes a inúmeros países europeus, asiáticos e sul-americanos. Em EntreMundos, marionetas de grandes dimensões levam-nos a percorrer, com sensibilidade e imaginação, uma zona situada algures entre a vida e a morte. Um espetáculo imperdível para toda a família que pode ser visto no Castelo de São Jorge.
O Descon’FIMFA Lx decorre entre 5 de agosto e 5 de setembro, com a maioria dos espetáculos a serem exibidos no Teatro do Bairro, podendo o público usufruir da aquisição de vouchers para várias sessões a preço reduzido. Tudo para descon’FIMFAr em segurança e, claro, com teatro de excelência.
Na primeira edição do Fair Saturday Lisboa, perto de 40 locais da cidade acolheram mais de 75 eventos culturais para todos os públicos. Esta massiva participação resultou no beneficio de cerca de 45 projetos sociais, selecionados pelas entidades participantes.
Em 2020, a organização do festival pretende voltar a proporcionar um “dia com impacto social positivo, enfatizando a importância de desenvolver uma sociedade mais justa e humana”. Para isso, encontram-se já abertas as inscrições para a segunda edição deste festival solidário que decorre simultâneamente, no próximo dia 28 de novembro, em várias cidades do mundo.
Os artistas, organizações e equipamentos culturais e projetos socio-culturais podem inscrever-se através da página oficial do evento, escolhendo a causa social que pretende apoiar. Para mais informações e esclarecimentos de dúvidas, a Fair Saturday Lisboa 2020 sugere o contacto dos interessados através do endereço de email lisboa@fairsaturday.org.
Nasceu em Rimini a 20 de janeiro de 1920, filho de um caixeiro-viajante e de uma romana. Aos dez anos, fugiu de casa para se juntar a uma trupe circense onde, confessou o próprio, cuidou de uma zebra doente. Antes da guerra, viajou por toda a Itália com uma companhia de teatro ambulante, até se fixar em Roma, onde passou pelo jornalismo, foi ilustrador e desenhador, escreveu sketches humorísticos e trabalhou para a rádio.
Com o final do conflito, e já casado com a mulher da sua vida – a atriz Giulietta Masina –, dedicou-se a fazer retratos e caricaturas de soldados norte-americanos. Foi nesse estado de sobrevivência que conheceu Roberto Rossellini, que fez dele assistente de realização e coargumentista em Roma, Cidade Aberta. Foi a porta de entrada para o cinema, a arte que imortalizou Federico Fellini como um dos grandes cineastas da segunda metade do século XX.
Por ocasião do centenário do nascimento, a Alambique devolve ao grande ecrã seis das suas obras mais emblemáticas em cópias restauradas, num ciclo intitulado Essencial Fellini. Oportunidade soberana para (re) descobrir o realizador que acreditava que nos seus filmes “nada há de anedótico ou autobiográfico”. Antes, e como escreveu, foi através deles que “inventei a minha vida. Inventei-a de propósito para o cinema.”
LA DOLCE VITA (1960)
ESTREIA A 6 DE AGOSTO
A cena de Anita Ekberg banhando-se na Fontana di Trevi, em Roma, é das mais famosas de toda a história do cinema. La Dolce Vita foi também o filme que cunhou um termo intemporal e, subitamente, universal: paparazzo. Obra de um pessimismo atroz, Fellini considerou-a “a récita das peregrinações diurnas e noturnas de um jornalista sem envergadura”, interpretado por Marcello Mastroianni. Apesar de significar o rompimento definitivo com a herança neorrealista (que, embora seja opinião pouco consensual, se reconhecia nas obras anteriores), o filme põe completamente a nu o fascínio da decadência e a obsessão da morte que parecem trespassar toda a obra do cineasta desde Luci del varietà, obra de estreia codirigida com Alberto Lattuada. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.
A ESTRADA (1954)
ESTREIA A 13 DE AGOSTO
Provavelmente, um dos mais belos filmes de Fellini, obra em que a realidade e o mundo da imaginação se combinam numa experiência cinematográfica única. La Strada significou a consagração internacional de Fellini ao conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e nele habitam duas das mais inesquecíveis personagens da história do cinema: Gelsomina (Giulietta Masina) e Zampano (Anthony Quinn). Ela é a jovem vendida pela mãe que, como Fellini dizia, com “a perícia mimica de um palhaço” procura todos os sonhos do mundo; ele é o rude e bruto saltimbanco que a compra, mas que por ela vai descobrir sentimentos e emoções que, na sua cruel e desolada vida, jamais pensou existirem.
FELLINI 8 ½ (1963)
ESTREIA A 20 DE AGOSTO
De 8 ½ disse François Truffaut ser “o filme dos realizadores, aquele que todos os cineastas deviam aprender de cor e não esquecer”. Genial variação sobre o processo de criação artística, para muitos a obra-prima do cineasta, é uma reflexão incisiva sobre o cinema enquanto arte dos mitos e dos sonhos codificados. O veículo para essa reflexão é a personagem de Guido Anselmi, um realizador em crise encarnado por Marcello Mastroianni, alter-ego do próprio Fellini. Durante a estadia numas termas para preparar um novo filme, Guido confronta-se com a paralisia criativa e deixa que os fantasmas do passado tomem conta da realidade. Mas quando tudo parece desmoronar, o realizador consegue voltar ao plateau e, por fim, gritar “ação!”
JULIETA DOS ESPÍRITOS (1965)
ESTREIA A 27 DE AGOSTO
Oito anos depois do sucesso de As Noites de Cabíria, Fellini volta a dirigir Giulietta Masina numa obra onde o próprio definiu a atriz, sua mulher, como “a alma do filme”. Na verdade, Julieta dos Espíritos pode considerar-se uma homenagem surrealístico-conjugal a Masina, que aqui interpreta uma mulher burguesa de meia-idade perturbada por frustrações sexuais que o casamento, com um homem para quem se tornou invisível, lhe impõe. Apesar dos excessos e desequilíbrios, trata-se do primeiro filme a cores do cineasta, filmado num deslumbrante technicolor à Minnelli, a quem se pode pensar que Fellini não se coibiu de prestar um justo tributo.
OS INÚTEIS (1953)
ESTREIA A 3 DE SETEMBRO
Apesar de negar um caráter autobiográfico à sua obra – “os meus filmes só são autobiográficos na mesma forma que todos os livros, todos os poemas, todos os quadros são autobiográficos” –, Os Inúteis (I Vitelloni) é, com 8 ½ e Amarcord, uma das obras mais representativas da vida do realizador. O filme retrata o dia-a-dia de cinco homens jovens numa pequena cidade costeira italiana, a Rimini natal de Fellini, entre festas e namoricos inconsequentes, tentando preencher o vazio das vidas provincianas. Até ao dia em que um deles decide romper com a toda essa fútil existência, partindo para Roma. Martin Scorsese considerou-o, na sua Viagem pelo Cinema Italiano, um dos filmes que mais o influenciou.
A VOZ DA LUA (1990)
ESTREIA A 10 DE SETEMBRO
O último Fellini (o realizador morreria em 1993) é, como destacou Jean Douchet, “uma espécie de projeção irónica do pensamento masculino italiano”. Com Roberto Benigni no protagonista, A Voz da Lua realça um olhar amargo sobre a sociedade italiana e, embora não explicitamente, sobre o esmagamento do cinema pelo lixo televisivo dos tempos de Silvio Berlusconi. O magnata da televisão e político italiano é, aliás, diretamente visado no filme sem qualquer pejo de ambiguidade. Não se inscrevendo no leque de obras-primas do realizador, o filme passou quase incógnito à data de estreia, tendo sido reabilitado ao longo dos anos pela crítica e por novos cinéfilos que o destacam como um exercício de profunda lucidez de um cineasta em fim de vida.
São tempos estranhos, estes que rodeiam os palcos por alturas de pandemia. Estamos a pouco dias de António Simão se reencontrar, no Festival de Almada (10 a 12 de julho no Incrível Almadense), com Uma Solidão Demasiado Ruidosa, texto que dirigiu e interpretou pela primeira vez em 1997, no Centro Cultural de Belém. “É interessante para o trabalho de um ator andar tanto tempo com as mesmas palavras”, confidenciará.
Dias antes das autoridades decretarem o fecho dos teatros, em março, o “velho” Hanta, saído das folhas do romance homónimo do escritor checo Bohumil Hrabal, voltara para umas parcas representações no Teatro da Politécnica. Hoje, neste pequeno teatro, casa dos Artistas Unidos, Simão fará mais um ensaio. Na plateia, agora limitada a metade, apenas os jornalistas, de máscara e cumprindo todas as regras sanitárias. A partir de final de agosto, quando a sala reabrir, essas mesmas regras aplicar-se-ão ao público que, cadeira sim, cadeira não, ocupará a plateia, agora praticamente vazia.
Em cena, só, tal como o personagem ao fundo do cenário despido, encontra-se o ator vestido já com a pele do homem que, durante 35 anos, numa cave imunda de Praga, destruiu todo o tipo de papel, incluindo livros, num prensa mecânica. Mas, este “carniceiro” tornou-se “terno”, como considerou Evelyne Pieller, porque se apaixonou pelo que dizem os livros (“depenico uma frase aqui e ali e chupo-a, como um rebuçado”). E sem querer, entre o papel e os ratos, as suas memórias, à semelhança do álcool da cerveja que bebe em abundância, diluíram-se no que leu. À nossa frente, temos alguém que, de antemão, assume: “sem querer, sou culto.”
Perante a mesma “partitura” que o ator levou a palco há 23 anos, saído então da escola de teatro e dono de todo o fulgor da juventude que fazia do espetáculo “uma experiência mais performática”, a história de Hanta surge, inevitavelmente, “tocada de uma outra maneira”. “Cada palavra ganhou outras formas, outros contornos. A técnica também é outra, e aquilo que era sobretudo físico tornou-se mais conceptual, mais centrado no discurso e na narração,” explica.
Mas um solo como Uma Solidão Demasiado Ruidosa ganha também, necessariamente, uma dimensão diferente para o público. Aquele homem que conta a história do seu tempo – da frescura da juventude, passando pelo jugo nazi e pela cruel desilusão dos “amanhãs que cantam” prometidos pelo socialismo, e os pauta com as mais belas palavras que aprendeu nos livros que destrói – é o mesmo que, hoje, se debate com tempos talvez ainda mais sombrios, acelerados ainda mais por via de um inimigo invisivel. Como verifica António Simão, “aquilo de que sofreu Hanta, a personagem desta história, chega nestes nossos dias ao pico do seu horrendo desenvolvimento – a industrialização, a tecnologia, o consumo e a desumanização”.
Talvez, por tudo isso, seja tão urgente voltar àquele subterrâneo em Praga trazido à nossa geografia pelo teatro, e nele reencontrar a esperança na capacidade de, contra todas as adversidades, se ser humano. Mesmo que distantes uns dos outros, e talvez ainda mais sós, e de máscara no rosto.
Para além do Festival de Almada e de uma temporada no Teatro da Politécnica entre 27 de agosto e 19 de setembro, o espetáculo de António Simão é apresentado no Teatro da Rainha (Caldas da Rainha) de 16 a 18 de julho, no Festival Internacional de Teatro de Setúbal a 23 de agosto, no Teatro Municipal Joaquim Benite (Almada) de 25 a 27 de setembro, e no Auditório Municipal António da Silva (Cacém) a 3 de outubro.
Suzanne Lang
O macaco rabugento
Está um dia lindo e o Quim Panzé, o chimpanzé, está de péssimo humor. Os seus amigos não conseguem perceber porquê e todos o incentivam a fazer coisas que o façam feliz. Mas o macaco acaba por perder o controlo ao ouvir tantos conselhos. Será que não o podem deixar simplesmente em paz? Este livro, enriquecido com as ilustrações vivas de Max Lang, fala sobre como lidar com sentimentos inexplicáveis e o sobre o perigo de os reprimir.
Nuvem de Letras
Schuiten, Van Dormael, Gunzig e Durieux
O último Faraó
Originalmente criada pelo belga Edgar P. Jacobs, Blake e Mortimer é uma série de grande sucesso mundial. Este 26º volume conta com uma imagem renovada e com quatro novos autores: François Schuiten, Jaco Van Dormael, Thomas Gunzig e Laurent Durieux. Este novo albúm, fiel, mas ao mesmo tempo muito pessoal, confronta os heróis com uma energia de origem desconhecida que ameaça a sobrevivência da humanidade.
Asa
Alex Milway
Hotel Flamingo
Este primeiro livro de uma série de quatro narra as aventuras de Ana e dos seu grupo de amigos animais. Quando a jovem Ana herda um hotel degradado da sua tia avó, tem um grande desafio pela frente. O outrora esplendoroso e grandioso hotel está a cair aos bocados. Determinada, Ana decide devolver ao espaço a sua velha glória e arranjar forma de todos os animais, dos maiores aos mais pequenos, se sentirem em casa.
Oficina do Livro
Gemma Koomen
O Bando
No início da primavera, os Guardiões das Árvores andam sempre muito atarefados, na grande árvore que existe na orla da floresta. Em vez de se juntar aos jogos barulhentos dos outros Guardiões, Sílvia prefere ficar sozinha, quieta do seu canto. Mas tudo muda quando faz um amigo especial. Este livro aborda o sentido de comunidade e de amizade no mundo de seres pequeninos que tomam conta da árvore, e uns dos outros.
Fábula
Kris Saunders
Pede um desejo
Uma vez por ano, na floresta, lançam-se desejos ao ar. Pela primeira vez, o Coelho consegue apanhar um. Ah, espera! Afinal são três! Inseguro e indeciso quanto a que maravilhas pedir, o Coelho pele ajuda aos seus amigos. E é quando pede conselhos ao Rato, à Raposa e ao Urso que o Coelho percebe que, pensar nos outros é, afinal, a maior riqueza de todos. Esta bonita história sobre generosidade é a prova de que, quando ajudamos o próximo, somos tão mais felizes.
Minotauro
A Galeria de Arte Urbana (GAU), através do projeto #DiariosdeArteUrbana, desafiou alguns artistas a partilhar os processos criativos e as obras que desenvolveram desde o mês de março, durante o período de isolamento social.
Desta forma, os seus trabalhos continuam à vista de todos, só que, ao invés de se poderem ver e apreciar em muros e locais de intervenção artística de Lisboa, podem ser vistos no website da GAU e nas suas páginas oficiais de Facebook e Instagram. Para provar que a expressão artística não tem limites, a Agenda Cultural de Lisboa falou com cinco artistas que contam, na primeira pessoa, como foi trabalhar em casa para quem, normalmente, trabalha na rua e numa outra escala.
Vitó Julião
www.vitojuliao.com
Trabalhar em casa neste período não foi algo muito estranho para mim, já que dedico algum tempo a elaborar projectos no meu estúdio. No entanto, permitiu que dedicasse mais tempo a projetos pessoais, a reinventar-me e a dar um pouco do meu trabalho à comunidade. Durante este período disponibilizei, de forma gratuita, um livro para colorir destinado a manter ocupados adultos e crianças, e criei um Paper Toy, também gratuito, a convite do Instituto Português do Desporto e Juventude. Além disso, fiz ainda diversos Art Prints, que tenho disponibilizado na minha loja online, para fazer face à redução de trabalhos comissionados.
Telmo Alcobia
www.telmoalcobia.com
Faço parte de um grupo, o POGO, que teve de cancelar o trabalho em conjunto, bem como a exposição que estava a planear. Assim, e uma vez que a arte, na minha conceção, fala da vida real, o meu isolamento passou por observar como as pessoas reagiam a estes factos e emoções, interpretações, extrapolações e conspirações. Reduzi as despesas ao mínimo e concentrei-me no que podia controlar. Desenhei como possível, na minha casa minúscula, desenhei para materializar essas ideias, como um diário transformativo de tudo isso, dando origem a uma série de trabalhos intitulada Desenhos de Quarentena, baseados em álbuns e músicas que me acompanharam durante esta temporada.
Tamara Alves
www.tamaraalves.com
Ozearv
www.instagram.com/ozearv
UtOPiA
www.utopia-arts.com
Na quarentena nada mudou a minha rotina profissional, já que faço muito trabalho em estúdio para diversos colecionadores no mundo.Na verdade, neste período tive muito mais encomendas. Apercebi-me de que as pessoas, como não podiam sair de casa, sentiam necessidade de obter trabalho de arte como investimento e por gosto. Aliás, tive imensos pedidos aos quais não pude atender. Ou seja, acabei por pintar duas vezes mais que o normal, enviando mais de 50 telas para diferentes países da Europa e do resto do mundo. Além disso, todos os envios foram seguros e rápidos.
Os dias maiores e com sol convidam a passeios e em Lisboa circula-se já com alguma normalidade. Porém, não deixa de ser uma nova normalidade, feita de precauções que antes ignorávamos. O mais importante é voltar a usufruir da cidade onde vivemos com a maior segurança. Conversámos com cinco empresas que fazem dos passeios e visitas a sua principal atividade. Também elas estiveram paradas, mas regressam agora com toda a confiança e cuidados. O selo Safe & Clean é uma das garantias. Acima de tudo percebe-se, pelas palavras daqueles que estão a habituados a percorrer Lisboa, que é bom estar de volta.
Lisboa Autêntica
lisboaautentica.com/pt
O gosto pela descoberta da cidade levou à criação da Lisboa Autêntica, em 2011. Os primeiros percursos a pé eram visitas emotivas, onde vários participantes regressavam aos locais da infância e partilhavam histórias com mais de 50 anos. Seguiu-se uma nova visita todos os meses e a necessidade de ter especialistas de diferentes áreas, a realizar os trajetos.
Nasceram os Passeios Gastronómicos e Literários, Lisboa das Sete Colinas, Lisboa do Fado e muitos outros. A marcação prévia veio substituir o “basta aparecer” quando um grupo com quase 40 pessoas (o habitual eram 10) surgiu para participar no aniversário de um rapaz, que decidiu fazer a festa num dos passeios. Apostaram também nos percursos de bicicleta, peddy e foto papers, festas de aniversário e despedidas de solteiro. O público que os procura inclui portugueses, turistas e empresas.
A situação atual trouxe diferentes desafios e embora a maioria dos percursos seja ao ar livre, resolveram diversificar a oferta. Têm novos serviços ligados ao aluguer, venda e manutenção de bicicletas e passaram a disponibilizar atividades online que permitem, a quem se inscreve, conhecer e desfrutar o melhor possível da cidade.
STORIC
www.facebook.com/storic.pt/
Três amigos e colegas de profissão criaram a STORIC em 2016. O projeto foi uma resposta à precariedade que enfrentavam nos museus e monumentos onde trabalhavam e uma forma de colmatar as falhas dos serviços educativos que conheciam. O objetivo da empresa é proporcionar visitas comentadas e criar atividades educativas para todos os que visitam Lisboa, os seus museus e monumentos. Trabalham com público nacional e estrangeiro. Os grupos escolares, universitários e seniores formam uma parte considerável da procura.
O Mosteiro dos Jerónimos e o Castelo de S. Jorge estão entre os locais de eleição para visitar, mas há uma especialidade gastronómica muito procurada: o pastel de nata. Para fazer face à nova realidade criaram passeios diferentes que incluem visitas comentadas a vários monumentos e para as quais a STORIC trata de tudo, incluindo a compra dos bilhetes, evitando que os interessados tenham de se deslocar. Foi também pensado um novo percurso com almoço incluído e visita ao Palácio Alverca (Casa do Alentejo), um dos edifícios mais curiosos de Lisboa.
Montes e Vales
www.montesevales.net
Em 2005, David Monteiro resolveu fazer um período sabático, deixando para trás uma carreira na área financeira. O montanhismo fazia parte da sua vida e com mais disponibilidade começou a dinamizar um grupo informal de caminhadas, a que deu o nome Montes e Vales. Foi o início de um novo negócio. Os peddy papers são a principal atividade, mais direcionada para empresas e particulares nacionais.
O passeio de eleição é o Castelo e a Baixa. Percursos variados e o apoio a passeios de empresas congéneres americanas são outra vertente, dirigida a clientes maioritariamente americanos. Devido ao contexto atual a Montes e Vales sofreu um corte de 100% nos serviços que presta. O plano é regressar ao ativo com as alterações necessárias.
Relativamente aos clientes estrangeiros, desde que abram os voos, as diferenças são poucas, uma vez que, muitas das regras de higienização já eram aplicadas. No caso dos peddy papers é mais complicado, porque o formato da atividade dificulta o distanciamento social. Mas com imaginação, essas animações estão a ser repensadas.
Time Travellers
www.timetravellers.pt
Raquel Policarpo e Inês Ribeiro criaram a Time Travellers em época de crise, mais precisamente em 2011, quando o país vivia uma recessão económica. Ambas trabalhavam como arqueólogas, mas a situação profissional complicou-se. Resolveram candidatar-se a um projeto de apoio ao empreendedorismo feminino e assim nasceu uma empresa de passeios e atividades dedicados à descoberta da Arqueologia e Cultura portuguesa.
Para além dos passeios próprios, trabalham em parceria com o serviço educativo de alguns monumentos e realizam eventos para várias empresas. O ano de 2020 trouxe, inesperadamente, uma nova crise. Embora o público da empresa seja sobretudo nacional, sabem que aqueles que chegam de fora ficam fascinados pela nossa história, adoram Alfama e o Castelo, e por isso vão procurar captar, com um novo site, os turistas que eventualmente regressem. Entretanto, introduziram a utilização de áudio guias em todos os passeios, permitindo o distanciamento social. A solução é não baixar os braços e oferecer um momento de cultura e descontração, em segurança.
Lisboa Antiga
www.lisboaantiga.net
A Lisboa Antiga nasceu, em 2017, com o desejo de aproximar o público internacional e nacional ao fado. A oferta da empresa inclui várias experiências de fado com destaque para: 7 Fados 7 Colinas, que inclui um passeio a pé pelo Chiado, Bairro da Bica e Bairro Alto e espetáculo de fado durante a tarde, dirigido a famílias.
Fado Vadio, uma viagem pelo fado, realizada ao fim da tarde, oferece passeio, jantar e espetáculo numa casa de fados. A procura sempre variou entre portugueses e estrangeiros, embora no verão os turistas sejam uma parte importante da receita. Os aniversários e eventos para empresas são também um dos fortes da Lisboa Antiga. Aqueles que se inscrevem levam sempre uma história para contar. São vários os participantes nacionais que se estreiam a cantar fado e muitos dos estrangeiros conhecem pela primeira vez uma guitarra portuguesa.
Com a pandemia há novos desafios e nesse sentido o objetivo é cumprir todas as normas necessárias que dêem confiança aos clientes.
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