Isabel Abreu explica a génese do projeto. Tudo começa na admiração mútua existente entre ela e a fadista Aldina Duarte. Nasceu uma “vontade grande de nos juntarmos e de podermos trabalhar juntas. A Aldina falou de quatro fados que já faziam parte do repertório dela (no disco Contos de Fados, 2011): Ainda Mais Triste, letra de Manuela de Freitas (inspirado por Longa Jornada Para a Noite, texto de Eugene O’Neill do qual é protagonista Mary Tyrone), Branca, Branca, letra da mesma (baseado em Um Eléctrico Chamado Desejo, peça de Tennessee Williams, onde a figura principal é Blanche DuBois), Fado Com Dono, escrito por Maria do Rosário Pedreira (servindo-se do mito de Orfeu e Eurídice) e À Espera de Redenção, letra, uma vez mais de Manuela de Freitas (partindo da tragédia Medeia, de Eurípides). Às duas mulheres, a atriz e a fadista, reuniram-se dois homens: o ator, dramaturgo e encenador Miguel Loureiro, com quem Isabel Abreu já tinha trabalhado, e o pianista Filipe Raposo, trazido por Aldina Duarte de outras aventuras musicais.

O trabalho fez-se de uma sucessão de encontros para onde cada um trazia propostas que levaram à reflexão conjunta. As letras dos fados existentes proporcionavam uma primeira dramaturgia. Juntaram-se os textos canónicos das quatro personagens. Miguel Loureiro escreveu ainda um texto para as mesmas personagens. Finalmente a música trazida por Filipe Raposo, de sua autoria e também dos colossos Johann Sebastian Bach e Kurt Weill. “Tivemos uma gestão do tempo completamente diferente do habitual”, refere Isabel Abreu. “Tínhamos semanas em que nos encontrávamos dois dias.” Acrescenta o encenador: “Elas tiveram esta ideia há dois anos, depois surgiram as conversas iniciais, e houve um tempo para desenvolver a parte da escrita. Do que havia nestas personagens, três delas feitas no palco pela Manuela de Freitas, e a da Maria do Rosário que é uma personagem mais mitológica, Eurídice.”

Quatro pilares, quatro figuras que conduziram Miguel Loureiro às fontes da sua proveniência. Os autores, os textos que fizeram evoluir a sua escrita específica para o espetáculo. Um recital de músicas e palavras, com uma dramaturgia que faz incidir a luz nas zonas de sombra. “Fui descrevendo sensações numa espécie de itinerário com vento doentio, as notas musicais entendidas como condições atmosféricas que envolvessem os textos, e de gradações de desgraça: Blanche Dubois presa num colete de forças; Mary Tyrone viciada na morfina; Medeia lidando com a morte, com o assassínio; Eurídice num estado post mortem, no Inferno.”

O espetáculo abre com uma pontuação kurt weilliana de duas irmãs, ambas chamadas de Anna, e que são na verdade uma desdobrada em dois corpos, que amparadas uma pela outra avançam pelo cenário despido de tudo o mais, além do piano, de algumas cadeiras, e do equipamento necessário à apresentação da música, atravessado por uma iluminação bastante crua. Elas entram às cegas, para depois serem possuídas pelas quatro identidades que surgem da complementaridade ao trabalho de ambas. Uma atriz e uma fadista. “Não há nem houve nunca a intenção de ir fazer o que o outro faz. Vive-se mais da sensação do encontro e da comunhão. Podes servir o outro, mas nunca procurar fazer o que o outro faz.” Palavras, uma vez mais, de Isabel Abreu, que remete para a dinâmica pedida de empréstimo ao ballet satírico Sete Pecados Mortais, de Bertolt Brecht e Kurt Weill. O piano de Filipe Raposo dá o ponto de gravidade no palco, lança a noção de périplo e chega a deslocar-se em cena tal como as duas mulheres que darão voz e funcionarão como silhuetas das outras quatro.

“Não se trata propriamente do desejo erótico”, esclarece Miguel Maia antes de explicar que O Barão, a partir do texto de Branquinho da Fonseca com excertos do ensaio As Portas da Perceção de Aldous Huxley, é o primeiro tomo daquilo “que poderá ser um díptico ou, quem sabe, uma trilogia” de Estudos sobre o desejo.

Falemos então desse “desejo” que o encenador define como “um conceito que é fulcral na criação artística, por ser a força motriz de qualquer ato consciente ou inconsciente de criação”. Aqui, ele é moldado em cena, fazendo do “palco o lugar do desejo”, onde Inês Garrido, Isac Graça, Rita Marques e Telmo Mendes “competem por personagens como se fosse o ato de amor que cada um nutre por elas.”

O Barão

Venham! De 11 a 21 Julho – Armazém 16 – Reservas: www.cepatorta.org/barao

Posted by Companhia Cepa Torta on Thursday, 4 July 2019

 

O ponto de partida é O Barão, para muitos a obra-prima de Branquinho da Fonseca, publicada em 1942, onde o escritor narra a chegada de um inspetor escolar a uma remota aldeia transmontana, tomando conhecimento da misteriosa e intimidante figura do Barão. Cada personagem do conto (desde os gatos vadios à Professora que apresenta o Inspetor ao Barão) permite aos atores encetar “um exercício de agilidade, transformando-se aos olhos do público numa e noutra personagem”, refere Isac Graça.

Este é o trabalho de ator no jogo teatral, o qual neste primeiro tomo dos Estudos sobre o desejo é encetado como um campo de pesquisa e experimentação. “Aquilo que lhes exigi foi que conseguissem contar a história do Branquinho da Fonseca”, sublinha o encenador acerca desta “cocriação dirigida”.

Mas, à obra do escritor beirão, Maia acrescentou ainda mais uma variável ao jogo: excertos do ensaio de Huxley sobre as suas experiências com mescalina. “Um modo de explorar o inesperado, de chegar à verdade das coisas para que exista a perceção de que não é só o corpo dos atores que se mostra. É, sobretudo, a sua mente ”, explica.

A partir destas “regras”, “cada um de nós foi livre para trazer-se a si mesmo ao jogo”, e a Branquinho, Huxley e outras referências “que convocámos em conversas e discussões sobre o desejo de criar este espetáculo”, juntaram-se palavras de cada um dos atores. Estudo sobre o desejo – Tomo I: O Barão transforma-se então numa viagem ao fazer teatral.

Em estreia num armazém industrial de Marvila Velha, com comboios a passar a poucos metros de distância, o espetáculo está em cena, de quinta a domingo, até 21 de julho. Em outubro, tem atuações agendadas para as Caldas da Rainha e para o antigo Cinema Passos Manuel, no Porto.

A amizade de 20 anos juntou as atrizes e criadoras Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas e Sílvia Filipe num projeto que partiu da urgência de serem mulheres. Queriam evocar aquelas que se bateram pelos seus direitos, usar as palavras de personagens femininas que trespassam séculos e séculos de história com uma força indómita, mesmo na tragédia que ainda hoje continua a assolar milhares e milhares de mulheres vítimas de violência doméstica, abusos e assédio sexual e preconceito. Pretendiam juntar tantas e tantas autoras, como Virginia Woolf, Clarice Lispector ou Simone de Beauvoir, que marcaram todo um discurso no feminino, e feminista.

“Estas mulheres somos nós e as mulheres que são para nós referências, sejam personalidades reconhecidas ou pessoas comuns.”

 

Mas, durante o processo criativo, e com a ajuda preciosa na dramaturgia de Alex Cassal e Judite Canha Fernandes, acabaram por acrescentar a tudo isso “qualquer coisa mais pessoal”, em que as personagens que interpretaram como atrizes e a cumplicidade que criaram enquanto amigas e mulheres penetram no diálogo. As três sozinhas torna-se assim um exercício íntimo e de exposição de sentimentos e emoções, habitado pela Anabela, pela Cláudia e pela Sílvia, e por toda uma multidão de mulheres que ecoam nas suas palavras e nos seus corpos, e fazem parte de cada uma delas.

Sobre um tapete de rebuçados de mentol, num misto de brilho festivo e doçura com a dor profunda que inflige quem os pisa, as atrizes oferecem um espetáculo muito pessoal, feminino (mesmo que assumam “não saber o que isso é”) e objetivamente feminista. Para partilhar com todas as mulheres, e com os homens também.

As três sozinhas integra a programação do 36.º Festival de Almada e está em cena até 14 de julho.

A correspondência será meramente simbólica, mas a retrospetiva quase integral da obra de Jean-Claude Brisseau (1944-2019) que a Cinemateca Portuguesa fará durante o mês de julho (de 2 a 30), remete-nos para a iniciativa semelhante de há ano e meio, ainda era vivo o cineasta, que a congénere francesa acabou por adiar e nunca vir a realizar.

O anátema sofrido por Brisseau tem origem na preparação do filme que o deu a conhecer em Portugal, e não só: Coisas Secretas (2002) assinala a última vez que o realizador dispôs de valores de produção ditos padrão, que se mantiveram na primeira meia-dúzia de longas-metragens para o cinema que dirigiu – de Un Jeau Brutal (1983) até Coisas Secretas – uma vez que o trajeto brisseauniano descreve uma curva bastante irónica onde observamos no começo e no final a mesma condição de amadorismo. Se, no início, isso tinha a ver com a experimentação de alguém que se situava fora do meio do cinema e que não dispunha dos recursos de um realizador profissional, anos mais tarde seria consequência de ter sido colocado fora do mesmo, na conclusão de um processo de assédio que resultaria o pagamento de uma indemnização e a condenação a um ano de pena suspensa. Um dos seus melhores filmes, Coisas Secretas, foi, assim, aquele que amaldiçoou o resto da sua carreira.

“Céline” (1992)

 

Jean-Claude Brisseau foi sempre um nome periférico na história da cinematografia francesa. O realizador nunca escondeu a maior influência que sentia da parte do cinema de fora do seu país (Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick ou Luis Buñuel) e os filmes que realizou mostraram sempre elementos idiossincráticos que os demarcavam de uma dominante realista feita do cuidado com que eram dados os aspetos sociais das suas histórias.

Desse período inicial, mas já na qualidade de realizador de profissão, destacam-se os títulos De bruit et de fureur (1988) e Noce blanche (1989), que refletem igualmente a atividade de professor de liceu que Brisseau desempenhou até aos 40 anos. Mas havia ali já uma dimensão sobrenatural, mística ou metafísica, que se acentuou decisivamente com um dos seus principais filmes, Céline (1992), e que trouxe uma marca tão individual que não mais abandonaria a obra de Brisseau.

Esta espécie de ligação ao cosmos, a outras dimensões, realidades e vidas, à figuração de fantasmas, que são na prática de Brisseau como que obscuros objetos do desejo, acompanhada de uma especulação científica e teológica que bebe das mais heterogéneas culturas e fontes do conhecimento, seria ainda reforçada nos seus últimos filmes, alguns de carácter doméstico, no sentido literal, porque filmados parcialmente na própria casa do realizador. São os casos de A Rapariga de Parte Nenhuma (2012), belíssimo filme-testamento que lhe granjeou o prémio máximo no Festival de Locarno, e o derradeiro Que o Diabo Nos Carregue (2018) de que Portugal foi um dos dois ou três países a estreá-lo comercialmente.

“A Rapariga de Parte Nenhuma” (2012)

 

Esta completíssima retrospectiva da obra de Jean-Claude Brisseau dirige-se a iniciados e até aos maiores conhecedores da sua obra. Teremos a oportunidade muito rara de ver os seus filmes feitos para a televisão, La Croisée des Chemins (1975) e La Vie Comme Ça (1978), pela primeira vez mostrados na Cinemateca e em cópias digitais, e todos os restantes títulos por ele assinados que existem num suporte que permite a exibição, num total de 14 títulos, mais o documentário-entrevista com o realizador, Brisseau – 251 Rua Marcadet (2018), de Laurent Achard.

Aceitemos pois o desafio de procurar neste vasto obscuro, objetos partilháveis do desejo, que é uma outra forma de dizer em poucas palavras aquilo que constitui a essência do ato de ver cinema.

Jean-Claude Brisseau

Desaparecido em maio passado, aos 75 anos, Jean-Claude Brisseau foi um cineasta muito falado nos últimos anos da sua vida, pelas piores razões. Muito falado, mas pouco visto: grande parte da sua obra, iniciada nos anos 70, permanece totalmente inédita em Portugal, e ao circuito comercial português os seus filmes só começaram chegar com regularidade a partir de CHOSES SÈCRETES, já anos 2000. Esta retrospetiva, que mostra todas as longas-metragens de Brisseau de que exista cópia física em condições de projeção, realizada agora na sequência da sua morte mas nos planos da Cinemateca há tempo considerável, será portanto uma revelação: pela primeira vez, em Portugal, um olhar de conjunto sobre uma obra crucial do cinema contemporâneo.Mais informações em: http://www.cinemateca.pt/CinematecaSite/media/Documentos/brisseau.pdf

Posted by Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema on Tuesday, 2 July 2019

Michel Houellebecq

Serotonina

Habituámo-nos a procurar nos romances de Houellebecq sinais premonitórios ou sintomas de algo que se poderá manifestar através de um acontecimento traumático, e relativamente a Serotonina não tardou a aproximação justificada ao movimento dos coletes amarelos em França. No entanto, o aspeto mais radical do livro é outro e anuncia-se na página 48: “Os números eram impressionantes: por ano, mais de doze mil pessoas em França escolhem desaparecer, abandonar a família e refazer as suas vidas, às vezes do outro lado do mundo, às vezes sem mudarem de cidade.” É o que fará o protagonista deste livro: abandonar tudo, o trabalho, o apartamento, a atual companheira, e viver uma outra vida, não deixando nunca de ser quem é. Florent-Claude Labrouste deambulará pela França e pelas memórias das mulheres da sua vida, numa sucessão de encontros onde impera a frustração e o desespero. É uma personagem que busca uma réstia de humanidade e que testa a cada momento a sua capacidade de se desumanizar. A marca do pessimismo houellebecquiano volta a ser muito forte, mas perante tudo o que testemunham as suas personagens, podemo-nos perguntar se não será ele o último dos humanistas. Alfaguara

Maxime Rodinson

Maomé

Fundamentado a oportunidade de mais uma biografia de Maomé, o profeta do Islão, o autor esclarece que não apresenta nenhum facto novo. Procura, com base nos factos já conhecidos, refletir sobre as constantes das ideologias e dos movimentos de base ideológica e na forma com se manifestam nos acontecimentos que relata. Seguindo atentamente as controvérsias atuais sobre a explicação de uma vida pela história pessoal do herói na sua juventude e pelo seu micromeio, reconcilia-as com o ponto de vista marxista sobre a causalidade social das biografias individuais. E conclui: “Em suma, procurei ser ao mesmo tempo narrativo e explicativo”. A edição desta obra de referência permite ao leitor português, herdeiro de um forte contributo árabe na sua história, conhecer melhor esta civilização que volta a marcar os destinos do mundo, ultrapassando as crescentes perplexidades que ela desperta, alimentada de ideias simplistas ou demasiado genéricas. O rigor e a erudição do historiador aliam-se à formação do sociólogo e do orientalista, num texto que “narra e explica” exemplarmente. Caminho

 

  

Herman Hesse

As mais Belas Histórias

Hermann Hesse (1877/1962), prosador e poeta alemão, um dos mais importantes do século XX, cedo revelou a vocação literária que o faria abandonar os estudos de teologia e a carreira religiosa. Laureado com o Prémio Nobel de Literatura em 1946, deixou uma obra em que, sob influência da psicanálise e das religiões orientais, procura uma solução espiritual para os problemas e contradições da natureza e da cultura humanas. O Lobo das Estepes, Narciso e Goldmundo, O Jogo das Contas de Vidro, Peter Camenzind ou Sidarta são títulos de alguns dos seus principais e mais famosos romances. Certos críticos consideram, no entanto, que os seus contos atingem uma beleza e uma perfeição raramente igualada nas suas obras de maior fôlego. A presente seleção apresenta treze contos de diferentes temáticas, mas todos reportados a experiências pessoais vividas por protagonistas de quem nos sentimos próximos por nada possuírem de heróico, revelando um amplo espectro dos paradigmas do comportamento humano. Dom Quixote

 

 

Natália Correia

Antologia de Poesia Erótica e Satírica

De Martim Soares (1241?) a Dórdio Guimarães (1938- 1997), esta célebre antologia, com selecção, prefácio e notas de Natália Correia, reúne oito séculos de poesia portuguesa erótica e satírica. Depois vários livros seus terem sido apreendidos pela Censura do Estado Novo, a autora aceitou o convite do visionário editor da Afrodite, Fernando Ribeiro de Mello, para organizar esta Antologia. Publicada em dezembro de 1965, prometia “a poesia maldita dos nossos poetas”, “as cantigas medievais em linguagem actualizada”, “dezenas de inéditos” e “a revelação do erotismo de Fernando Pessoa”. O escândalo foi enorme e a obra apreendida pela PIDE, com vários dos intervenientes julgados e condenados em Tribunal Plenário, num processo que se arrastou durante anos. Republicada pela primeira vez com as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas, incluindo novos textos introdutórios e reproduções de documentos que contextualizam este marco histórico na edição em Portugal, fundamental para todos os que acreditam no poder transgressor e subversivo da poesia. Ponto de Fuga

 

 

Agustina Bessa-Luís

As Pessoas Felizes

Nascida em 1922, desde cedo ficou patente a vocação literária de Agustina. A “Sibila”, de 1954, constitui um enorme sucesso e revela a sua mestria na arte do romance através da criação de “atmosferas onde se vão tecendo e emaranhando redes de factos semiperturbados por memórias ou pressentimentos que se adensam em personagens quase sempre estranhas, seja por antigos vícios de temperamento, seja por um irracionalismo quase predestinado das atitudes”. Recebeu em 2004 o Prémio Camões pelo conjunto da sua obra. Este romance tem por tema a família Torri, do Douro, que à semelhança de outras famílias burguesas do Porto, se sentia feliz nos anos cinquenta, mas que começa a perceber a ruina do seu país na década que precede a revolução do 25 de Abril. “É um romance que quase não tem enredo. Nem aquilo que se chama plot. Tem ambiente e tem história recordada. Não tem factos e até os sítios são poucos. Os locais de Agustina são as memórias, os sentimentos ou as consequências do real”, escreve António Barreto no prefácio à presente edição. Relógio D´Água

 

 

Ivo Meco

Jardins de Lisboa

O livro Jardins de Lisboa é mais do que um guia, é um conjunto de histórias de espaços, plantas e pessoas. É um convite a explorar o espaço e a vegetação de seis dos emblemáticos jardins de Lisboa: o Jardim Botânico da Ajuda, o Parque Botânico do Monteiro-Mor, o jardim da Estrela (Jardim Guerra Junqueiro), o Jardim Botânico de Lisboa, O jardim Botânico Tropical e a Estufa Fria. Um percurso pelos seus caminhos numa narrativa pessoal entrelaçada com a história do espaço e a identidade das plantas que neles existem. Paralelamente, pode ser usado como um pequeno manual de botânica geral, explicando de forma simples a diversidade de estruturas e pequenas curiosidades que as plantas encerram, desafiando a explorações para descobrir as espécies e os exemplares descritos, com a ajuda de fotografias. Ao passear pelos Jardins de Lisboa, autênticos tesouros de botânica e história, pode observar a mais velha Araucaria heterophylla de Portugal, sentir o toque aveludado das folhas da Kalanchoe beharensis enquanto olha o Tejo ou conhecer o brilho metálico das folhas do Strobilanthes dyerianus escondidas no coração da cidade. Arte Plural

 

Catarina Sobral

Greve

Um dia os pontos decidem fazer greve e o caos instala-se. Deixa de haver pontos finais, desaparecem os pontos de encontro, os pontos de vista e os pontos cirúrgicos. Ninguém se entende e torna-se impossível fazer o ponto da situação. A nova edição em formato pequeno do extraordinário livro de estreia da escritora e ilustradora Catarina Sobral, Prémio Internacional de Ilustração da Feira do Livro de Bolonha 2014, Prémio Ilustrarte 2016, Prémio SPA autores 2013, faculta o acesso dos jovens leitores e das suas famílias a uma obra de absoluta referência no universo da literatura infanto-juvenil. Trata-se de uma obra que funciona exemplarmente em dois níveis distintos: é divertida e estimulante para os leitores acima dos oito anos e exigente do ponto de vista conceptual e gráfico para os leitores adultos. Aborda os temas da linguagem e da comunicação com pleno dom da ironia: numa época em que abundam as mais sofisticadas tecnologias de comunicação tudo colapsa por causa de um simples sinal de pontuação. O texto, brilhante, com amplo recurso ao subtexto (e ao metatexto,) surge acompanhando de ilustrações à base de inspiradas colagens que remetem para as técnicas do cubismo ou de certa estética pop de Richard Hamilton, entre outras. Catarina sobral revela-se, com esta obra magnífica, uma autora completa. É um ponto de honra recomendá-la. Orfeu Mini

Entre 1975 e 2016, ano em que cessou atividade, foi a casa do Teatro da Cornucópia, uma das mais relevantes companhias de teatro independente do país. Fechado desde então, 2019 promete assinalar uma nova vida para o Teatro do Bairro Alto (TBA), não propriamente situada no animado bairro que lhe dá nome, mas ali a dois passos, numa rua paralela à da Escola Politécnica.

Sob direção do antigo programador de artes performativas da Culturgest, Francisco Frazão, a sala da Rua Tenente Cascais pretende afirmar-se como espaço dedicado à reflexão, criação e apresentação de projetos artísticos experimentais. Enquanto não abre portas ao público, o “novo” teatro municipal espalha-se pela zona envolvente, entre o Centro Jean Monnet e o Teatro da Politécnica, passando pela Reitoria da Universidade Aberta e pelo vizinho CAB, com Quase.

Este programa especial, compreendido entre 14 de junho e 7 de julho, é uma quase antecipação daquilo que será o renovado TBA: “nada será propriamente teatro, mas formas íntimas e invulgares que pensam e transformam o que as rodeia.”

 

Herman Melville apaixonado pelas histórias de marinheiros e do mar, às quais acrescenta uma dimensão metafísica e alegórica, fascinado pelo tema do mal e pelos aspectos mais sombrios da natureza humana. Jorge Luís Borges comparou as suas duas obras mais famosas, o monumental romance Moby Dick e o conto Bartleby, o Escrivão, encontrando “semelhanças na loucura dos dois protagonistas e na incrível circunstância de uma tal loucura contagiar todos os que os rodeiam”.

O poeta visionário Walt Whitman, através do seu idealismo democrático e do seu forte individualismo, ajudou a cunhar a identidade moderna dos Estados Unidos da América (EUA). A sua obra-prima em verso livre, Folhas de Erva, foi publicada em 1855 e continuamente ampliada até 1891. Pouco apreciado pelos seus contemporâneos, que consideravam as suas alusões ao corpo masculino e a dimensão sensual da sua poesia inapropriada, veio a exercer grande influencia nas novas gerações de poetas. Escreveu nas Folhas de Erva: “Na cabine dos navios em pleno mar” (…) “entre marinheiros jovens e velhos serei eu, uma reminiscência da terra, lido, /em plena harmonia, afinal”.

Uma série de eventos promovidos pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa celebram o bicentenário do nascimento dos dois vultos maiores da Literatura dos EUA. Uma exposição na Biblioteca Nacional (31 de maio a 30 de agosto), contará na abertura com uma tertúlia com académicos, poetas e público em geral, assim como um concerto de canções spoken word com projecção de vídeo no âmbito de uma colaboração entre Bernardo Palmeirim, membro da banda NOZ, e jovens músicos ligados à Faculdade de Letras da ULisboa.

Um congresso internacional na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (3 a 5 de julho) explorará a estética associada aos oceanos assim como as dinâmicas literárias transnacionais que Melville, Whitman e vários escritores de ambos os lados do Atlântico forjaram, reunindo especialistas de todo o mundo, nomeadamente Dana Luciano (Rutgers University) e Mary Bercaw Edwards (University of Connecticut).

Por fim, o ciclo de cinema intitulado Melville and Whitman on the Screen decorrerá na Cinemateca Portuguesa de 1 a 15 julho. Recorde-se que entre as adaptações à sétima arte de obras de Melville se contam Moby Dick (1956), de John Huston, com Gregory Peck e Orson Welles, Billy Bud (1962), de e com Peter Ustinov, e As Ilhas Encantadas (1965), de Carlos Villardebó, que deu a Amália Rodrigues o seu mais intenso papel dramático no cinema.

Com as celebrações, pretende-se dar visibilidade à obra dos dois autores, colocar em destaque a relação atlântica EUA-Europa, bem como explorar o tema do mar nos estudos intercultuais e nas humanidades ambientais.

Algumas publicações

A Relógio D’Água editou, em 2005, Moby Dick com tradução de Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves. O capitão Ahab impõe à sua tripulação a concretização do seu maior desejo: destruir a grande baleia branca. Para Ahab, o monstro que destruiu o seu corpo não é uma criatura, mas sim o símbolo de algo desconhecido que precisa dominar.

A E-Primatur editou, este ano, a ficção curta completa de Herman Melville. Numa tradução de Virgílio Tenreiro Viseu, o volume inclui contos tão famosos como Billy Budd, Marinheiro, Benito Cereno ou As Encantadas ou Ilhas Encantadas.

Com chancela da Relógio D’Água, Folhas de Erva foi publicada numa tradução de Maria de Lourdes Guimarães distinguida com o Grande Prémio Internacioanl de Tradução Literária 2002. Whitman reescreveu incessantemente a sua obra-prima, assumindo sempre que “os cantos mais belos e profundos ainda estão à espera de ser cantados.”

A editora Guerra & Paz publicou em 2017 Canto de Mim Mesmo conjuntamente com Saudação a Walt Whitman de Fernando Pessoa, poeta que, segundo Harold Bloom , era o maior herdeiro português de Whitman. A edição inclui uma apresentação de Jerónimo Pizarro.

Dos subterrâneos às movimentadas ruas de um qualquer bairro da cidade, lisboetas de hoje, residentes ou em trânsito, turistas de trolley ou ocasionais visitantes, todos vivem um dia buliçoso nesta nossa Lisboa. E nada, nem ninguém falta à chamada no novo espetáculo do Teatro Meridional.

Ainda o dia não raiou e já as senhoras da limpeza chegam à cidade, vindas dos bairros periféricos; um grupo de jovens amarga a ressaca de uma noite de copos; uma ou outra pessoa surge em passo acelerado para chegar ao emprego; um homem passeia o cão e uma jovem faz jogging para manter a silhueta escultural…

Chega um turista, e depois outro… e outros, muitos outros. Encantam-se e tudo fotografam, e partilham nas redes sociais. Lisboa está mesmo na moda, e até as tascas deixaram de ser tascas para se transformarem em restaurantes gourmet com assinatura de chef

Que entrem os turistas, que a cidade mudou de vez. Que o diga a senhora que mora só, ou aquela que espera infinitamente pelo autocarro. E lá vêm as trotinetes, e até políticos a prometerem quimeras enquanto os vizinhos do lado deixam a casa onde viviam porque esta Lisboa é cada vez menos para quem cá mora…

Sucedem-se os personagens: o polícia e um vendedor ambulante; um fiscal de estacionamento; um ambicioso vendedor de imóveis que, se puder, até vende o miradouro de onde os apaixonados contemplam o Tejo. E lá está o investidor chinês a trazer capital estrangeiro à capital que outrora foi do império. Menos glamorosos, o pedinte e a romena com um filho ao colo; ou o artista de rua que tenta seduzir turistas na esplanada; ou o cantoneiro que faz os possíveis para manter a rua limpa, muito embora sem sucesso; ou as pessoas comuns dos bairros, últimos resistentes (até quando?) do fenómeno de gentrificação…

Todos são protagonistas nestas Histórias de Lx que desfilam aos nossos olhos como tiras de banda desenhada, sucedendo-se a um ritmo frenético. Personagens que contam as suas pequenas histórias quotidianas através de movimentos coreográficos que dispensam, quase sempre, as palavras.

Quase todas mostram como é fácil amar Lisboa, com aqueles seus contrastes entre o tradicional e o moderno, com a sua diversidade pincelando as ruas de cores e de cheiros de cá e de todo o mundo. Mas, estas Histórias de Lx comportam também o drama daqueles que sentem o seu amor não correspondido. São muitos a experenciar uma cidade que não os quer por cá. Nem nos restaurantes, nem nos miradouros e nas ruas estreitas dos bairros típicos, nem mesmo nas casas onde nasceram, cresceram, viveram e, num mundo mais justo, teriam o direito de morrer.

O aparente olhar festivo, que o desfile incessante de personagens parece evidenciar, vai sendo imbuído de melancolia e inquietação. Sem comprometer o tom poético que é timbre das criações do Meridional, as mensagens ganham formas mais explícitas. Por isso, perguntámos à encenadora Natália Luiza se este é um espetáculo político. “É um espetáculo onde assumimos um posicionamento, um comprometimento com a cidade através do teatro”. Nada mais premente, ainda mais, no mês em que Lisboa se festeja nas ruas.

Inserido no programa de comemorações dos 125 anos do Teatro Municipal São Luiz, Histórias de Lx está em cena de 5 a 16 de junho, na Sala Luís Miguel Cintra.

A história d’O Convidador de Pirilampos “começou por ser contada pela mãe Renata [ex-companheira de Ondjaki] ao filho Lino, depois passou pelas mãos de um escritor e de um desenhador, transformando-se num livro. Passou então para palco pela mão de dois desenhadores [para além de António Jorge Gonçalves, Paula Delecave], uma atriz e um músico, e vai ser também um audiolivro”. Quando recebeu o manuscrito de Ondjaki, Gonçalves não soube bem o que fazer, porque “as boas ideias às vezes são assim, não sabemos o que fazer com elas. Levou um bocadinho de tempo, mas um ano e meio depois o livro avançou e aí percebi que a história tinha pernas para andar”.

Desde o início, percebeu que o som tinha um peso importante: “há uma música no mundo, nas coisas, em nós. Sabia que ia querer trabalhar esta filigrana de voz com um instrumentista. Quando encontrei o clarinete do Zé e a voz da Cláudia percebi que tinha encontrado o par perfeito”. José Conde assume um papel fulcral com o seu clarinete, cujas notas soam sempre nas alturas certas, a dar o mote à narradora de serviço: Cláudia Semedo. A atriz, para quem o universo de Ondjaki não é novo (já tinha participado na peça A Bicicleta tinha Bigodes), supera todas as expectativas, dando ênfase às personagens sem as encarnar totalmente e sem perder a dimensão da história. Esse foi, para Cláudia, o grande desafio, “encontrar o rumo certo entre o storytelling e a representação”.

Nesta conversa a quatro (em que o uso da palavra é quase um monólogo), todos têm a mesma importância, como explica Gonçalves: “o quarteto tem de estar engrenado, porque se um descarrilha os outros vão atrás. A forma como a peça foi montada é um bocadinho um trabalho de relojoeiro”. E como é trabalhar com o público infantil? O universo dos mais novos encanta Cláudia, a quem o lado de “improviso e de trabalhar a verdade e o genuíno” interessa muito. “Os miúdos não têm filtros, são um público extremamente reativo e eu gosto muito disso”, diz a atriz.

Outro lado cativante de trabalhar com os mais pequenos é, diz, “as ligações que fazem e que nós, adultos, já não nos permitimos fazer devido à lógica e à razão”. Opinião semelhante tem o desenhador: “o público adulto vem com uma expectativa, pagou bilhete, cobra desde o primeiro momento o que vai acontecer. As crianças não sabem ao que vêm, para elas não é significativo se as pessoas que estão no palco são ou não conhecidas. Estão muito abertas e são muito espontâneas no seu julgamento. Os momentos mais gratificantes são no final dos espetáculos quando conversamos com elas. Aí sinto que estou a fazer alguma coisa que efetivamente faz a diferença”.

O Convidador de Pirilampos é uma peça que começou na imaginação de uma mãe e que ganhou vida própria. Há muitas formas de contar histórias, mas “uma coisa é contarmos uma história aos nossos filhos, à noite, na cama, e outra é estar numa sala de teatro perante dezenas de crianças. Isso é algo que me fascina muito: encontrar formas diferentes de poder contar uma história”, remata António Jorge Gonçalves. A peça está em cena no São Luiz Teatro Municipal, de 4 a 9 de junho.

Miguel Real

As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia

O romance As Memórias Secretas da Rainha D. Amélia divide-se em duas partes inteiramente distintas. A primeira, num estilo próximo da sátira, na qual o próprio autor se ficciona, narra as circunstâncias do aparecimento do suposto manuscrito da última rainha de Portugal. A segunda parte, reproduz o texto integral das memórias. Com um engenho estrutural algo insólito, este romance histórico constitui um impressivo olhar sobre o Portugal finissecular de oitocentos até aos anos 50 do século XX, visto sob a perspetiva de Amélia de Orleães, a rainha que pisou o solo português “com o pé esquerdo”, “crente que podia mudar o destino deste povo atarracado, que desprezava a água pela manha, jogava o leite aos porcos e sorvia sopas -de-cavalo-cansado, fugia dos médicos e depunha a sua saúde nas mãos de bruxas velhas e endireitas, cumprindo infindáveis promessas a Nossa Senhora da Saúde”. Sob a pena de Miguel Real, D. Amélia revela-se uma fina observadora do Portugal que conheceu, severa para com as suas instituições e elites, mas sempre compassiva para com as agruras do seu povo.

Dom Quixote

 

Herman Melville

Ficção Curta Completa

Bartleby é um escrivão de Wall Street, ao serviço de um escritório de advogados, que se recusa a prestar qualquer tipo de trabalho com uma espécie de demente obstinação. O advogado e os outros escrivães aceitam com surpreendente passividade a decisão de Bartleby. Jorge Luís Borges compara o romance Moby Dick, também da autoria de Herman Melville, com este conto, encontrando “semelhanças na loucura dos dois protagonistas e na incrível circunstância de uma tal loucura contagiar todos os que os rodeiam”. Bartleby, o Escrivão é um dos 21 textos inseridos neste volume que reúne, pela primeira vez em língua portuguesa, a totalidade da ficção curta de Melville e inclui outras narrativas célebres como Billy Budd, Benito Cereno ou As Encantadas ou Ilhas Encantadas. Recolha essencial para ficar a conhecer melhor a obra do grande escritor apaixonado pelas histórias de marinheiros e do mar, às quais acrescenta uma dimensão metafísica e alegórica, fascinado pelo tema do mal e pelos aspectos mais sombrios da natureza humana.

E-Primatur

 

Kobayashi Issa

Os Animais

O haiku é formalmente, um poema japonês de três versos composto de um total de dezassete silabas (5-7-5). Este terceto é normalmente um veiculo poético transportador de duas imagens contrastantes entre si. Conciso e poderoso, evocativo e imagético, o haiku foca-se na natureza que serve de espelho ao mundo interior do poeta, estabelecendo um jogo de reflexos entre estados de alma e observações sensíveis. No Ocidente o haiku tem sido quase sempre entendido em função da sua espiritualidade ligada ao budismo zen. Roland Barthes considerou-o como o ramo literário da aventura espiritual do zen. Porém, o filósofo coreano Byung-Chul Han salienta que “o haiku é mais um jogo que diverte do que uma aventura espiritual ou linguística”. Estas duas vertentes estão bem patentes nos haikus de Kobayashi Issa (1763-1828), que compõem esta selecção inteiramente dedicada ao tema dos animais. Na realidade, no âmbito do motivo que unifica esta recolha, é possível encontrar poemas para cada momento da existência humana, da dor à alegria, da solidão à partilha, do nascimento ao momento da morte.

Assírio & Alvim

 

Gonçalo M. Tavares

Na América, Disse Jonathan

Escrito por Franz Kafka em 1910 e publicado em 1927, Amerika é um lugar encenado na literatura, uma recriação simbólica do mundo pela imaginação, um país ao mesmo tempo imaginário e real. Mais de um século depois, Gonçalo M. Tavares empreende o projecto Kafka, uma viagem à América acompanhado de uma fotografia do escritor. Poderá a presença fantasma de Kafka alterar a paisagem? Jonathan é o seu interlocutor e enigmático parceiro de viagem que leva o autor a questionar se ele “existe mesmo ou se simplesmente vim sozinho aos Estados Unidos com o retrato de Kafka”. O trajeto, de Venice Beach, ao Grand Canyon, do deserto do Arizona aos Everglades, das florestas do Moro Rock Trail ao Cape Canaveral, dá corpo a este diário-ficção. Mas a viagem insinua-se também pelo interior de um estilo de vida: o jogo em Las Vegas, o cinema, a publicidade, a propaganda, o consumo, a tecnologia, a religião e a ciência. E a imagem de Kafka feita presença, introdutora de estranheza e de questionamento. Porquê? “Uma pergunta que é de certa maneira uma acusação”.

Relógio D’Água

 

Robert Butler e Andy Mumford

Além Lisboa

A história geológica de Lisboa é talvez o seu segredo melhor guardado. Algumas das maravilhas naturais desvendadas neste livro, de cascatas a grutas, de picos a pegadas de dinossauro, são quase desconhecidas e consequentemente, muito pouco frequentadas. A cerca de uma hora de automóvel da capital os percursos sugeridos proporcionam uma oportunidade de escapar ao bulício da cidade numa jornada de aventura para todos os amentes da natureza. Além Lisboa apresenta 19 percursos pedestres, acessíveis até para caminhantes pouco experientes, nas áreas a Oeste e a Sul de Lisboa. Com mapas detalhados (e disponíveis para download) e indicações práticas sobre como chegar e locais de interesse próximos a visitar em cada local, cada passeio indica ainda pontos de interesse histórico e geológico na belíssima paisagem acessível a quem quiser, neste verão, caminhar um pouco mais para além de Lisboa.

Arte Plural

 

Lídia Jorge

Livro das Tréguas

Ficcionista com uma carreira invulgar, reconhecida em Portugal e no estrangeiro, Lídia Jorge tem vindo a escrever poesia desde há muito tempo, porém não tinha publicado qualquer livro até ao presente. Desse vasto conjunto, a escritora seleccionou 50 poemas, os quais agrupou nas cinco partes em que se divide este O Livro das Tréguas: Com a Origem, Com os Preceitos, Com os Factos, Com as Fábulas, Com o Tempo. Escritos em datas diferentes, e em resultado de diferentes estados de espírito, foram aqui reunidos com uma unidade cronológica que corresponde, no dizer da própria Lídia Jorge, a uma espécie de autobiografia consentida. Do universo puro da infância ( “Veneno não havia. O grande perigo passava voando / por cima das nossas cabeças e nós não o pressentíamos. / Nunca, no nosso paraíso, encontrámos Adão ou Eva.”) à tomada de consciência da condição humana (“Mas a fome chega pela manhã / e de novo vamos à caça”), da guerra e da finitude (“Quando eu decido, ninguém morre”).

Dom Quixote

 

Maurice Sandoz

Recordações Fantásticas e Três Histórias Singulares

Cientista, compositor e nome cimeiro da literatura fantástica suíça, Maurice Sandoz foi uma das mais fascinantes figuras dos meios culturais europeus de meados do século XX. A sua escrita navega os territórios sombrios da alma humana, sempre na vertigem entre a demência e a ciência. A recreação do universo imagético destas suas histórias, uma colecção de contos fantásticos com uma leve aura de surreal, ficou a cargo de Salvador Dali, que desenhou as ilustrações especificamente para esta obra. Este é o volume escolhido para iniciar a segunda “encarnação” da Colecção Livro B precisamente para trazer novamente aos leitores de língua portuguesa o cunho do surrealismo europeu que a marcou transversalmente. A pintora Leonora Carrington acusou a recepção deste livro, ao autor, da seguinte forma: “Meu amigo, recebi a sua nova colecção de pesadelos que teve a amabilidade de enviar. Habitualmente não durmo bem, mas agora não durmo porque não quero.”

Livro B

 

João Pedro Mésseder

O Aquário

Num grande aquário, pousado numa mesa comprida ao canto de uma sala, vivem cinco peixes. Mas, tal como no mundo dos humanos, também naquele mundo subaquático há problemas. Ali, as diferenças de cor, tamanho e idade geram preconceitos e ideias falsas, que levam a situações tristes e desconfortáveis. Com ilustrações de Célia Fernandes, esta história de peixes promete mostrar que, apesar de diferentes, somos todos iguais. João Pedro Mésseder tem publicado poesia e obras para crianças, algumas delas premiadas. Um dos seus livros infantis foi nomeado, em 1999, para a Lista de Honra do IBBY de 2000.

Caminho
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