“Os mais cruéis labirintos retrocedem diante do seu passo de dança” Desta forma, o poeta José Lezama Lima prestou tributo à arte incomparável de Alicia Alonso (1920-2019), uma das maiores bailarias do século XX, considerada “a primeira na via láctea das grandes Giselle”. Dotada de um domínio técnico preciso e virtuoso, de uma profunda musicalidade, de uma linha de dança puríssima e perfeita, aliava uma qualidade de movimentos grácil e fluída a uma singular intensidade emocional.

“Se algum dia, Alicia Alonso se decidisse a mostrar a história dos seus gestos, dos seus movimentos, que deliciosa novela proustiana teríamos”, escreveu Lezama Lima.

O seu estilo era elegíaco, frágil e etéreo. Parecia, literalmente, flutuar no palco, levando um crítico norte-americano a escrever, em 1967, após assistir a uma representação de Giselle: “sempre que o seu partenaire levantava Alicia Alonso, provocava uma sensação única: que não a elevava, mas que a agarrava para a impedir de voar”.

Se hoje, a figura da Alicia Alonso nos surge como lendária e quase sobrenatural, um ser de uma outra era, a verdade é que a grande bailarina sempre causou essa impressão. Já em 1943, no início da sua carreira, um crítico nova-iorquino afirmava: “Alonso pertence a esse período longínquo quando uma bailarina dançava em pontas para demonstrar ao público que não era uma simples mortal, que era um ser superior, cujo único contacto com o nosso mundo pecador é o espaço reduzido em que pisa o solo”.

Alicia foi a intérprete suprema das grandes obras do repertório clássico e romântico, porém admitiu que Giselle era uma obra muito especial na sua carreira, declarando: “Entre todas as obras do ballet tradicional, Giselle é a mais completa dramaticamente e oferece à bailarina amplas possibilidades para elaborar uma personagem. O contraste entre o primeiro ato – uma ingénua camponesa apaixonada – e o segundo – um ser imaterial, espectral que, não obstante, ama para além da sua própria natureza – constitui um verdadeiro repto interpretativo para uma bailarina.”

O poder de transcender o gesto

Alicia Alonso criou a sua própria versão coreográfica de Giselle, interpretada pelo Ballet Nacional de Cuba, e que montou para a Ópera de Paris, a Ópera de Viena, o Teatro Colón de Buenos Aires, a Companhia Nacional de Dança do México e o Teatro San Carlo de Nápoles.

Alicia dançou no Ballet Theatre de Nova Iorque, nos Ballet Russes de Monte Carlo, nos teatros  Bolshoi e Kirov. Após a revolução cubana de 1959, regressou a casa e formou o Ballet Nacional de Cuba, colocando o seu país no altar da melhor da dança mundial e formando várias gerações de bailarinos. A formação da escola do Ballet Nacional de Cuba mereceu o seguinte comentário de José Lezama Lima: “Alicia Alonso já ensinava, dançando”.

A artista exerceu igualmente um relevante papel de activismo cívico em Cuba. O famoso corégrafo Maurice Béjart exalta este aspecto da sua personalidade: “A bailarina é extraordinária, o personagem não o é menos. Esta noite Giselle, amanhã Carmen, depois de amanhã com botas e uniforme de combate bailando a Revolução Cubana, nas cidades de Oriente ou nas praças de Havana.”

A bailarina ficou quase cega aos 20 anos de idade, depois de sofrer um duplo descolamento de retina. Com uma coragem e tenacidade excepcionais, compensava a falta de visão periférica treinando os seus parceiros para se colocarem sempre no lugar exacto que ela fixava e usando luzes de diferentes cores no palco como guias de orientação. “Quase cega, mas clarividente”, escreveu Maurice Béjart.

Alicia Alonso dançou ininterruptamente até aos anos 80, sem qualquer vestígio de diminuição de faculdades técnicas ou artísticas. Em 1981, o crítico do Ballet News, comentava a sua apresentação aos 61 anos de idade: “Alonso no apogeu da sua forma, deslizou, incrível e facilmente através das exigências técnicas de Giselle.”

Citamos, uma vez mais, José Lezama Lima que, evocando o encontro da arte de Alonso com a sua poesia, escreveu: “ Uma bailarina como Alicia Alonso comprova que existem entre nós miríades de iridescências, de metáforas, de reflexos, de ideias, de nascimentos e presságios que podem ter momentaneamente uma evidência, alcançando forma e esplendor ao serem dançados.”

Homenageando os 100 anos do nascimento da grande bailarina cubana, o Centro Português de Serigrafia edita Alicia Alonso – Prima Ballerina Assoluta, um álbum de Paco Bou que exerceu, durante mais de 30 anos, a função de fotógrafo pessoal de Alica Alonso. Publicação que inclui dois poemas com o título Dança, o primeiro, de Pablo Neruda, o segundo dedicado a Alicia Alonso, da autoria da poetisa portuguesa Joana Lapa.

Uma belíssima edição que celebra o talento da bailarina que, segundo o romancista e musicólogo Alejo Carpentier, tinha “o poder de transcender o gesto, elevando-o ao plano da emoção pura.”

Percorremos os catálogos das plataformas de streaming Filmin, Netflix e HBO, e descobrimos excelentes propostas de cinema para reunir a família em casa.

Papel de Natal

Cinco curtas-metragens portuguesas

(para ver na plataforma FilmIn)

Kali, O Pequeno Vampiro

De Regina Pessoa

Animação, 2012, Cores, 9’, M/12

Considerado “património cultural internacional” pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), este filme conta a história de Kali, um rapaz diferente dos demais. Tal como a lua passa por diferentes fases, também ele tem que enfrentar os seus demónios interiores para, finalmente, encontrar a passagem para a luz.

Gambozinos

De João Nicolau

2013, Cores, 19’, M/12

Esta galardoada curta narra as agruras com que, durante um campo de férias, um rapaz de dez anos se debate. Ali, é ignorado pela menina dos seus olhos e incomodado por rufias quase adolescentes que vandalizam a sua camarata. Para sua sorte, na floresta, os gambozinos teimam em não aparecer.

Papel de Natal

De José Miguel Ribeiro

Animação, 2015, Cores, 30’

Há um monstro à solta, de seu nome Desperdício, que rapta o pai de Camila, uma amorosa menina de 8 anos. Com a ajuda de Dodu, um destemino boneco de cartão, e de Sana, um Pai Natal de todos os dias, o grupo recicla o papel de embrulho de todos os presentes de Natal e o pai é libertado.

O Canto dos 4 Caminhos

De Nuno Amorim

Animação, 2014, Cores, 12’, M/12

Há muito tempo, ainda Tião tomava conta de um campo de milho, perdeu a companhia de uma pega-rabuda, ave a quem se tinha afeiçoado. Desde esse dia, em que o silêncio se abateu sobre o campo, Tião procura recuperar o canto perdido do pássaro.

Razão entre Dois Volumes

De Catarina Sobral

Animação, 2018, Cores, 8’

O Sr. Cheio e o Sr. Vazio não podiam ser mais diferentes. Enquanto o primeiro nunca perde uma memória, uma emoção ou um pensamento, o segundo, pelo contrário, não encontra nada que o preencha. Mas tudo muda quando, um dia, o Sr. Cheio decide enfrentam os medos e o Sr. Vazio resolve fazer uma viagem.

 

Dançar com os Pássaros

Cinco documentários para ver em família

(para ver na plataforma Netflix)

Lego House: Home of the Bricks

De Anders Flack

Dinamarca, 2018, Cores, 47’

Em Billund, na Dinamarca, foi construído um museu com quase 12.000 m² inspirado nas icónicas peças de Lego. Ali, entre muitas outras atrações, há dois pisos próprios para brincar, organizados por cor. Este documentário mostra os desafios enfrentados durante todo o processo da sua construção.

The Short Game

De Josh Greenbaum

EUA, 2013, Cores, 99’

Oito jogadores disputam o Campeonato Mundial Infantil de Golfe de 2012, no prestigiado campo de Pinehurst, nos EUA. Todos eles têm menos de 9 anos e chegam de locais como Manila, Filipinas; Paris, França; Joanesburgo, África do Sul, e Shenzhen, China, para se juntarem aos desportistas americanos.

Dançar com os Pássaros

De Huw Cordey

EUA, 2019, Cores, 51’

Neste paraíso, as aves levam muito a sério a arte de conquistar uma parceira. Os seus rituais de acasalamento são incríveis e em muito se assemelham a uma dança com coreografia bastante elaborada. As imagens deste documentário são verdadeiras maravilhas visuais e mostram comportamentos destas aves-do-paraíso nunca antes registados.

Waterschool

De Tiffanie Hsu

EUA, 2018, Cores, 67’

Seis jovens mulheres que vivem perto dos maiores rios da Terra, nomeadamente o Amazonas, Nilo, Mississippi, Danúbio, Ganges e Yangtze, aprendem sobre água e sustentabilidade e usam o que aprenderam para proteger as suas casas e comunidades, enquanto explicam como o programa de educação ambiental do projeto Waterschool influenciou as suas vidas.

Geração Marte

De Michael Barnett

EUA, 2017, Cores, 97’, M/7

Este documentário sobre exploração espacial, as suas origens e o seu legado explora, através de entrevistas a especialistas e a jovens que esperam poder viajar até Marte, a história e o provável impacto futuro de uma viagem ao planeta vermelho. Os aspirantes a astronautas revelam, ainda, que a viagem a Marte pode estar bem mais próxima do que pensamos.

As Crónicas de Spiderwick

Cinco longas-metragens fantásticas

(para ver na plataforma HBO)

As Crónicas de Spiderwick

De Mark Waters, com Freddie Highmore, Sarah Bolger e Nick Nolte

EUA, 2008, Cores, 92’, M/7

Quando os irmãos Jared, Simon e Mallory Grace se mudam para a velha mansão Spiderwick encontram um livro – O Guia Prático de Arthur Spiderwick para o Mundo Fantástico que nos rodeia – que lhes abrirá os olhos para um mundo invisível, estranho e, por vezes, perigoso de monstros e dragões, phookas e fadas, duendes e diabretes.

Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los

De David Yates, com Eddie Redmayne, Colin Farrell e Jon Voight

Reino Unido, 2016, Cores, 127’, M/12

Newt Scamander é o mais notável feiticeiro de todos os tempos. Em 1926, conclui uma viagem à volta do mundo, cuja missão era encontrar e documentar uma infinidade de criaturas mágicas. Depois desta aventura, o regresso de Scamander a Nova Iorque tinha tudo para ser pacífico, não fosse um No-Maj de seu nome Jacob.

Pan, Viagem à Terra do Nunca

De Joe Wright, com Rooney Mara, Hugh Jackman e Levi Miller

EUA, 2015, Cores, 107’, M/12

Por altura da Segunda Guerra Mundial, o jovem Peter, órfão, é raptado por piratas e levado para a Terra do Nunca. Peter tem a missão de libertar este pedaço de Terra das mãos do pirata Bárbara Negra e de descobre o seu destino, tudo para que se possa tornar no herói conhecido como Peter Pan.

A Bússola Dourada

De Chris Weitz, com Nicole Kidman, Daniel Craig e Dakota Blue Richards

EUA, 2007, Cores, 109’, M/12

Lyra Belacqua é uma órfã de onze anos que foi criada na Universidade de Oxford. No mundo paralelo em que vive, todas as pessoas têm uma manifestação da sua própria alma em forma de animal. Graças à sua uma curiosidade desmedida e a um grande sentido de aventura,  Lyra parte numa jornada que pode alterar o mundo para sempre.

Viagem ao Centro da Terra 2 – A Ilha Misteriosa

De Brad Peyton, com Dwayne Johnson, Michael Caine e Josh Hutcherson

EUA, 2011, Cores, 90’, M/12

Quatro anos depois da viagem com o tio ao centro da Terra, Sean recebe um pedido de socorro codificado vindo de um local ainda mais incrível e remoto: uma ilha não cartografada onde nada deveria existir. Aquele é um sítio com estranhas formas de vida, montanhas de ouro, vulcões mortais e mais do que um extraordinário segredo.

De um total de 42 candidaturas recebidas nesta edição do concurso, mais 17 do que no ano passado, o tema Amália é Lisboa, com letra de Joaquim Isqueiro e música de José Reza, foi escolhido pelo júri composto, este ano, por Renato Júnior (em representação da Sociedade Portuguesa de Autores) e pelos músicos Carlos Mendes e Rita Guerra.

Depois de vencerem o Concurso Grande Marcha, em 2009, Joaquim Isqueiro e José Reza repetem agora a vitória. Naturais de Lisboa, dividem a vida profissional com a música, “um hobby de sempre”. No caso de Joaquim Reza, o “hobby, vai um pouco mais além, tendo gravado vários discos, o primeiro nos anos 1970, acompanhado pelo Quarteto 1111. Nesta altura, chegou mesmo a partilhar o palco com Amália Rodrigues num programa de televisão, a mesma artista que agora lhe serviu de inspiração.

Este ano, a juntar ao tema obrigatório – «Lisboa» – a letra da composição do Concurso teve como inspiração «Amália Rodrigues» numa homenagem à diva do Fado para assinalar o centenário do seu nascimento.

Com mais de duas décadas, este concurso organizado pela EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, visa selecionar uma composição (música e letra), cujos atributos, tanto literários como musicais, melhor caracterizem a cidade de Lisboa, distinguindo todos os anos o tema vencedor com um prémio no valor de cinco mil e quinhentos euros.

Devido ao cancelamento das Festas de Lisboa deste ano, na sequência da pandemia do coronavírus, a composição vencedora será apresentada e interpretada por todos os participantes nas exibições e no desfile das Marchas Populares, no âmbito das Festas de Lisboa de 2021.

Estamos em quarentena. Isolados, separados fisicamente. O confinamento pode ser doloroso, não vamos mentir. No entanto, com música tudo se torna mais fácil.

Numa altura em que todos estamos a tentar Stayin’ Alive (Bee Gees), há que seguir algumas New Rules (Dua Lipa). Na fila do supermercado, por exemplo, diga a quem se aproximar demasiado: Don’t stand so close to me (The Police). Também não se pode esquecer de lavar bem as mãos, pois sem querer pode tocar em alguma coisa Toxic (Britney Spears). A brincadeira poderia sair cara, e passado uns dias começar a sentir Fever (Elvis Presley). Seguir-se ia uma sensação de Harder to breathe (Maroon 5) e teria de correr a chamar o Doctor Doctor (Thompson Twins) que provavelmente lhe diria qualquer coisa como: You sound like you’re sick (The Ramones).

Ninguém quer ser um Sick boy (The Chainsmokers), por isso o melhor é ter cuidado, mantendo sempre pensamento positivo: I will survive (Gloria Gaynor). Isolation (John Lennon) é a palavra de ordem, bem como You can’t touch this (MC Hammer), por isso nada de vacilar. O Sacrifice (Elton John) pode ser grande, mas We can work it out (The Beatles)!

Quando pudermos finalmente sair de casa e voltar à nossa rotina, cantaremos Hallelujah (Leonard Cohen)… O coronavírus veio virar as nossas vidas do avesso e obrigou-nos a grandes adaptações, mas Don’t stop believin’ (Journey)! Não há dúvida de que nada será como dantes e que It’s the end of the world as we know it (REM). No entanto, apesar das mudanças, a vida retomará o seu curso e Everything will be allright (The Killers).

O Teatro enquanto arte e ofício, ganha sentido através da presença conjunta de pessoas num mesmo lugar, a uma mesma hora, para assim vivenciarem conjuntamente uma situação ficcional e relacional entre quem executa e quem observa, entre Artistas e público, palco e plateia.

Esta crise pandémica está a paralisar o mundo de forma nunca antes vivida, circunstância que já está a influenciar os comportamentos e os relacionamentos humanos e, consequentemente, a forma como a classe artística, em plena combustão invisível, cozinha o incógnito futuro.

Por outro lado, nenhum modelo de programação consegue ainda ter resposta para uma situação em que se desconhece quando é que se regressa à vida dita normal e quais as exigências funcionais que nos vão ser colocadas, entre muitas outras questões.

O nosso olhar Meridional perante o mundo, está inevitavelmente também em processo de reflexão/ação, antevendo que as características do público, enquanto entidade recetora, também sofrerão alterações significativas e, como tal, os mecanismos e processos de comunicação terão igualmente de se agilizar inteligentemente.

Uma coisa é certa: queremos continuar a pensar e fazer Teatro e, embora a relação com o público, de imediato, só seja possível de uma forma virtual, estamos a aproveitar este período para refletir e concretizar atividades – já lançámos várias iniciativas de âmbito criativo nas redes sociais e vamos continuar a explorar esse campo de comunicação – e pensar projetos que envolvam os nossos pares e o público e que nos permitam alimentar outros saberes.

Queremos acreditar que este é um período em que todos temos de fazer ainda mais uns com os outros e, principalmente, uns pelos outros. 

O teatro, tal como o víamos e sentíamos há uns dias, irá com certeza voltar aos poucos, mas nunca será exactamente igual, pois conheceu uma “paragem” que nunca tinha acontecido na sua história. O teatro nunca tinha parado a uma escala global e de uma maneira tão imprevista e repentina. Como será o teatro uma vez superados os perigos e os abalos desta situação? Haverá sempre um antes e um depois, creio eu. 

O Teatro Aberto foi dos primeiros teatros a pôr alguns dos seus espectáculos em streaming. Entendemos essa iniciativa como um gesto cívico e simbólico, como uma forma de o teatro continuar a existir na vida das pessoas e também de ser lembrado como aquilo que era e é verdadeiramente. O verdadeiro teatro é um espaço de encontro e partilha, onde a comunicação se estabelece ao vivo entre os actores e os espectadores. O teatro precisa da proximidade do outro. É feito e acontece à vista do outro. É essa a sua essência. Quando o verdadeiro teatro voltar, como é que o público irá vê-lo? Com mais estima, pelo redobrar da alegria de se poder voltar a juntar para assistir a um espectáculo ao vivo? Ou, pelo contrário, com desconfiança, por não estar suficientemente separado? Quando e como é que os teatros vão voltar a abrir as suas portas?

Quanto tempo mais vamos estar parados? Semanas? Meses?

Nos últimos dias, tem-se ouvido falar de uma luz ao fundo do túnel. Talvez seja verdade, talvez haja essa luz. Por mais que queira, não observo só esperança nessa luz. Vejo também o comboio, com classes ainda mais desiguais e uma nova terceira classe, onde nem sequer há bancos para as pessoas se sentarem.

Quando afasto estes pensamentos sombrios, imagino que a viagem neste “Interpaíses” talvez nos leve a um bom destino e os apeadeiros sejam lugares aprazíveis. Enquanto espero vou reler um livro de Beckett que tenho ali na minha estante.

 

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Durante este tempo pensámos nas crianças e nos jovens dentro das suas casas. Queríamos que pudessem continuar a relacionar-se com o LU.CA, ultrapassando a dimensão do teatro na calçada da Ajuda, transportando esta relação para um outro lugar na ausência de lugar físico.

Durante este tempo, estivemos em diálogo com os artistas organizando calendários e encontrando soluções para cada espectáculo e actividade que estava programada, trabalhando para garantir os compromissos que tínhamos assumido.

Dado o interesse de alguns artistas em testar o que este novo contexto propõe, alguns projetos transitaram para um modelo exploratório online.

Há obras que, por alguma razão, se ampliam através deste formato. Pelas características das metodologias utilizadas pelos criadores, foi possível avançar mais do que esperávamos, e ao mesmo tempo chegar a novos públicos.

Se, por um lado, esta paragem forçada tem sido extremamente penosa, por outro vemos que está a nascer um novo tempo e um novo lugar artístico. Como resultado deste confinamento, procuraram-se soluções criativas para a resolução de novos desafios que afinal se revelaram enunciados.

É nesta capacidade de redescoberta e de exploração que queremos investir.

O LU.CA está a desenhar o seu futuro em diálogo com as equipas artísticas, com os técnicos, os professores, os investigadores e os pais, e em relação com o que está à volta.

Ir ao LU.CA é assistir a espectáculos, mas também é conviver com as artes que orbitam à volta das practicas performativas; agora passaremos a explorar essa relação nos “novos espaços”.

Os palcos que aí vêm serão vários e as dinâmicas com os públicos terão de ir para além da experiência da rotina: o corpo no espaço físico do teatro.

Um teatro para crianças e jovens vai continuar a existir porque essa experiência é única, real e intransponível,  mas queremos crescer noutros canais. Iremos fazê-lo não só construindo novas formas de contacto com as obras e com os artistas, mas também apresentando novas obras exploratórias que, acredito, se iniciem à luz deste novo contexto: projectos que encontrem no online um desafio e um contexto favorável para fazer crescer novas ideias.

A cultura é um valor fundamental nas nossas vidas e, por isso, depois destes dias de confinamento, não haverá incertezas na defesa desse princípio fundador da liberdade. Faremos, juntos, um caminho que nos devolva a casa os artistas e os públicos sem os quais este teatro são só paredes vazias.

O que temos para oferecer é o resultado de um compromisso com todos e cada um, técnicos, artistas e espectadores: Uma temporada preparada com o mesmo empenho e a mesma alegria que nos é característica, e onde ninguém ficou para trás.

Mas quero sublinhar isto: estamos e estaremos prontos para reforçar o coletivo e proteger cada um daqueles que vierem ter connosco. Temos consciência do impacto que algumas mudanças irão produzir nas artes da proximidade como o são as artes performativas. Serão vários os desafios a enfrentar mas nenhum deles nos faz vacilar quando afirmamos que estaremos prontos e em segurança.

É no coletivo que o desejo do teatro se converte em representação. É no indivíduo que ele se prolonga. As salas são cheias de indivíduos, não são só números. Abrimos porque vos queremos nossos cúmplices. E isso implica proteger todos e cada um.

No futuro próximo, os artistas continuarão a ser o nosso presente. Eles são o centro do nosso trabalho. Conscientes do momento que se atravessa, queremos que saibam que o São Luiz é o que tem sido por vossa causa e, por isso, estamos na linha da frente na defesa dos vossos direitos. Juntos, somos mais teatro. Juntos, saberemos olhar para estes tempos sem esconder que a fatalidade não se transforma em oportunidade ignorante. Muda-nos. E seremos, todos, melhores na mudança.

Desde que fechámos, a coisa mais importante que estamos a fazer no Teatro do Bairro Alto é encontrar maneira de, com os mecanismos legais disponíveis, assegurar o pagamento dos compromissos com artistas e restantes trabalhadores. Não deixámos de fazer planos e conjecturas, de reagendar espectáculos, de imaginar o futuro (é essa a definição de programar); mas temo-nos sobretudo concentrado no presente, é aí que começa a nossa obrigação.

Neste presente suspenso, divulgámos online a brochura que teria a nossa programação até Junho e ficou por imprimir, artefacto de uma realidade alternativa; preparamos um novo processo de obras no edifício, desta vez nas zonas de bastidores; e pensamos no que pode fazer, em tempos de isolamento, um espaço que serve para juntar pessoas.

Como o TBA, antes de abrir, começou online (com fotos e vídeos e um podcast), interessa-nos promover a interrogação de alguns formatos digitais, prosseguindo assim a nossa vocação experimental: os teatros estão fechados, mas o teatro não é impossível. E também não é obrigatório: há muitas pessoas (público e artistas) que não querem nem podem mudar-se de armas e bagagens para o Zoom. Esperaremos por/com elas.

E será talvez gradualmente que voltaremos a estar juntos, a estar perto. Pouco a pouco, que de crescimentos exponenciais já estamos fartos.

 

[O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Ricardo Henriques (texto) e Nicolau (ilustração)

1.º Direito

Graça, a protagonista desta história – que, curiosamente, também se encontra fechada em casa -, sente-se entediada. De forma a passar o tempo, Graça observa os seus vizinhos da janela. Entre os vários moradores do prédio da frente, vive um músico que dá concertos para a vizinhança, um fotógrafo que, crê a Graça, é incompreendido, e alguns clientes do Café Dias. Mas há uma pessoa em particular que lhe interessa mais que as outras: o novo vizinho do 1º direito. Como ele passa horas sentado a uma secretária a escrever ou a olhar pela janela, como a Graça, ela tem quase a certeza de que ele é um assaltante a planear o seu próximo golpe. Será?! E, afinal, quem observa quem? 1.º Direito é uma história de suspense e mistério, contada com cores quentes, contornos policiais e alguma intriga internacional, e que promete prender os seus leitores aos sofá. Este novo livro do Pato Lógico, que conta com os textos de Ricardo Henriques e com as ilustrações de Nicolau (ilustrações), inspira-se ligeiramente no filme Janela Indiscreta, realizado por Alfred Hitchcock em 1954 e inclui uma homenagem ao director de arte Hal Pereira, habitual colaborador do realizador.

Pato Lógico

Rachel Bright

O Leão que temos cá dentro

Nem sempre é fácil ser-se pequeno, que o diga o Rato. Mas quando este parte numa viagem em busca do seu rugido, descobre que não é preciso ser-se grande nem valente para se encontrar a nossa voz. Esta é uma história de amizade, coragem e valentia que mostra que, até a mais pequenina das criaturas, pode ter um coração de leão.

Presença

José Maria Vieira Mendes e Madalena Matoso

Para que serve?

Este é um livro para os mais curiosos. E tudo porque ele adora fazer perguntas. Na verdade, ele gosta  muito mais de um mundo com perguntas do que de um mundo com respostas. Talvez goste de alguma confusão e seja também, talvez por isso, que faz tantas perguntas: porque as perguntas confundem o mundo. E todos sabem que, um mundo sem alguma confusão e mistério, é um mundo triste e aborrecido.

Planeta Tangerina

Alice Vieira

Trisavó de Pistola à Cinta e Outras Histórias

Este livro de Alice Vieira reúne dez histórias completamente diferentes umas das outras. Histórias de programas de televisão que prometem felicidade para sempre, de avós trazidos para a grande cidade e que morrem de saudades das árvore do quintal, deste nosso tempo de famílias complicadas, de heroínas familiares que, de repente, se descobre não terem sido assim tão heróicas quanto isso.

Caminho

Christian Robinson

Outro

Este livro transporta o leitor para uma Alice num país das maravilhas para mais pequenos. Um lugar só de crianças, de brincadeiras e de passeios fora de horas. Considerado o melhor livro infantil ilustrado de 2019 pelo New York Times e pela New York Public Library, Outro é um livro mágico e sem palavras, que retrata uma insólita e colorida viagem ao outro lado do espelho.

Orfeu Negro

Eric Carle

A pequena semente

Este livro relata a aventura de uma pequena semente até se transformar numa flor gigante. Apesar da sua delizadeza, a pequena semente consegue ultrapassar todos os perigos e ameaças até se tornar na flor imensa que todos querem admirar. De uma forma só simples na aparência, Eric Carle mostra às crianças o mundo que as rodeia, descrevendo, através de cores e frases poéticas, o ciclo natural de uma planta ao longo das estações do ano.

Kalandraka

Benji Davies

Ursito Tito

Esta é uma coleção de quatro livros destinada aos mais pequeninos e que promete muita animação e aventuras. Através de ilustrações apelativas e cheias de cor, Benji Davies estimula as crianças a procurar, contar, imitar e questionar, e os mecanismos interativos presentes nos livros são ideais para os pequenos dedos dos seus leitores. Os títulos disponíveis são: Um Dia na Quinta, Aventura Pirata, Ajudar no Zoo e Brincar no Parque .

Planeta

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